O uso ininterrupto de AAS é indicado para prevenção secundária de Acidente Vascular Cerebral Isquêmico e Infarto Agudo do Miocárdio? Qual a dosagem ideal e o que deve ser avaliado?

| 19 junho 2019 | ID: sofs-41720
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: , ,

Sim, o uso ininterrupto de Ácido Acetil Salicílico (AAS) está indicado na prevenção secundária de Acidente Vascular Cerebral Isquêmico (AVCi) e Infarto Agudo do Miocardio (IAM)(1, 2,3,4). As pessoas que tomam AAS na prevenção secundária de eventos cardiovasculares, por dois ou mais anos de terapia diária, sofrem menos de IAM, AVCi e morte, de acordo com recentes meta estudos(2,3,4,5).

A eficaz ação antitrombolítica do AAS é acompanhada de uma preocupação com o potencial hemorrágico. Diferentes dosagens têm sido adotadas, variando entre 20 a 1300mg, em meta-análises de prevenção de AVCi. A maioria dos estudos evidencia que doses entre 75 e 150mg/dia de AAS são tão eficazes quanto doses mais altas de 150mg a 325mg(2). Além disso, mesmo para doses muito baixas, entre 30mg(6) a 50mg/dia(7), há estudos que afirmam que o AAS pode ser eficaz(1). O uso de baixa dose apoia-se em observações laboratoriais que evidenciam que 30mg/dia de AAS atua na inibição completa da produção de tromboxano A2(8). Considerando a equivalência dos benefícios em diferentes dosagens de AAS para a prevenção do AVCi e o aumento do risco de complicações hemorrágicas gastrointestinais em dose alta de AAS, a recomendação recente, baseada em estudos de meta-análise, é uma dose de 50 a 100 mg/dia de AAS para a prevenção secundária de AVC(1). Esta recomendação é aproximada à dose de 100mg/dia recomenda nas diretrizes brasileiras(10).


O AAS, antiagregante plaquetário, inibe a enzima ciclooxigenase, reduzindo a produção de tromboxano A2, um estimulador da agregação plaquetária. Isso interfere com a formação de trombos, reduzindo assim o risco de IAM e AVCi(1).

Ressalta-se que o uso do AAS é contraindicado em seguintes situações de: hipersensibilidade conhecida ao AAS ou outros salicilatos, história de asma induzida pela administração de salicilatos ou substância com ação similar, úlcera gastrointestinais agudas, diátese hemorrágica, discrasia sanguínea, insuficiência renal grave, insuficiência hepática grave, insuficiência cardíaca grave, no último trimestre de gravidez(1). Também, recomenda-se usar com cuidado nos casos de: pólipos nasais e outras doenças alérgicas, hipertensão não controlada, desidratação, deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase e consumo exagerado de álcool, insuficiência renal, cirurgias (suspender o uso 1 a 2 semanas antes do procedimento para reduzir o risco de sangramento excessivo), uso de bebida alcoólica (risco de sangramento gastrintestinal), ocorrência de zumbidos ou perda de acuidade auditiva (suspender o uso), idosos (mais susceptíveis aos efeitos tóxicos dos salicilatos), tabagismo, diabetes, obesidade, dor abdominal(1).

O clopidogrel 75 mg/dia é uma opção para pacientes que não podem usar AAS. O Ticlopidine deve ser usado apenas para pacientes com contraindicação absoluta à aspirina e ao clopidogrel(1,11).

Bibliografia Selecionada:

1. Cucchiara BL, Messé SR. Antiplatelet therapy for secondary prevention of stroke. UpToDate [database]. jan. 2019 Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/antiplatelet-therapy-for-secondary-prevention-of-stroke

2. Antithrombotic Trialists’ Collaboration. Collaborative meta-analysis of randomised trials of antiplatelet therapy for prevention of death, myocardial infarction, and stroke in high risk patients. BMJ 2002; 324(7330):141. Disponível em: http://www.bmj.com/cgi/pmidlookup?view=long&pmid=11786451

3. Antithrombotic Trialists’ (ATT) Collaboration, Baigent C, Blackwell L, Collins R, Emberson J, Godwin J, Peto R, Buring J, Hennekens C, Kearney P, Meade T, Patrono C, Roncaglioni MC, Zanchetti A. Aspirin in the primary and secondary prevention of vascular disease: collaborative meta-analysis of individual participant data from randomised trials. Lancet. 2009 May 30;373(9678):1849-60. Disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0140-6736(09)60503-1

4. Rothwell PM, Algra A, Chen Z, Diener HC, Norrving B, Mehta Z. Effects of aspirin on risk and severity of early recurrent stroke after transient ischaemic  attack and ischaemic stroke: time-course analysis of randomised trials. Lancet. 2016 Jul 23;388(10042):365-375. Disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0140-6736(16)30468-8

5. Newman, D.H.  Aspirin to Prevent Cardiovascular Disease in Patients with Known Heart Disease or Strokes. The NNT. 2011. Disponível em: http://www.thennt.com/nnt/aspirin-for-cardiovascular-prevention-after-prior-heart-attack-or-stroke/

6. Dutch TIA Trial Study Group, van Gijn J, Algra A, Kappelle J, Koudstaal PJ, van Latum A. A comparison of two doses of aspirin (30 mg vs. 283 mg a day) in patients after a transient ischemic attack or minor ischemic stroke. N Engl J Med. 1991 Oct 31;325(18):1261-6. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJM199110313251801

7. Forbes CD. European stroke prevention study 2: dipyridamole and acetylsalicylic acid in the secondary prevention of stroke. Int J Clin Pract. 1997 Jun;51(4):205-8. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9287258

8. Patrono C, García Rodríguez LA, Landolfi R, Baigent C. Low-dose aspirin for the prevention of atherothrombosis. N Engl J Med. 2005 Dec 1;353(22):2373-83. Disponível: https://pdfs.semanticscholar.org/6140/5a5e9f1accceb026185e98b6a96798bd6f4a.pdf

9. Ansara AJ, Nisly SA, Arif SA, Koehler JM, Nordmeyer ST. Aspirin dosing for the prevention and treatment of ischemic stroke: an indication-specific review of the literature. Ann Pharmacother. 2010 May;44(5):851-62. Disponível em: https://doi.org/10.1345/aph.1M346

10. Piegas LS, Timerman A, Feitosa GS, Nicolau JC, Mattos LAP, Andrade MD et al . V Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Tratamento do Infarto Agudo do Miocárdio com Supradesnível do Segmento ST. Arq. Bras. Cardiol.  [Internet]. 2015  Ago [citado  2019  Jun  19] ;  105( 2 Suppl 1 ): 1-121. Disponível em: http://publicacoes.cardiol.br/2014/diretrizes/2015/02_TRATAMENTO%20DO%20IAM%20COM%20SUPRADESNIVEL%20DO%20SEGMENTO%20ST.pdf

11. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: hipertensão arterial sistêmica. Brasília: Ministério da Saúde. (Cadernos de Atenção Básica, n. 37). 2013:128p. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/caderno_37.pdf