Considerando o atendimento odontológico, a primeira etapa do atendimento clínico se dá através da anamnese. Existem questionamentos importantes para verificar se há suspeita em o paciente ser portador de DM e para se apropriar das condições dos casos já confirmados. Os sintomas de diabetes são poliúria, polidipsia, perda de peso e, às vezes, polifagia. Outros sintomas que levantam a suspeita clínica são fadiga, fraqueza, letargia, prurido cutâneo e vulvar, balanopostite (inflamação conjunta da glande e prepúcio), infecções de repetição.
Deve-se estar atento, pois o DM,em proporção significativa dos casos, é assintomático e a suspeita clínica ocorre a partir de identificação dos fatores de risco para a doença.
No DM tipo 1 o aparecimento da sintomatologia é rápido e acomete predominantemente indivíduos jovens, com idade máxima em torno de 14 anos. Já no DM tipo 2, os sinais e sintomas desenvolvem-se mais lentamente e em idades acima dos 40 anos. Freqüentemente não apresenta a tríade clássica (polifagia, polidpsia e poliúria) e normalmente está associado a obesidade, dislipidemia e hipertensão arterial.
Nos pacientes com diagnóstico prévio, o dentista deve se informar sobre o tipo da doença (tipo 1, 2, gestacional ou outros), duração da enfermidade, terapia (dieta, insulina, hipoglicemiantes, horário da última dose desses medicamentos), horário da última refeição, o nível de controle metabólico, presença de complicações secundárias da doença (nefropatia, neuropatia, retinopatia, doença cardiovascular, doença vascular periférica, hipotireoidismo, dislipidemia e hipertensão arterial), sintomas de hipoglicemia, história de hospitalização e cetoacidose, infecções sistêmicas (febre, mal estar, uso de antibióticos, anti-inflamatórios e analgésicos) e medicamentos para tratar complicações associadas ao DM.
Também é importante questionar sobre o uso de álcool (causa de hipoglicemia) e tabagismo.
Após a anamnese, parte-se para o exame físico extra e intra oral do paciente. Deve-se atentar para as manifestações bucais observadas no paciente com DM, que embora não sejam específicas do distúrbio, têm sua incidência ou progressão favorecida pelo descontrole glicêmico. Os distúrbios da cavidade bucal mais freqüentes nos diabéticos são:
- Doença periodontal (gengivite e periodontite): De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a doença periodontal é a sexta complicação crônica do diabetes. A doença periodontal é mais grave e mais prevalente entre os indivíduos com DM. Geralmente, a má higiene oral, uma longa história de DM e um pobre controle metabólico estão associados a maior gravidade da doença periodontal. A associação entre as duas doenças pode ser devida a numerosos fenômenos fisiológicos encontrados na DM, tais como a resistência diminuída, alterações vasculares, alteração da microflora oral e metabolismo anormal do colágeno. Além disso, a associação entre mau controle glicêmico e uso do tabaco, aumenta o risco de doença periodontal, sendo 20 vezes maior a chance de desenvolver periodontite.
- Xerostomia e Hipossalivação: Xerostomia é a sensação subjetiva de boca seca que, geralmente, mas não necessariamente,está associada com a diminuição da quantidade de saliva. A hipossalivação pode causar glossodinia, úlceras, queilites, língua fissurada, lesões cariosas e dificuldade de retenção das próteses, com trauma dos tecidos moles, o que predispõe a infecções. Ela tende a se agravar em fases de descontrole metabólico, pelo fato de a desidratação aumentar os gradientes osmóticos dos vasos sanguíneos em relação às glândulas salivares, limitando a secreção de saliva.
- Candidíase oral: A candidíase oral é uma infecção fúngica oportunista freqüente na presença de DM não controlado. Lesões orais de candidíase podem incluir glossite rombóide mediana, glossite atrófica, candidíase pseudomembranosa e queilite angular. É comum a modificação da flora bucal, havendo uma predominância de Candida albicans, colônias de estreptococos hemolíticos e estafilococos, com tendência a candidíase oral e queilite angular. Além disso, a susceptibilidade para infecções orais é favorecida pela hiperglicemia, diminuição do fluxo salivar e alterações na composição da saliva, através de modificações em proteínas anti microbianas como lactoferrina, lizozima e lacto-peroxidase.
- Síndrome de ardência bucal e glossodinia: Pacientes com síndrome da ardência bucal e glossodinia não apresentam lesões ou doença clinicamente detectáveis. Os sintomas de dor e queimação parecem ser o resultado de uma combinação de fatores. Nos diabéticos não controlados, esses fatores etiológicos podem incluir disfunção salivar, candidíase e alterações neurológicas como a depressão. Neuropatias são partes da síndrome do DM, e a sua prevalência em diabéticos se aproxima de 50%, 25 anos após o início da doença, com uma taxa global de 30% entre adultos com diabetes. Neuropatia pode levar à sintomas orais de parestesia, formigamento, queimação e dor causados por mudanças patológicas envolvendo os nervos da região oral.
- Distúrbios de gustação: O gosto é um componente crítico da saúde oral que é afetado negativamente em pacientes com DM. Esta disfunção sensorial pode inibir a capacidade de manter uma dieta adequada e pode levar à má regulação glicêmica.
- Doenças da mucosa oral: A DM está associada com uma maior probabilidade de desenvolver certas desordens da mucosa oral, sendo que há relatos de prevalências maiores de líquen plano e estomatite aftosa recorrente. Embora estas associações não tenham sido encontradas consistentemente em todas as populações de indivíduos com diabetes, podem ocorrer devido à imunossupressão crônica e exigir continuado acompanhamento por profissionais de saúde.
- Cárie Dentária: Os estudos que compararam a freqüência de cárie entre indivíduos com DM e sem o distúrbio metabólico tiveram achados discrepantes não havendo consenso se os primeiros apresentariam ou não maior susceptibilidade.