Mais importante do que classificar um indivíduo como portador de diabetes, hipertensão ou dislipidemia, é caracterizá-lo em termos de seu risco cardiovascular global, que pode ser estimado, por exemplo, através de instrumentos como o escore de risco de Framingham. O risco cardiovascular global orienta esforços preventivos não pelos riscos atribuíveis à elevação de fatores isolados, mas pela somação de risco decorrente de múltiplos fatores. Quanto maior o risco, maior o potencial benefício de uma intervenção terapêutica ou preventiva (1).
Por exemplo, diversos ensaios clínicos randomizados de grande porte demonstraram em pacientes com alto risco cardiovascular, que o benefício de estatinas se estende mesmo a pacientes com níveis de colesterol normais (2).
Um ensaio clínico randomizado demonstrou que as estatinas reduzem de forma modesta mas significativa a pressão arterial em pacientes com LDL entre 115-190 mg/dl e sem doença cardiovascular conhecida ou diabetes (3).
Uma revisão sistemática de 12 ensaios clínicos randomizados somando aproximadamente 70000 indivíduos, demonstrou redução da mortalidade por causas cardíacas com o uso de estatinas, contudo, não observou diferenças significativas entre o grupo de pacientes hipertensos e não-hipertensos (4).
Não foram encontrados ensaios clínicos randomizados que examinassem os efeitos do uso de estatinas em pessoas com baixo risco de eventos cardiovasculares (5).
Como na escolha criteriosa de um determinado tratamento temos que avaliar a magnitude do efeito, assim como sua relação custo-efetividade (e as estatinas ainda se configuram opções de alto custo quando utilizadas em larga escala), então sua indicação irrestrita em indivíduos com baixo risco cardiovascular global não tem sustentabilidade até o momento (1).