Gostaria de saber mecanismos para adesão ao tratamento de tuberculose?

| 14 setembro 2015 | ID: sofs-21783
Solicitante:
CIAP2: ,
DeCS/MeSH:

As atividades que podem ser realizadas para maximizar a adesão e minimizar o abandono do portador de tuberculose ao tratamento são: educação em saúde, a realização de visitas domiciliares, o estabelecimento de vínculo e acolhimento, garantia de acessibilidade aos serviços, manter corresponsabilidade entre usuário e familiares, implementação de medidas intersetoriais, incentivo à autonomia do usuário, sensibilizar os usuários para os possíveis efeitos colaterais e reações adversas decorrentes da terapia medicamentosa, além da utilização do TDO (Tratamento Diretamente Observado).

O TDO consiste na observação da ingestão dos medicamentos, preferencialmente todos os dias, ou seja, de segunda a sexta-feira, na fase de ataque e no mínimo três vezes por semana na fase de manutenção do tratamento, administrado por profissionais de saúde ou eventualmente por outra pessoa, desde que devidamente capacitada e sob monitoramento do enfermeiro. Nos finais de semana e feriados os medicamentos são autoadministrados. As pessoas tratadas com TDO têm maior probabilidade de curar a tuberculose ou de não apresentar a TB-MR do que aquelas que não têm acesso a esta estratégia.


O emprego do TDO aproxima os profissionais do contexto social dos indivíduos, ao mesmo tempo em que impossibilita os efeitos do estigma ao identificar grupos de risco para a não adesão ao tratamento por meio de um método de baixo custo e estabelece vínculos entre serviço de saúde-doente- -família (RUFFINO-NETTO, 2000). É o momento ímpar em que o profissional de saúde cria a oportunidade para empoderar o paciente em relação ao processo do tratamento, com linguagem acessível, de fácil entendimento, propiciando uma educação individual e dialogada.(1) Essas medidas de apoio para o enfrentamento da situação de adoecimento promovem o sucesso terapêutico e a qualidade do cuidado prestado.

Percebe-se que a assistência de saúde ofertada ao doente de TB durante o tratamento distancia-se de uma dimensão cuidadora pautada na integralidade. A ausência de espaços de escuta, durante a consulta, para o doente se expressar com relação à doença e ao tratamento ou a outras questões, concorre para o distanciamento nas relações entre profissional de saúde e usuário, comprometendo o processo terapêutico, principalmente no que diz respeito à adesão ao tratamento.

No seguimento do doente de TB, ao longo de seu tratamento, a equipe de saúde deve acompanhar a evolução do agravo, monitorar a terapêutica medicamentosa e identificar necessidades do usuário, não apenas as restritas ao universo da doença, mas a outras relacionadas ao seu entorno social. É preciso considerar, entre outras situações que impactam o tratamento, o estado de pobreza, comum a muitos doentes de TB, que favorece a prática do abandono do tratamento.

Em relação à TB, o paciente que abandona o tratamento torna-se importante fonte de transmissão do bacilo, prolongando a infecciosidade, causando danos individuais e à saúde pública, pois pode levar a um aumento dos índices de multirresistência às drogas.

 

COMPLEMENTAÇÃO – A tuberculose é uma doença infectocontagiosa causada pelo bacilo Mycobacterium tuberculosis, também conhecido como Bacilo de Koch (BK), que acomete uma série de órgãos e/ou sistemas, cuja transmissão se dá pela via aérea em praticamente todos os casos. Sua infecção ocorre a partir da inalação de núcleos secos de partículas, de tamanhos variados, contendo no seu interior bacilos expelidos pela tosse, fala ou espirro do doente com tuberculose.

Há uma década, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a tuberculose (TB) em estado de emergência no mundo, onde ainda é a maior causa de morte por doença infecciosa em adultos. Segundo estimativas da OMS, dois bilhões de pessoas correspondendo a um terço da população mundial está infectada pelo Mycobacterium tuberculosis. Destes, 8 milhões desenvolverão a doença e 2 milhões morrerão a cada ano. O Brasil ocupa o 19º lugar entre os 22 países responsáveis por 80% do total de casos de tuberculose no mundo. Estima-se uma prevalência de 50 milhões de infectados com cerca de 111.000 casos novos e 6.000 óbitos, ocorrendo anualmente.

Segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN/MS) em 2001, foram notificados 81.432 casos novos correspondendo a um coeficiente de incidência de 47,2 / 100.000 habitantes. Com relação ao encerramento do tratamento 72,2% receberam alta por cura, 11,7% representa abandono de tratamento, 7,0% de óbito, e 9,1% de transferência.

As metas internacionais estabelecidas pela OMS e pactuadas pelo governo brasileiro são de descobrir 70% dos casos de tuberculose estimados e curá-los em 85%. A tuberculose, doença com profundas raízes sociais, está intimamente ligada à pobreza e a má distribuição de renda, além do estigma que implica na não adesão dos portadores e/ou familiares/contactantes. O surgimento da epidemia de AIDS e o aparecimento de focos de tuberculose multirresistente agravam ainda mais o problema da doença no mundo. Diante da atual situação, há necessidade de investimentos na qualificação dos serviços de saúde, na capacitação dos recursos humanos para as atividades de vigilância, avaliação e controle, de modo a ampliar a capacidade de diagnóstico por meio da baciloscopia, promover a cura, intensificar a busca do sintomático respiratório e dos contatos dos pacientes, nos municípios brasileiros e especialmente nos municípios prioritários.(3)

ATRIBUTOS APS – Para favorecer o cuidado ao doente de Tuberculose, no âmbito da APS, são necessárias estratégias de melhoria de ACESSO e desenvolvimento de práticas de INTEGRALIDADE, ACOLHIMENTO, VÍNCULO e RESPONSABILIZAÇÃO.

Bibliografia Selecionada:

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Tratamento diretamente observado (TDO) da tuberculose na atenção básica : protocolo de enfermagem / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. – Brasília : Ministério da Saúde, 2011.
  2. Brasil. Ministério da Saúde. Grupo Hospitalar Conceição Tuberculose na atenção primária à saúde / organização de Sandra Rejane Soares Ferreira, Rosane Glasenapp /e/ Rui Flores; ilustrações de Maria Lucia Lenz. — 1. ed.ampl. — Porto Alegre : Hospital Nossa Senhora da Conceição, 2011.
  3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual de recomendações para o controle da tuberculose no Brasil / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. – Brasília : Ministério da Saúde, 2011.
  4. RUFFINO-NETTO, A.; VILLA, T. C. S. (Org.). Tuberculose: implantação do DOTS em algumas regiões do Brasil: histórico e peculiaridades regionais. Ribeirão Preto: REDE-TB, 2000. 210 p
  5. SÁNCHEZ, A. et al. Prevalence of pulmonary tuberculosis and comparative evaluation of screening strategies in a Brazilian prison. International Union against Tuberculosis and Lung Disease, Paris, n. 9, p. 633-639, 2005.
  6. JASMER, R. M.; NAHID, P.; HOPEWELL, P. C. Latent tuberculosis infection. N. Engl. J. Med., [S.l.], n. 347, p. 1860-1866, 2002.