Qual a abordagem diante de uma criança que nasce com um dente?

| 22 fevereiro 2018 | ID: sofs-37397
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: , , ,

As opções de tratamento incluem a exodontia imediata do dente, o desgaste de sua borda incisal ou apenas o acompanhamento do caso, sendo a exodontia o protocolo mais comumente utilizado, principalmente nos casos de mobilidade severa.


Torna-se, fundamental o diagnóstico precoce da erupção prematura destes dentes, devendo, durante a anamnese, o Cirurgião-Dentista investigar sobre possível rejeição às mamadas por parte do bebê, perda de peso e a existência de feridas no seio materno. Em seguida, deve realizar um exame clínico para verificar o grau de mobilidade dos dentes e se há a presença de úlceras. Por fim, o exame radiográfico possibilitará ao dentista conhecer a série do referido dente, se da série normal (dente decíduo) ou se supranumerário, além da implantação radicular dos mesmos. Se for supranumerário, recomenda-se a extração; no caso de ser da série normal, deve-se proceder o desgaste das bordas incisais dos dentes com discos, tiras de lixa, ou brocas e aplicar verniz com flúor. No caso de persistirem os sintomas, deve-se extraí-lo, sempre orientando aos pais que o dente permanente sucessor só irá irromper por volta dos 6 anos de idade. No caso da presença de úlcera, recomenda-se a aplicação de Omcilon A Orabase® ou Ad-Muc®, meia hora antes das mamadas por 3-5 dias(5). A erupção dentária é um processo fisiológico normal, que se inicia por volta dos seis meses de vida, com a erupção dos incisivos centrais inferiores decíduos. Entretanto, periodicamente, são relatados casos nos quais recém-natos apresentam elementos dentários parcial ou completamente irrompidos. Assim, os dentes presentes na boca do bebê ao nascer são conhecidos como dentes natais, enquanto os que irrompem na cavidade oral da criança até o trigésimo dia de vida, são chamados de dentes neonatais. A incidência de dentes natais é maior que a de neonatais e, geralmente, ocorrem na região anterior da mandíbula. O gênero mais acometido por esse sintoma é o feminino(1). A etiologia é desconhecida, mas alguns fatores estão associados à erupção prematura. A hereditariedade é um deles; há também evidências da contribuição genética, que pode ser notada pela associação desses dentes com várias síndromes e anomalias, tais como Síndrome de Ellis van Creveld, Síndrome de Turner, Síndrome de Noonan e fissuras labiopalatinas, dentre outras. A maioria dos dentes natais apresenta a erupção precoce da dentição decídua normal, sendo apenas menos de 10% supranumerários(2,3).
Os dentes natais geralmente assemelham-se aos decíduos na forma e no tamanho, embora sejam menores, cônicos e amarelados, em razão da falta de maturação do esmalte, com desenvolvimento radicular deficiente ou ausente. Pela ausência de formação radicular, apresentam grande mobilidade, podendo causar dor e desconforto ao bebê durante a amamentação, além do desenvolvimento de uma úlcera traumática denominada Úlcera de Riga Fede, decorrente do atrito da porção ventral da língua com as bordas incisais afiadas dos dentes natais/neonatais. Essa hipermobilidade é motivo de preocupação pois a criança pode deglutir ou aspirar o dente(4).
Atributos da APS
Desta forma, torna-se essencial que durante as consultas do bebê ao pediatra, geralmente o primeiro profissional da área de saúde a ter contato com o recém-nato, que este realize o exame da cavidade oral, a fim de perceber possíveis alterações de normalidade, procedendo, o mais rápido possível, o encaminhamento ao Cirurgião-Dentista, enfatizando a importância da interdisciplinaridade na Atenção Primária à Saúde, visando a uma intervenção mais qualificada e eficaz.

Bibliografia Selecionada:

1. Moreira FCL, GONÇALVES IMF. Dentes natais e doença de Riga-Fede. RGO – Rev Gaúcha Odontol. 2010;58(2):257-61. Disponível em: http://revistargo.com.br/include/getdoc.php?id=4990&article=1137&mode=pdf
2. Romano AR, Azevedo MS, Hartwig AD, França-Pinto CC, Cenci MS. Natal and neonatal teeth: A report of three cases. Stomatos. 2015;21(40):4-11. Disponível em: http://www.periodicos.ulbra.br/index.php/stomatos/article/view/1767/1272
3. Sethi HS, Munjal D, Dhingra R, Malik NS, Sidhu GK. Natal tooth associated with fibrous hyperplasia – a rare case report. J Clin Diagn Res. 2015 Apr;9(4):ZD18-9. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4437172/pdf/jcdr-9-ZD18.pdf
4. Rao RS, Mathad SV. Natal teeth: Case report and review of literature. J Oral Maxillofac Pathol. 2009 Jan;13(1):41-6. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3162856/
5. Sevalho ML, Hanan SA, Alves Filho AO, Medina PO. Dentes natais – relato de caso clínico. ConScientiae Saúde. 2011;10(1):160-5. Disponível em: http://www4.uninove.br/ojs/index.php/saude/article/view/2522/1909