Essa revisão sistemática mostrou que as cinco classes de drogas estudadas produziram reduções similares nos níveis pressóricos e foram efetivas sobre todos os níveis pré-intervenção quando comparadas com o placebo. Isso reforça a idéia que a escolha da medicação anti-hipertensiva deve ser determinada por sua capacidade de prevenir desfechos mórbidos, pelas características epidemiológicas e clínicas dos pacientes, além da comodidade posológica e custo. Mostrou também que a utilização da metade da dose-padrão de cada classe farmacológica reduziu o poder anti-hipertensivo em torno de 20% em relação à dose-padrão usual, sendo que a prevalência de efeitos adversos foi significativamente menor.
Verificou-se também que a combinação de duas drogas foi aditiva e de maior eficácia anti-hipertensiva, e que os efeitos adversos relacionados a cada droga não se potencializaram. Pode-se concluir que a combinação de duas drogas em baixas doses (metade da dose-padrão) é efetiva e provavelmente preferível em relação ao uso de cada droga isoladamente em sua dose-padrão.
Em APS, pessoas com múltiplas comorbidades são acompanhadas, às vezes requerendo o uso de diversas drogas e sofrendo por seus efeitos colaterais. Todo conhecimento que possibilita melhora dos controles clínicos sem paraefeitos é muito valioso. A grande maioria das classes de drogas estudadas faz parte da farmácia básica das Unidades Básicas e de Saúde da Família componentes do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo os resultados passíveis de serem considerados em nosso meio.
Resumo e comentários por Marcelo Marcos Piva Demarzo e Eno Dias de Castro Filho em 24 Dezembro 2007
Resposta baseada em evidência
Quando comparada com tratamentos utilizando um único fármaco em dose-padrão (dose usual de manutenção), a terapia medicamentosa combinada em baixas doses (metade da dose-padrão) aumenta a eficácia anti-hipertensiva e diminui efeitos adversos. Não houve evidência de classes de drogas mais efetivas que outras. A eficácia das drogas combinadas foi aditiva, enquanto a prevalência de efeitos adversos não foi. Grau de Recomendação “A”.
Sumário das evidências
354 ensaios clínicos randomizados controlados duplo-cego foram incluídos nessa revisão. As classes farmacológicas estudadas foram: Tiazídicos (TZ); Beta-bloqueadores (BB); Inibidores da ECA (IECA); Antagonistas do receptor da angiotensina II (ARA); e Bloqueadores dos canais de cálcio (BCC).
Quinze ensaios estudaram drogas de duas classes farmacológicas isoladamente e em combinação. Os participantes eram hipertensos em tratamento e sem outras condições cardiovasculares. As médias de idade, pressão arterial sistólica e diastólica foram, respectivamente, 53 anos, 154, e 97 mmHg. Todas as cinco classes produziram reduções similares na pressão arterial (PA) quando utilizadas isoladamente.
A redução média observada foi de 9.1 mmHg na PA sistólica e de 5.5 mmHg na diastólica na dose-padrão de cada classe; e de 7.1 mmHg na sistólica e 4.4 mmHg na diastólica (efeito 20% menor) quando utilizado metade da dose-padrão. Na metade da dose-padrão (redução média observada de 13.3 mmHg na PA sistólica e de 7.3 mmHg na diastólica), a combinação de duas classes de drogas mostrou efeitos aditivos e maior eficácia anti-hipertensiva em relação a uma classe de droga utilizada isoladamente na dose-padrão.
Esse fato foi observado para seis das dez combinações possíveis, e as exceções foram: BB com IECA (apenas um estudo inconclusivo), e ARA com BB, IECA e BCC (associações não estudadas). A prevalência de efeitos colaterais não foi aditiva quando da combinação. Não houve efeitos adversos na administração de metade da dose-padrão na terapia combinada.