Habitualmente, todo o estômago encontra-se abaixo do diafragma, na cavidade abdominal. A hérnia do hiato caracteriza-se pelo deslizamento de uma porção do estômago para o tórax, através do hiato do diafragma1. O tipo mais comum de hérnia hiatal é a hérnia por deslizamento e a forma menos comum é a hérnia paraesofágica2.
A hérnia de hiato pode ocorrer por fraqueza do diafragma, que permite a passagem de parte do estômago pelo hiato; por traumatismo torácico ou abdominal; ou, ainda, por pressão excessiva e mantida dos músculos adjacentes causada, por exemplo, por tosse, espirros, esforço defecatório ou levantamento de pesos1. Sua ocorrência é mais comum em pessoas idosas e portadoras de obesidade1.
Uma hérnia de hiato de pequenas dimensões habitualmente não resulta em sintomas. Em tamanhos maiores, pode causar alteração dos mecanismos de proteção contra a passagem do ácido gástrico para o esôfago, causando sintomatologia de doença de refluxo gastro-esófágico1. Uma hérnia de grandes dimensões pode, ainda, causar dificuldade na passagem dos alimentos (disfagia) e, nesse caso, devem ser feitas orientações adequadas à condição clínica do paciente1.
Apesar de não ser sinônimo de refluxo, a presença de hérnia hiatal aumenta o risco de sua ocorrência, independente da baixa pressão do esfíncter inferior do esôfago2,3. Pacientes com refluxo patológico têm falha de propulsão esofágica e/ou defeito mecânico da cárdia associado à hérnia hiatal (B)3. Nesses casos, o acompanhamento nutricional deve objetivar a redução dos sintomas. A terapia é similar àquela para Doença de Refluxo Gastroesofágico (DRGE) e esofagite, caracterizando-se, em geral, por: consumo de refeições menores, de baixo teor de gordura e evitando-se os alimentos e bebidas que podem aumentar as secreções gástricas ou reduzir a pressão do esfíncter esofágico inferior, como chocolate, cafeína, bebidas alcoólicas e alimentos picantes2,3. A cirurgia não é sempre indicada nos casos de hérnia hiatal, pois o controle dos sintomas através de medicações e mudança alimentar é geralmente preferido2.
Após ampla revisão em literatura realizada pela Federação Brasileira de Gastroenterologia et. al, foram descritas as seguintes evidências científicas a serem consideradas para o tratamento não farmacológico da DRGE4:
– O tabagismo é fator de risco para DRGE não erosiva (B) e para sintomas de refluxo (B);
– O consumo frequente de álcool é fator de risco para sintomas de refluxo (B);
– O consumo de café está associado à DRGE (B);
– Os episódios de DRGE são desencadeados pelo estresse e fadiga (B);
– Os episódios de DRGE são desencadeados pela postura, sendo que trabalhar em posição inclinada é fator de risco para DRGE não erosivo (B);
– A alimentação noturna, quanto mais tardia, produz maior índice de refluxo, principalmente em obesos e com DRGE erosiva (B). Pequeno espaço entre jantar e deitar está associado a aumento do risco de DRGE, sobretudo com tempo menor do que 3 horas (B);
– O consumo de doces e pão branco está associado a sintomas de refluxo (B);
– O consumo excessivo de alimentos e de doces está associado com DRGE (B).
– A obesidade predispõe ao refluxo gastroesofágico e a perda de peso produz melhora do refluxo pós-prandial e reduz o tempo de pH < 4 (B);
– A ingestão de proteínas está associada à DRGE erosiva, e de fibras, a menor risco de DRGE (B);
– O consumo de frutas tem efeito protetor nos sintomas de refluxo (B);
– A dieta rica em gordura não aumenta o número de episódios de refluxo, nem a exposição esofágica ácida (B), contrariando a indicação anteriormente colocada por outra literatura, o que pode indicar que não há consenso sobre essa questão;
– A elevação da cabeceira da cama (28 cm) reduz o número de episódios de refluxo e o tempo de pH < 5 (B);
– Atividade física parece ter efeito protetor com relação à DRGE (B).
Após a revisão realizada, os autores concluíram que, apesar do excesso de peso (IMC > 25), do tabagismo, do consumo de álcool, café, doces, proteínas, de excesso alimentar, de postura inclinada, do estresse e da fadiga estarem associados à DRGE, não há informação consistente definindo que a resolução desses fatores é seguida de resolução ou melhora da DRGE4. No entanto, a elevação da cabeceira da cama e a alimentação noturna seguidas do deitar-se mais tarde são medidas que reduzem a exposição ácida esofágica4.
O conhecimento das recomendações atuais para tratamento da DRGE deve subsidiar o trabalho das equipes de saúde no âmbito da Atenção Básica em relação ao acompanhamento de pessoas com hérnia hiatal, inclusive como mecanismo de incentivo à promoção de mudanças nos estilos de vida, observando-se necessidades e possibilidades de mudanças a fim de buscar a produção de um cuidado integral.