Um dos passos mais importantes para o diagnóstico do câncer de boca é uma boa anamnese seguida de um correto e completo exame da cavidade bucal na primeira consulta e nas consultas de urgência. O cirurgião-dentista deve realizar o exame clínico extra-bucal (exame da face, regiões submandibular e submentoniana e articulação temporomandibular) e intra-bucal (exame de lábios, bochecha, língua e palato), incluindo visualização e palpação, de forma a detectar anormalidades. No exame devem ser considerados alguns tipos de lesões que podem ser câncer bucal ou lesões com potencial de malignização: leucoplasias, queilose actínica, líquen plano, na sua forma erosiva ou ulcerada.
Os principais sinais que devem ser observados são:
– lesões na cavidade oral ou nos lábios que não cicatrizam por mais de 15 dias;
– manchas/placas vermelhas ou esbranquiçadas na língua, gengivas, palato, mucosa jugal;
– nódulos no pescoço; e
– rouquidão persistente.
Nos casos mais avançados observa-se:
– Dificuldade de mastigação e de engolir;
– Dificuldade na fala; e
– Sensação de que há algo preso na garganta.
O câncer bucal pode ser facilmente detectado através de exames relativamente simples, e o prognóstico da doença está ligado à fase em que ela é detectada. A visualização do câncer oral é facilitada pelas características anatômicas e pela localização da cavidade oral, de forma a dispensar o uso de instrumentos de alta complexidade tecnológica e dificilmente gerar desconforto ao paciente. Daí a importância da conscientização profissional para o diagnóstico precoce ou correto encaminhamento.
Complementação
• Realizar exames periódicos em usuários com maior vulnerabilidade para o desenvolvimento do câncer de boca, possuindo mais de um dos seguintes fatores de risco: ser do sexo masculino, ter mais de 40 anos, ser tabagista e etilista, sofrer exposição ocupacional a radiação solar sem proteção, ser portador de deficiência imunológica (congênitas e/ou adquiridas). Apesar de ser recomendações com fracas evidências, são procedimentos pertinentes para serem realizados durante o exame clínico.
• Integrar a Equipe Saúde Bucal aos programas de controle do tabagismo, etilismo e outras ações de proteção e prevenção do câncer.
• Informar sistematicamente a população sobre locais de referência para exame de diagnóstico precoce do câncer de boca.
Atributos da APS
O diagnóstico precoce de lesões de mucosa e do câncer de boca deve ser uma ação desenvolvida sistematicamente pelas Equipes de Saúde Bucal na Atenção Básica. A atenção primária, como porta de entrada de todo o sistema de atenção em saúde, aparece como espaço privilegiado das ações de controle dos fatores de risco, diagnóstico precoce e atenção em saúde do paciente oncológico.
1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde Bucal. (Cadernos de Atenção Básica, n. 17). Brasília: Ministério da Saúde. 2006:92p. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad17.pdf
2. Rio de Janeiro. INCA. Câncer de boca. Ministério da Saúde; [acesso 2018 jul 17]. Disponível em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/boca+/definicao
3. Pinheiro SMS, Cardoso JP, Prado FO. Conhecimentos e Diagnóstico em Câncer Bucal entre Profissionais de Odontologia de Jequié, Bahia. Rev Bras Cancerol. 2010; 56(2): 195-205. Disponível em: http://www.inca.gov.br/rbc/n_56/v02/pdf/04_artigo_conhecimentos_cancer_bucal_bahia.pdf
4. Torres-Pereira CC, Angelim-Dias A, Melo NS, Lemos Jr CA, Oliveira EMF de. Abordagem do câncer da boca: uma estratégia para os níveis primário e secundário de atenção em saúde. Cad. Saúde Pública. 2012;28(Suppl):S30-S39. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2012001300005