Não há limite para a participação de usuários em Grupos de Tabagismo nas Unidades Básicas de Saúde, não sendo identificada uma orientação formal sobre o número de vezes que um usuário pode participar desta atividade. Destaca-se que o tratamento do tabagista que recaiu necessita de mais estudos científicos específicos para essa população(1). Especificamente quanto à abordagem dos fumantes que tiveram lapso ou recaíram após uma abordagem básica/mínima, sugere-se que sejam abordados sem críticas, analisando-se as circunstâncias de recaída, retornando ao processo da abordagem cognitivo-comportamental e estimulando-o a tentar novamente(1). Caso o profissional julgue necessário, poderá encaminhá-lo para a abordagem específica/intensiva(1).
É importante que o profissional de saúde identifique os fatores que contribuíram para que o fumante recaísse, para traçar estratégias para uma nova tentativa(1). Pode-se perguntar(2): Que situação o fez acender o primeiro cigarro? O que estava fazendo quando acendeu o primeiro cigarro da recaída? O que aconteceu depois? Quantos cigarros está fumando atualmente? Voltou a fumar a mesma quantidade que fumava antes de deixar de fumar? É importante, também, avaliar se a situação da recaída necessita de uma abordagem especializada (em casos de recaída devido à manifestação de sintomas de depressão ou outras comorbidades psiquiátricas, por exemplo, pode ser indicado encaminhar o usuário a um psiquiatra), identificar se o usuário está pronto para reiniciar o processo e aconselhar nova tentativa procurando trabalhar estratégias para lidar com as situações que o fizeram recair(2).
Em geral, a abordagem ao tabagista em recaída pode ser realizada de forma individual ou em grupo, dependendo da avaliação do profissional de saúde(1). Da mesma forma, o uso de medicamentos também dependerá da avaliação inicial do profissional, podendo ser o mesmo medicamento usado anteriormente, ou não(1). Pode-se optar também por uma combinação de medicamentos(1). Deve ser verificado se o usuário possui algum fator de risco que impossibilite o uso das medicações. Caso não possua nenhuma restrição, indica-se uma conversa para identificar como está fazendo uso da medicação ou, ainda, que a temática seja abordada de uma maneira geral no grupo de tabagismo, sem direcionar especificamente ao usuário em questão, explicando a todos como deve ser feito o uso de forma correta, inclusive quanto à quantidade e aos efeitos adversos comuns, dando ênfase na questão de que a medicação não irá por si só fazer a pessoa parar de fumar.
É importante salientar que nem sempre é necessário o uso de medicação nestes casos. Outras medidas podem ser utilizadas, como o estímulo ao consumo hídrico adequado, às mudanças alimentares (como consumo de cenoura em palitos, sementes fibrosas, maçã seca e outros) e ao uso da acupuntura, tendo sido identificadas quatro revisões sistemáticas que abordam seu uso no tratamento do tabagismo que colocaram que, ainda que menos eficaz “do que a terapia de reposição de nicotina e as intervenções psicológicas (3,4,5) na redução das taxas de abstinência em curto prazo (4); vários pacientes relataram que se sentiram melhor com o uso da acupuntura(4) por perceberem que a técnica reduz o paladar para o tabaco, ansiedade e o desejo de fumar, durante a abstinência do fumo por seis ou mais meses”(3,6).
Quando identificada necessidade, o apoio farmacoterápico tem um papel bem definido no processo de cessação de fumar, que é minimizar os sintomas da síndrome de abstinência, quando estes representam uma importante dificuldade(2). Sua função é, portanto, facilitar a abordagem comportamental na fase em que manifestam sintomas da síndrome de abstinência(2). Em resumo, embora o apoio medicamentoso aumente as chances da cessação, para que se alcance um resultado satisfatório não deve ser usado fora do contexto do apoio comportamental, onde o usuário vai sendo paulatinamente estimulado e orientado a lidar com a dependência psicológica e a se “descondicionar” das associações feitas com o cigarro(2).
O Ministério da Saúde recomenda que o tratamento da dependência à nicotina tenha como base, portanto, a técnica da abordagem cognitivo-comportamental, definida como um modelo de intervenção centrado na mudança de crenças e comportamentos que levam um indivíduo a lidar com determinadas situações(1). Em relação ao tabagismo, a abordagem deve ter como objetivo a detecção de situações de risco que levam o indivíduo a fumar e o desenvolvimento de estratégias para enfrentamento dessas situações, visando não só a cessação do tabagismo, mas também a prevenção de recaídas(1).
Por fim, o atendimento às pessoas com problemas relacionados ao uso de tabaco é muito complexo, pois envolve, além de conhecimentos técnicos, uma vinculação pessoal, diretamente relacionada às crenças e percepções pessoais do próprio profissional envolvido(4). Oferecer, portanto, uma atenção acolhedora, sem críticas e construída pelo vínculo e corresponsabilização junto aos usuários em tratamento contra o tabagismo, é uma função importante dos profissionais de saúde envolvidos com o cuidado, especialmente em situações de recaídas(4).
SOF Relacionada:
A acupuntura pode ser usada no tratamento do tabagista?
1. Rio de Janeiro. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Divisão de Controle do Tabagismo. Coordenação de Ações Estratégicas. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas dependência à nicotina. 2013. Disponível em http://www.riocomsaude.rj.gov.br/Publico/MostrarArquivo.aspx?C=57yuXgPe4bg%3D [acesso em 31 janeiro 2017].
2. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Abordagem e tratamento do fumante: Consenso. Brasília: Ministério da Saúde; 2001. Disponível em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connec/e776ee0047dec36284a4cd9ba9e4feaf/tratamento-consenso.pdf?MOD=AJPERES&CACHEID=e776ee0047dec36284a4cd9ba9e4feaf [acesso em 31 janeiro 2017].
3. Núcleo de Telessaúde de Santa Catarina. A acupuntura pode ser usada no tratamento do tabagista. Segunda Opinião Formativa. ID: sof-23275. 2016. Disponível em: http://aps.bvs.br/aps/a-acupuntura-pode-ser-usada-no-tratamento-do-tabagista/ [acesso em 05 abril 2017].
4. Cargnelutti T. Estratégias motivacionais e o profissional da saúde na cessação do tabagismo. Monografia – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Odontologia de Piracicaba. Piracicaba. SP:s.n., 2014. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?down=000922505 [acesso em 31 janeiro 2017].