O uso de estatinas está associado a um aumento na ocorrência de diabetes(1,2,3) (OR 1,09; IC 95% (1,02a 1,17)(4), especialmente em obesos, mulheres, idosos, descendentes de asiáticos, síndrome metabólica(5), glicemia alta em jejum e com hemoglobina glicada alta (HbA1c > 6%). Em metanálise observou-se maior risco entre os doentes tratados com estatinas em dose mais elevadas (OR 1,12; IC 95% (1,04-1,22)(4) comparadas a dose mais baixas. Entre as sinvastatinas, as lipofílicas apresentam maior risco de diabetes: sinvastatina (OR 1,14; IC 95%, 1,09-1,20) e atorvastatina (OR 1,22; IC 95%, 1,12- 1,32). É uma observação recente pautada em estudos observacionais epidemiológicos de base populacional e metanálises de estudos clínicos de prevenção de doenças cardiovasculares(2,3,4). É possível que o risco de diabetes em indivíduos em uso de estatina tenha sido subestimado em estudos anteriores(2).
A causa do aumento do risco do diabetes tipo 2 em pacientes em uso de estatina não está totalmente elucidada. Entretanto, há vários mecanismos fisiopatológicos decorrente do uso das estatinas que podem explicar o aumento da resistência à insulina e à diminuição da secreção de insulina(5,6,7), tais como: a alteração do tamanho das partículas de lipoproteínas, inibição da enzima da via do mevalonato, a HMG-CoA redutase, redução da expressão de transportador de glicose 4 (GLUT 4), redução dos níveis de adiponectina e ubiquinona, entre outros(5).
Quanto à escolha da droga, se indicada, a sinvastatina permanece como primeira na maioria dos casos. Porém, para pacientes com DM2 ou com risco aumentado de desenvolvê-la, a recomendação recente é a pitavastatina por ser menos diabetogênica quando comparada à sinvastatina, atorvastatina e rosuvastatina(2,8). Tal recomendação considera a equivalência dos benefícios em diferentes tipos de estatinas, os fatores de risco cardiovascular e o efeito diabetogênico. A efetividade e outros riscos, estimados via NNT e NND, devem ser sempre considerados. Recomenda-se o monitoramento da glicose plasmática ou HbA1c nos pacientes medicados.
Pacientes com risco cardíaco intermediários e alto(3), mesmo em casos propensos a desenvolver diabetes devem ter o uso continuado mantido e avaliada a necessidade de substituição do tipo de estatina. Para esse grupo, como persiste o benefício da redução de risco cardiovascular, não se justifica mudar a decisão de iniciar o tratamento com estatinas(2,4). Sugerimos a leitura do uso de estatinas na prevenção primária e secundária de doenças cardiovasculares em outras Sof relacionadas a este tema(9).
Ressalta-se que a suspensão da estatina deve ocorrer se houver aumento progressivo dos níveis basais de creatinofosfoquinase (CPK ou CK), aumento da CK acima de 10 vezes o limite superior de normalidade (LSN) ou persistência de qualquer dor, sensibilidade ou fraqueza muscular inexplicada, sinais de hepatoxicidade (icterícia, hepatomegalia, aumento de bilirrubina direta e do tempo de protrombina)(9).
1. Silva, SP. Uso de estatinas e o risco de Diabetes Mellitus tipo 2: Revisão Baseada na Evidência. Rev Bras Med Fam Comunidade. 2016; 11(38):1-8. Disponível em: https://www.rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/1178
2. Laakso M, Muusisto J. Diabetes Secondary to Treatment with Statins. Curr Diab Resp. 2017 Feb;17(2):10. Disponível em: https://dx.doi.org/10.1007/s11892-017-0837-8
3. Crandall JP, Mather K, Rajpathak SN, Goldberg RB, Watson K, Foo S, Ratner R, Barrett-Connor E, Temprosa M. Statin use and risk of developing diabetes: results from the Diabetes Prevention Program. BMJ Open Diabetes Res Care. 2017 Oct 10;5(1):e000438. Disponível em: https://drc.bmj.com/content/5/1/e000438
4. Bernardi A, Rocha VZ, Faria-Neto JR. Use of statins and the incidence of type 2 diabetes mellitus. Rev Assoc Med Bras. [Internet]. 2015;61(4): 375-380. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-42302015000400375&lng=en
5. Jonnalagadda VG, Choudhary K, Matety VK. Statins and new onset of diabetes: which one outweighs risk or benefit? Postgrad Med. 2018 Jan;130(1):146. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.1080/00325481.2018.1396875
6. Chrysant SG. New onset diabetes mellitus induced by statins: current evidence. Postgrad Med. 2017 May;129(4):430-435. Disponível em: http://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/00325481.2017.1292107
7. Climent E, Benaiges D, Pedro-Botet J. Statin treatment and increased diabetes risk. Possible mechanisms. Clin Investig Arterioscler. 2019 Feb 5. pii:S0214-9168(19)30001-4. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0214916819300014
8. Tarruella JR, Núnez-Cortés JM, Botet JP, Sala XP. La diabetogenicidad de las estatinas: ¿son todas iguales? Clin Investig Arterioscler. 2015. Disponível em: http://es.ereprints.elsevier.cc/system/files/articles/assets/S0214916815000078/417/cia_-_rius.pdf
9. Núcleo de Telessaúde Rio Grande do Sul. Segunda Opinião Formativa SOF. BVS APS, 08 ago 2013 Há diferença entre doses (alta vs baixa) de estatina para prevenção primária de doenças cardiovasculares e para prevenção secundária? Quais as doses estudadas e recomendadas?. ID: sof-5504. Disponível em: http://aps.bvs.br/aps/ha-diferencas-entre-doses-alta-vs-baixa-de-estatinas-para-prevencao-primaria-de-doencas-cardiovasculares-e-para-prevencao-secundaria-quais-as-doses-estudadas-e-recomendadas/