Muitos pacientes com membros amputados continuam a ter uma experiência sensorial vívida do membro ausente. A sensação da presença do membro ou do órgão após a sua extirpação, descrita por quase todos os indivíduos que sofreram amputação, caracteriza um distúrbio conhecido como síndrome ou sensação do membro fantasma (1,2). O paciente sente a presença do membro ausente e sente seus movimentos, embora isso não seja mais possível (1). Este é um quadro não doloroso e, geralmente não interfere nas atividades normais da vida diária (3).
Além da dor pós-operatória do coto (dor localizada na extremidade da amputação), um percentual significativo dos pacientes refere dor residual por muito tempo depois da cicatrização da amputação (3,4). Até 85% dos pacientes amputados queixam-se de dor do membro fantasma (ou simplesmente dor fantasma), definida como a sensação dolorosa referente ao membro perdido (3,4). Este quadro evidencia-se por dor aguda em pontada, ferroada ou picada na região correspondente à porção do membro que foi amputado (3). Outros sintomas são: dormência, queimação, câimbra, ilusão vívida do movimento do membro fantasma, ou até mesmo, apenas a sensação de sua existência (2). Além da dor relacionada diretamente com o local da amputação, muitos pacientes desenvolvem dores nas costas (dorsalgia) atribuída à inatividade e à alteração da biomecânica da marcha. Essas causas secundárias da dor podem interferir mais nas atividades da vida diária do que a dor do membro fantasma, ou a dor do coto (3).
A sensação de membro fantasma e a dor têm sido associados a impulsos nervosos provenientes da cicatriz de tecido nervoso no coto amputado. Em alguns casos, a remoção da cicatriz ou a secção dos nervos sensoriais logo acima dela pode aliviar a dor. No entanto, estudos de imagem do cérebro de pessoas que tiveram membros amputados sugerem que as sensações de membro fantasma sejam causadas por um rearranjo de circuitos no córtex cerebral. À medida que as fibras nervosas que se originavam do membro amputado definham, as fibras adjacentes expandem-se para ocupar o lugar que elas ocupavam (1).
As estratégias terapêuticas para pacientes amputados dependem do tipo de dor experimentada, e da avaliação do profissional assistente. A dor musculoesquelética é mais bem controlada com fisioterapia e analgésicos orais. Já para a dor do membro fantasma, embora existam poucos estudos que descrevam um tratamento bem-sucedido nestes casos, os antidepressivos e anticonvulsivantes são os fármacos orais mais comumente utilizados (2).
COMPLEMENTAÇÃO
A imagem corporal é construída de acordo com as percepções, ideias e emoções sobre o corpo e suas experiências, podendo ser, constantemente, mudada. Depois de uma amputação, o indivíduo sofre um grande impacto psicológico e vários distúrbios emocionais surgem na adaptação física e social, o que lhe faz enfrentar uma nova situação. Há uma tendência de se querer manter, inconscientemente, a integridade do corpo (2).
Assim, como o ser humano está acostumado a ter um corpo por completo, o membro fantasma acaba sendo a expressão de uma dificuldade de adaptação a um defeito súbito de uma parte periférica importante do corpo. Além desse fator, o córtex cerebral, que possui um mapa sensorial das partes do corpo, ainda possui uma área de representação da região amputada, o que dificulta que as sensações corporais provenientes daquela região sejam cessadas por completo (2); e é por isso que o paciente segue tendo sensações no membro amputado.
Apesar de não se saber ao certo a origem da sensação do membro fantasma, sabe-se que esta é baseada tanto em fatores psíquicos, como em fatores fisiológicos. Sabe-se também que ainda não existe um tratamento específico para tal fenômeno. Entretanto, existem terapias e medicamentos que são utilizados para a redução da dor, sem, contudo, terem se mostrado eficazes para a cura da dor fantasma e de suas sensações (2), como dito anteriormente.
Desse modo, como não existe, ainda, uma cura para o fenômeno das sensações fantasmas, é preciso orientar o paciente amputado sobre o quadro, fazendo-o compreender os fatores causais destas sensações e encorajando-o a adaptar-se à situação. Em caso de dor, deve-se tentar instituir a terapêutica clínica mais conveniente para o caso, a critério do médico assistente. O bom controle metabólico da doença de base é fundamental para prevenir novas complicações.
ATRIBUTOS APS
Quando se fala em amputação de membro, apesar de se tratar de um procedimento realizado pelos níveis de maior complexidade, sabe-se que este apresenta estreita relação com o nível da Atenção Básica (AB). Nesse contexto, as pessoas com amputações de membros serão atendidas e acompanhadas pelos profissionais da AB e direcionadas, se necessário, aos demais pontos de atenção (Coordenação dos Cuidados) (5).
É também de extrema importância o papel da AB no cuidado desses usuários em momento anterior ao procedimento cirúrgico. Os profissionais desse nível de atenção são responsáveis, por exemplo, por monitorar e oferecer cuidado a usuários que apresentam diagnóstico de doenças que podem ter como consequência a amputação de membros (por ex.: diabetes e hanseníase). Podem-se citar como ações a serem desempenhadas pela AB: o diagnóstico precoce; a oferta dos medicamentos necessários para o tratamento dessas doenças; a oferta de cuidado multiprofissional; o encaminhamento para os demais níveis de atenção; entre outros (5).
O papel da AB, porém, não se limita a ações de prevenção e de promoção. As pessoas que já realizaram a amputação também serão assistidas pelos profissionais da AB, que têm a função de oferecer o cuidado integral a esse usuário, que não deve ser considerado como uma pessoa amputada, apenas. Ela deve ser vista em sua integralidade, como um usuário que apresenta necessidades de cuidado e de assistência para além do cuidado específico decorrente da amputação (5).
Espera-se que o cuidado integral com a saúde da pessoa amputada tenha como resultado final a manutenção da sua saúde física e mental, bem como o desenvolvimento da sua autonomia e inclusão social (5).
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