Torna-se importante considerar a necessidade de incorporação de estratégias ou condutas terapêuticas que deem suporte psicológico, por meio de abordagens interdisciplinares, que atenda as reais necessidades do hiperutilizador, favorecendo processos de humanização no serviço e reforço em educação em saúde para promoção do autocuidado desse usuário(8,9).
A identificação e caracterização dos pacientes hiperutilizadores é necessária em qualquer serviço de Atenção Primária à Saúde (APS), visto que um dos seus princípios é a resolutividade. Eles devem ter o diagnóstico revisto ou, pelo menos, reavaliado o manejo proposto à sua condição de saúde, uma vez que recorrem frequentemente ao serviço assistencial. Estudos do perfil desses pacientes podem auxiliar no desenvolvimento de abordagens mais resolutivas às demandas desses usuários(1,2).
Os pacientes hiperutilizadores dos serviços (heartsink patients), tidos como um tipo de paciente difícil, são os que visitam repetidamente os serviços com sintomas múltiplos, não-específicos, muitas vezes com queixas impossíveis de tratar(3). Pacientes difíceis associam-se a traços como: distúrbios de saúde mental, múltiplos sintomas, dor crônica, expectativas não-atendidas, insatisfação persistente com a assistência recebida, hiperutilização dos serviços de saúde(4,5).
Entre os hiperutilizadores dos serviços da APS uma maior prevalência deles (50% ou mais) possui transtornos mentais. Dentre esses, até 40% pode apresentar quadro depressivo atual. Sintomas de outras doenças que se assemelham aos de depressão ou quadro depressivo não-clássico, somente com alterações somáticas, são dificuldades encontradas no reconhecimento desse transtorno mental entre hiperutilizadores(6,7,1).
1. Carvalho IP do A, Carvalho CGX, Lopes JMC. Prevalência de hiperutilizadores de serviços de saúde com histórico positivo para depressão em Atenção Primária à Saúde. Rev Bras Med Fam Comunidade [Internet]. 2015;10(34):1-7. Disponível em: https://rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/957
2. Simon GE, Manning WG, Katzelnick DJ, Pearson SD, Henk HJ, Helstad CS. Cost-effectiveness of systematic depression treatment for high utilizers of general medical care. Arch Gen Psychiatry. 2001 Feb;58(2):181-7. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1001/archpsyc.58.2.181
3. Elder N, Ricer R, Tobias B. How respected family physicians manage difficult patient encounters. J Am Board Fam Med. 2006 Nov-Dec;19(6):533-41. Disponível em: https://www.jabfm.org/content/19/6/533.long
4. Edgoose J. Rethinking the difficult patient encounter. Farm Pract Manag. 2012;19(4):17-20. Disponível em: https://www.aafp.org/fpm/2012/0700/p17.html
5. Zoboli ELCP, Santos DV, Schveitzer MC. Pacientes difíceis na atenção primária à saúde: entre o cuidado e o ordenamento. Interface (Botucatu) [Internet]. 2016;20(59):893-903. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/icse/v20n59/1807-5762-icse-1807-576220150500.pdf
6. Savageau JA, McLoughlin M, Ursan A, Bai Y, Collins M, Cashman SB. Characteristics of frequent attenders at a community health center. J Am Board Fam Med. 2006;19(3):265–75. Disponível em: http://dx.doi.org/10.3122/jabfm.19.3.265
7. Pearson SD, Katzelnick DJ, Simon GE, Manning WG, Helstad CP, Henk HJ. Depression among hith utilizers of medical care. J Gen Intern Med. 1999;14(8):461-468. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1496724/
8. Souza GM, Santos MS, Romão MN. Possibilidade de atuação do profissional de psicologia nas unidades básicas de saúde. Integración académica psicol. 2020; 8(22):71-84. Disponível em: http://www.integracion-academica.org/attachments/article/265/07%20Unidades%20de%20Salud%20GSouza%20MSales%20MNascimento.pdf
9. Castro LHA, Moreto FVC, Pereira TT. (Organizadores). Problemas e oportunidades da saúde brasileira 4. Ponta Grossa – PR: Atena, 2020. Disponível em: https://www.atenaeditora.com.br/post-artigo/42346