Como proceder a suplementação de flúor em gestantes, recém-nascidos e crianças até 2 anos de idade, em locais que não dispõem de água fluoretada nos domicílios?

| 29 janeiro 2010 | ID: sofs-3744
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: , , , ,
Graus da Evidência: ,

O uso de suplementos fluorados na forma de comprimidos, pastilhas ou líquidos (gotas e suspensões de vitaminas com flúor) para prevenir a cárie dentária foi recomendado, no passado, como método sistêmico alternativo, às gestantes e às crianças que não dispunham de água fluoretada.
O objetivo do uso desses suplementos em tais contextos era compensar a deficiência de flúor na água de abastecimento e estava apoiado no conceito de que a forma mais eficiente de usar flúor era a sua ingestão durante a formação dos dentes, de maneira que sua incorporação ao esmalte dentário teria como consequência uma maior resistência à cárie dentária.
Hoje, sabe-se que o principal mecanismo de ação do flúor deve-se à sua ação pós-eruptiva, interferindo nos ciclos de desmineralização e remineralização, reduzindo a primeira e ativando a segunda, sendo a presença contínua de flúor em baixas concentrações no meio bucal indispensável. Vários são os questionamentos que se interpõem quando se considera a utilização destes produtos na atualidade.
Cury afirma que a necessidade de ingerir flúor na forma de suplementos tem sido questionada devido aos conceitos atuais de mecanismo de ação do flúor, que dão ênfase à sua ação local e, também, devido à exposição aos dentifrícios fluoretados.
Em relação à utilização de suplemento de flúor na gestação, evidências na literatura demonstraram que, para alcançar a redução do índice de cárie pela ação cariostática do flúor, deve-se optar pelo flúor pós-eruptivo, em aplicações tópicas ou bochechos.
O flúor pós-eruptivo participa do processo de mineralização da unidade dentária desmineralizada, aumentando a quantidade de fluorapatita na superfície do esmalte, e não sobre o dente em formação. Portanto, a utilização de suplementos de flúor pré-natal está contraindicada em função da ausência de evidências científicas que demonstrem benefício para os dentes do bebê em desenvolvimento [Grau D].
Abordando-se a questão do uso de suplementos de flúor em crianças, alguns estudos têm demonstrado que a suplementação diária de flúor, em regiões onde a concentração natural deste íon na água é inferior à concentração ótima, produz os mesmos benefícios. Entretanto, a indicação de suplemento de flúor está associada à atividade de cárie.
Nesta perspectiva estudo realizado em Norway, cidade sem fluoretação das águas, demonstrou que a educação em saúde para as mães e higiene dentária de boa qualidade, com o uso de dentifrício, estão inversamente associadas com a ocorrência de cárie [Grau B].
Assim, sugere-se que o foco principal está na educação em saúde e os meios de aplicação tópica de flúor em detrimento do uso de suplementos de flúor.
Em vista das múltiplas alternativas de aquisição do flúor, a prática da suplementação é inadequada levando-se em consideração a relação risco/benefício e aos dentifrícios fluoretados, nos casos de cidades sem fluoretação das águas.


Bibliografia Selecionada:

  1. Ribeiro DM, Narvai PC. Suplementos fluorados pós-natais: recomendações de pediatras, entidades profissionais e instituições públicas de saúde. Rev. Bras. Saude Mater. Infant. [Internet]. 2009 [citado 2010 Jan 28];9(3):239-46. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbsmi/v9n3/02.pdf Acesso em: 29 janeiro 2010.
  2. Cury JA. Uso do flúor e controle de placa como doença. In: Baratieri LN, et al. Odontologia restauradora: fundamentos e possibilidades. São Paulo: Santos; 2001. p. 31-68.
  3. Wang NJ, Riordan PJ. Fluoride supplements and caries in a non-fluoridated child population. Community Dent Oral Epidemiol. 1999 Apr;27(2):117-23 Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10226721 Acesso em: 29 janeiro 2010.