Como realizar a suplementação de ferro na gestação e pós-parto?

| 3 maio 2016 | ID: sofs-23379
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A suplementação diária oral de ferro é recomendada como parte da assistência pré-natal para reduzir o risco de baixo peso no nascimento, anemia materna e deficiência de ferro1. Recomenda-se iniciar a suplementação de ferro oral a partir do conhecimento da gravidez até o terceiro mês após o parto para as gestantes2,3. A dose oral de ferro elementar para gestantes com hemoglobina (Hb) normal é de 30mg/dia,durante pelo menos três meses e até seis semanas pós-parto para reabastecer os estoques de ferro5. No pós-parto recomenda-se prescrever 65mg/dia de ferro elementar para a puérpera e repetir a dosagem de Hb e soro teste de ferritina após 8 semanas4.
Caso a gestante for diagnosticada com anemia, em qualquer fase da gravidez (Hb < 110 g/l, no primeiro trimestre , Hb <105g​/ l no segundo e terceiro trimestre e Hb <100g/ l no período pós-parto), recomenda-se o uso de ferro elementar oral (tabela 1) na dose  de 100-200mg/dia até que a concentração de Hb atinja o nível normal, por 3 meses e, então, reajusta-se para a dose padrão. A dosagem de Hb deverá ser repetida 60 dias após o tratamento. Deve-se, também, avaliar a presença de parasitose e, se for o caso, tratar. Se os níveis de Hb não subirem e, a Hb for menor que 80g/l, a gestante deverá ser encaminhada para o pré-natal de alto risco2.  Em locais onde a anemia em gestantes é um severo problema de saúde pública (40% ou mais), orienta-se usar uma dose diária de 60mg de ferro elementar do que outra dose menor3. É importante aconselhar, também, as mulheres sobre a forma de tomar os suplementos de ferro oral corretamente. Este deve ser administrado com estômago vazio, 1 hora antes das refeições, com uma fonte de vitamina C (ácido ascórbico) como suco de laranja para maximizar a absorção. Outros medicamentos ou antiácidos não deve ser tomado ao mesmo tempo. (Grau de recomendação A)5


Sais de ferro Dose por comprimido Ferro elementar
Fumarato ferroso 200mg 65mg
Gluconate de ferro 300mg 35mg
Sulfato ferroso (seco) 200mg 65mg
Sulfato ferroso 300mg 60mg

Tabela 1: Dose e conteúdo de ferro elementar por comprimido de ferro oral
Fonte: Pavord (2012)5

Os estudos que avaliaram os efeitos maternos e neonatais clínicos da administração de ferro durante a gestação e pós-parto, demonstram que tratamento com ferro oral diário melhora os índices hematológicos (Grau de recomendação B)5, mas provoca efeitos adversos gastrointestinais frequentes. Os efeitos adversos comuns são constipação, náusea, vômitos, diarreia9. Nos casos de náuseas e desconforto epigástrico, preparações com menor teor de ferro podem ser utilizados e os de liberação lenta deve ser evitado (Grau de recomendação A)5. O hidróxido polimaltose de ferro oral apresenta menos sintomas adversos do que o sulfato ferroso em gestantes (Grau de recomendação B)10.
A atenção básica deve ser entendida como porta de entrada da Rede de Atenção à Saúde, como ordenadora do sistema de saúde brasileiro. Nas situações de atenção à gestante e emergência obstétrica, a equipe deve estar capacitada para diagnosticar precocemente os casos graves para que haja a adequada continuidade do atendimento para os serviços de referência da Rede de Atenção à Saúde1. O modelo de acompanhamento de pré-natal de baixo risco por médicos e enfermeiros da família deve ser oferecido para as gestantes. O acompanhamento periódico e rotineiro por obstetras durante o pré-natal não traz melhoria aos desfechos perinatais em comparação com o encaminhamento destas pacientes em casos de complicações durante o acompanhamento (grau de recomendação A).

