Em que situações a realização de atividade coletiva de bochecho fluoretado está indicada?

| 3 agosto 2016 | ID: sofs-34784
Solicitante:
CIAP2: , ,
DeCS/MeSH: ,
Graus da Evidência:

Bochechos com solução de fluoreto de sódio (NaF) 0,2% podem ser realizados semanalmente ou quinzenalmente e sua utilização em abrangência universal é recomendada para populações nas quais se constate uma ou mais das seguintes situações1,2:


a) exposição à água de abastecimento sem flúor;
b) exposição à água de abastecimento com teores de fluoretos abaixo da concentração indicada. Na maior parte do território brasileiro o teor ideal de flúor na água é 0,7 ppm ou 0,7 mg de flúor por litro. Ações de vigilância sanitária devem ser realizadas de modo a que as empresas fornecedoras de água orientem sua operação para atingir e manter tal padrão¹.
c) Índice de dentes cariados, perdidos e obturados (CPOD) médio maior que 3 aos 12 anos de idade;
d) menos de 30% dos indivíduos na idade de 12 anos livres de cárie;
e) populações com condições sociais e econômicas que indiquem baixa exposição a dentifrícios fluoretados.
Deve ser utilizado em crianças maiores de seis anos, e é contraindicado em crianças em idade pré-escolar devido ao risco de ingestão, já que nesta idade ingerem de 10 a 20% da solução. Portanto bochechos devem ser indicados perante uma cuidadosa avaliação de necessidade, não sendo indicados para crianças que não tenham controle sobre o reflexo de deglutição3,4.
A eficácia dos bochechos fluoretados está condicionada à continuidade da ação. Para a utilização de solução de fluoreto de sódio 0,2% exigem-se pelo menos 25 bochechos semanais por ano, sem interrupções prolongadas1,3,4. Nestas condições a redução esperada de cárie dentária é em torno de 26%3,4. Revisões sistemáticas recentes indicam uma redução de cárie na ordem de 23% a 30%1,5.
Tradicionalmente as atividades coletivas de bochecho fluoretado são realizadas no ambiente escolar. Desta forma, para que tenham sucesso no controle e prevenção à cárie dentária, é fundamental a organização e articulação entre equipe de saúde bucal e equipe de professores, coordenação da escola e pais/responsáveis de forma a permitir no mínimo 25 bochechos ao ano. Em situações onde a atividade não é realizada semanalmente ou, no máximo, quinzenalmente, por razões ligadas a faltas dos alunos, greves, desinteresse dos professores, deficiência no suprimento dos insumos, dentre outros, é melhor optar por métodos que sejam realizados de duas a quatro vezes ao ano pela equipe de saúde bucal, como a aplicação tópica de flúor gel³.
Importante lembrar que as crianças devem ser autorizadas pelos pais para participarem das atividades preventivas e curativa na escola. Sugere-se que a autorização seja assinada já no momento da matrícula na escola, de forma que os pais sejam esclarecidos sobre os objetivos das ações de saúde na escola.
Aplicação da técnica: para uso semanal ou quinzenal, recomenda-se bochechar 10 ml de solução NaF 0,2% (2 gramas de fluoreto de sódio em 1 litro de água), vigorosamente, por um minuto, seguida de expectoração1,3. Em ambiente escolar, a atividade pode ser realizada em escovódromo ou no pátio³. Sugere-se que a atividade seja realizada em dia e horário fixos na semana e seja articulada a ações educativas, que permitam a reflexão sobre questões ligadas a higiene, saúde, doença, etc.
É importante refletir que embora o bochecho fluoretado de uso semanal tenha eficácia comprovada, o creme dental fluoretado ainda é considerado um dos métodos mais racionais de prevenção das cáries, pois alia a remoção do biofilme dental à exposição constante ao flúor. A presença de flúor constantemente na cavidade bucal para interagir nos eventos físico-químicos do processo des e remineralização que ocorrem diariamente na superfície dentária é o principal mecanismo de sua ação na prevenção da cárie¹.
Ressalta-se que o uso de fluoretos não consiste na única medida para prevenção da cárie dentária. Para o controle e prevenção da cárie na população são necessárias medidas educativas e intersetoriais que possibilitem acesso à alguma forma de flúor, redução do consumo do açúcar e disponibilidade de informação sistemática sobre os fatores de risco e autocuidado. São também determinantes as políticas relacionadas à melhoria das condições socioeconômicas, de qualidade de vida, do acesso e uso dos instrumentos de higiene e estímulo à manutenção da saúde.

Bibliografia Selecionada:

  1. BRASIL. Guia de recomendações para o uso de fluoretos no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. 56 p. Disponível em: http://dab.saude.gov.br/portaldab/biblioteca.php?conteudo=publicacoes/guia_fluoretos. [acesso em 09/05/2016]
  2. BRASIL. Saúde Bucal. Brasília: Ministério da Saúde, 2008. 92 p. (Cadernos de Atenção Básica Nº 17). Disponível em: http://dab.saude.gov.br/portaldab/biblioteca.php?conteudo=publicacoes/cab17. [acesso em 09/05/2016]
  3. PINTO VG. Saúde Bucal Coletiva. 5ª ed. São Paulo: Editora Santos, 2008. p.441-445.
  4. CURITIBA. Manual de Fluorterapia. Curitiba: Secretaria Municipal de Saúde, 2006. Disponível em: http://www.saude.curitiba.pr.gov.br/images/programas/arquivos/saude_bucal/protocolo_002.pdf [acesso em 09/05/2016]
  5. MARINHO VCC et al. Fluoride mouthrinses for preventing dental caries in children and adolescents (Cochrane Review). In: THE COCHRANE Library. Oxford: Update Software, 2003a. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12917928