Devemos diagnosticar doença renal crônica apenas considerando a TFG menor que 60 ml/min/1,73 m2?

| 29 março 2022 | ID: sofs-44829
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: , ,

Não, outros exames são necessários para verificar possível dano renal, como, por exemplo, hemograma para afastar anemia, dosagem do hormônio paratireoidiano, anormalidades séricas como hiperpotassemia e hiperfosfatemia. Importante estes pacientes serem avaliados quanto a relação albuminúria/creatinuria (RAC) e fatores de risco para doença renal crônica (DRC) como diabetes mellitus e/ou hipertensão arterial. Exame sumário de urina e creatinina sérica deverão ser repetidas anualmente. Uma modesta e persistente redução da  Taxa de Filtração Glomerular – TFG (cerca de 45-59 ml/min/1,73 m2) sem proteinúria não significa um aumento da mortalidade e diminuição da expectativa de vida remanescente em adultos com mais de 65 anos, podendo ser considerada como normal para esta faixa etária.


A medida da TFG deve ser realizada na suspeita de doenças que cursam com perda de função renal já que a detecção precoce de tais afecções pode impedir a instalação da DRC e o avanço clínico para as fases mais graves da doença. Atualmente se estima a TFG pelo valor da creatinina sérica. A fórmula CKD-EPI (Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration) é a recomendada por diversas organizações científicas nacionais e internacionais e não considera o peso corporal. Além da TFG, são considerados marcadores de dano renal parenquimatoso: albuminúria, relação Albumina Creatinina (RAC) em amostra isolada de urina, considerada elevada > 30 mg/g; hematúria de origem glomerular, definida pela presença de cilindros hemáticos ou dismorfismo eritrocitário no exame de urina (EAS); alterações eletrolíticas ou outras anormalidades como hiperpotassemia persistente, e anemia de origem renal.

A Sociedade Internacional de Nefrologia publicou em seu jornal, em janeiro de 2013, uma diretriz para avaliação e acompanhamento de DRC. Propôs uma forma de fazer prognóstico de risco para pacientes com DRC, através de uma associação de faixas de valores de TFG e a quantidade de albuminuria presente, classificando desde a categoria sem risco ou baixo risco até risco muito alto, porém não levou em consideração a idade dos pacientes nesta classificação.

A Diretriz Clínica de DRC do Ministério da Saúde, de 2014, define como portador de DRC qualquer indivíduo que, independentemente da causa, apresente por pelo menos três meses consecutivos uma TFG < 60ml/min/1,73m².

Segundo Glassock et al, 2017, é importante considerar a idade para prognóstico de mortalidade por todas as causas, pois uma parte significativa   de adultos com mais de 65 anos sem doença renal conhecida apresentam uma TFG de 45-59 ml/min/, decorrente a redução que ocorre com a idade. Estes autores propõem uma modificação da classificação de DRC com base nas razões de risco ajustadas para a mortalidade por todas as causas por categorias de taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) e grupos etários em pacientes com razão albumina/creatinina (RAC) na urina inferior a 30 mg/g e 10 mg/g. (Quadro 1).

 

Quadro 1 – Risco Relativo de mortalidade/ todas as causas, ajustadas por categorias de taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) e grupos etários em pacientes com razão albuminuria/creatininuria (RAC)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Para classificar como DRC os indivíduos maiores de 65 anos, usando  TFG, recomenda-se utilizar um limiar <45 ml/min/1,73 m,2 ao invés de < 60 ml/min/1,73m2. mas não se aplica a indivíduos com albuminúria evidente ou com outras características que sugiram uma DRC, como, por exemplo, acidose metabólica, anemia normocítica normocrômica, elevação no hormônio paratireoidiano ou hiperfosfatemia. O uso deste novo limiar poderá evitar erros de diagnóstico e ansiedade por parte dos pacientes.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bibliografia Selecionada:

1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada e Temática. Coordenação Geral de Média e Alta Complexidade. Diretrizes Clínicas para o Cuidado ao paciente com Doença Renal Crônica – DRC no Sistema Único de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde. [Acesso: 14/02/2022]. 2014:37p. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_clinicas_cuidado_paciente_renal.pdf

2. da Cunha MMB, Moretti LA, Cainelli LS, da Cunha PRMB, Cruz AC, Costa CDD, Meira FN, Almeida RF de, Cunha LC da. Clearance de creatinina: um estudo comparativo de cinco equações para estimar a taxa de filtração glomerular em pacientes ambulatoriais em um serviço público de saúde. [Acesso: 14/02/2022]. Research, Society and Development. 2021:10(9):e18610917875. Disponível em: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i9.17875 

3. Glassock R, Denic A, Rule AD. When kidneys get old: an essay on nephro-geriatrics. [Acesso: 14/02/2022] J. Bras. Nefrol. 2017:39(1):59-64. Disponível em: https://www.scielo.br/j/jbn/a/NswLFhGKxQFMqZmn8jq8JCP/?lang=en