Categoria da Evidência: recomenda-se o uso de preparações de ferro elementar oral (tabela 1) na dose  de 100-200mg/diapara gestantes com anemia (Grau de recomendação A); administrado com estômago vazio, 1 hora antes das refeições, com uma fonte de vitamina C (ácido ascórbico) como suco de laranja para maximizar a absorção. Outros medicamentos ou antiácidos não deve ser tomado ao mesmo tempo (Grau de recomendação A); tratamento com ferro oral diário melhora os índices hematológicos (Grau de recomendação B); nos casos de náuseas e desconforto epigástrico, preparações com menor teor de ferro podem ser utilizadas e os de liberação lenta deve ser evitado (Grau de recomendação A); o complexo de hidróxido polimaltose de ferro oral apresenta menos sintomas adversos do que o sulfato ferroso em gestantes (Grau de recomendação B)

Bibliografia Selecionada:

  1. BRASIL. Atenção ao pré-natal de baixo. 1. ed. rev. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2013. Disponível em: <http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/caderno_32.pdf>. Acesso em: 4 mar. 2016.
  2. BRASIL. Protocolos da Atenção Básica: Saúde das Mulheres. Brasília: Ministério da Saúde, 2015. Disponível em: <http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/protocolo_saude_mulher.pdf>. Acesso em: 4 mar. 2016.
  3. OMS. Diretriz: Suplementação diária de ferro e ácido fólico em gestantes. Genebra: Organização Mundial da Saúde, 2013. Disponível em: <http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/77770/9/9789248501999_por.pdf>. Acesso em: 4 mar. 2016.
  4. Standing Committee on the Scientific Evaluation of Dietary Reference Intakes of the Food and Nutrition Board, Institute of Medicine, National Academy of Sciences. Dietary reference intakes for vitamin A, vitamin K, arsenic, boron, chromium, copper, iodine, iron, manganese, molybdenum, nickel, silicon, vanadium, and zinc. Washington, DC: National Academy Press; 2001. Disponivel em: <http://www.nap.edu/read/10026/chapter/11 p.290-378>. Acesso em: 4 mar. 2016.
  5. PAVORD S., et al. UK guidelines on the management of iron deficiency in pregnancy. British Journal of Haematology, 2012, 156, 588–600. Disponível em:<http://www.bcshguidelines.com/documents/UK_Guidelines_iron_deficiency_in_pregnancy.pdf>. Acesso em: 4 mar. 2016.
  6. AHFS drug information 2003. McEvoy GK, ed. Iron preparations, oral. Bethesda, MD: American Society of Health-System Pharmacists; 2004:1366-76. Acesso em 4 mar.2016]
  7. Reveiz L, Gyte GM, Cuervo LG, Casasbuenas A. Treatments for iron-deficiency anaemia in pregnancy. Cochrane Database Syst Rev. 2011; 5 (10). Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=21975735[uid]%20AND%20CD003094[pg]&>. Acesso em: 4 mar. 2016.
  8. URATO, Adam C. et al. Intravenous Ferric Carboxymaltose Compared With Oral Iron in the Treatment of Postpartum Anemia: A Randomized Controlled Trial. Obstetrics & Gynecology, [s.l.], v. 112, n. 3, p.703-703, set. 2008. Ovid Technologies (Wolters Kluwer Health). . Disponível em: <http://journals.lww.com/greenjournal/Citation/2008/09000/Intravenous_Ferric_Carboxymaltose_Compared_With.35.aspx>. Acesso em: 20 abr. 2016.
  9. BRASIL. Portaria nº 730, De 13 de maio de 2005. Institui o Programa Nacional de Suplementação de Ferro, destinado a prevenir a anemia ferropriva e dá outras providências. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2005/prt0730_13_05_2005.html>. Acesso em 4 mar. 2016.
  10. SAHA, L, et al. Comparison of efficacy, tolerability, and cost of iron polymaltose complex with ferrous sulphate in the treatment of iron deficiency anemia in pregnant women. MedGenMed. 2007; 9(1): Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17435611?dopt=Abstract&>. Acesso em: 4 mar. 2016.