O uso de suplementos fluorados na forma de comprimidos, pastilhas ou líquidos (gotas e suspensões de vitaminas com flúor) para prevenir a cárie dentária foi recomendado, no passado, como método sistêmico alternativo, às gestantes e às crianças que não dispunham de água fluoretada.
O objetivo do uso desses suplementos em tais contextos era compensar a deficiência de flúor na água de abastecimento e estava apoiado no conceito de que a forma mais eficiente de usar flúor era a sua ingestão durante a formação dos dentes, de maneira que sua incorporação ao esmalte dentário teria como consequência uma maior resistência à cárie dentária.
Hoje, sabe-se que o principal mecanismo de ação do flúor deve-se à sua ação pós-eruptiva, interferindo nos ciclos de desmineralização e remineralização, reduzindo a primeira e ativando a segunda, sendo a presença contínua de flúor em baixas concentrações no meio bucal indispensável. Vários são os questionamentos que se interpõem quando se considera a utilização destes produtos na atualidade.
Cury afirma que a necessidade de ingerir flúor na forma de suplementos tem sido questionada devido aos conceitos atuais de mecanismo de ação do flúor, que dão ênfase à sua ação local e, também, devido à exposição aos dentifrícios fluoretados.
Em relação à utilização de suplemento de flúor na gestação, evidências na literatura demonstraram que, para alcançar a redução do índice de cárie pela ação cariostática do flúor, deve-se optar pelo flúor pós-eruptivo, em aplicações tópicas ou bochechos.
O flúor pós-eruptivo participa do processo de mineralização da unidade dentária desmineralizada, aumentando a quantidade de fluorapatita na superfície do esmalte, e não sobre o dente em formação. Portanto, a utilização de suplementos de flúor pré-natal está contraindicada em função da ausência de evidências científicas que demonstrem benefício para os dentes do bebê em desenvolvimento [Grau D].
Abordando-se a questão do uso de suplementos de flúor em crianças, alguns estudos têm demonstrado que a suplementação diária de flúor, em regiões onde a concentração natural deste íon na água é inferior à concentração ótima, produz os mesmos benefícios. Entretanto, a indicação de suplemento de flúor está associada à atividade de cárie.
Nesta perspectiva estudo realizado em Norway, cidade sem fluoretação das águas, demonstrou que a educação em saúde para as mães e higiene dentária de boa qualidade, com o uso de dentifrício, estão inversamente associadas com a ocorrência de cárie [Grau B].
Assim, sugere-se que o foco principal está na educação em saúde e os meios de aplicação tópica de flúor em detrimento do uso de suplementos de flúor.
Em vista das múltiplas alternativas de aquisição do flúor, a prática da suplementação é inadequada levando-se em consideração a relação risco/benefício e aos dentifrícios fluoretados, nos casos de cidades sem fluoretação das águas.