Como proceder quando o diagnóstico do caso índice foi realizado após a vacina BCG ter sido dada ao bebê?

| 22 agosto 2016 | ID: sofs-23970
Solicitante:
CIAP2: ,
DeCS/MeSH:
Graus da Evidência:

Neste caso a criança enquadra-se como contato <10 anos de caso índice vacinada com BCG. Deve-se avaliar a necessidade de quimioprofilaxia secundária ou tratamento para tuberculose, de acordo com os critérios clínicos da mesma.
Segundo o Manual de Recomendações para o Controle da Tuberculose no Brasil, na avaliação de contactantes crianças (<10 anos), deve-se investigar tuberculose em atividade para casos sintomáticos. Nos casos assintomáticos, realiza-se radiografia do tórax e Prova Tuberculínica (PT) e inicia-se tratamento para Infecção Latente pelo Mycobacterium tuberculosis (ILTB) – quimioprofilaxia secundária – para aqueles que se enquadrem nos seguintes critérios (1):

Se a PT não preencher os critérios mencionados, deve-se repeti-la em oito semanas. Se houver conversão para qualquer destes parâmetros, trata-se para ILTB. Se não houver conversão, procede-se à alta com orientações (1).
*Atentar para o fato de que se a criança tiver menos de 3 meses, há maior incidência de resultado falso-negativo da prova tuberculínica (2).


COMPLEMENTAÇÃO

A atividade de controle de contatos deve ser realizada fundamentalmente pela atenção básica. É considerada uma ferramenta importante para prevenir o adoecimento e diagnosticar precocemente casos de doença ativa nos contactantes de portadores de tuberculose (1). A suscetibilidade à infecção pelo M. tuberculosis é praticamente universal. A maioria das pessoas resiste ao adoecimento após a infecção e desenvolve imunidade parcial à doença. Nesses casos, os bacilos ficam encapsulados, em estado latente, em pequenos focos quiescentes, chamado de infecção latente da tuberculose (ILTB). Cerca de 5% das pessoas não conseguem impedir a multiplicação dos bacilos e adoecem na sequência da primo-infecção. Outros 5%, apesar de bloquearem a infecção nesta fase, adoecem posteriormente por reativação desses bacilos ou em consequência de exposição a uma nova fonte de infecção (1,2). A quimioprofilaxia ou terapia preventiva da tuberculose baseia-se no emprego de medicamentos para prevenir a infecção pelo M. tuberculosis, em pessoas expostas, ou o desenvolvimento da doença, nos indivíduos infectados. No primeiro caso, trata-se da quimioprofilaxia primária e, no segundo, da quimioprofilaxia secundária (3). O risco de infectados pelo M. tuberculosis virem a desenvolver doença é maior nos dois primeiros anos que se seguem a primo-infecção tuberculosa e particularmente elevado entre os menores de cinco anos ou imunodeprimidos. Em geral, o contato próximo e prolongado, como é o caso de crianças que vivam na mesma casa onde há um adulto com tuberculose, é considerado o mais importante fator para a ocorrência de infecção. É recomendável que os contatos sejam avaliados clinicamente antes de se definir pelo início da quimiprofilaxia, para afastar a possibilidade de tuberculose em atividade (3). A quimioprofilaxia primária deve ser indicada para recém-nascidos filhos de mãe bacilífera, ou que irão coabitar com caso índice bacilífero, e neste caso, a criança não é vacinada com BCG na maternidade, a fim de iniciar a medicação profilática (isoniazida). A isoniazida é administrada por três meses e, após esse período, faz-se a PT. Se o resultado da PT for ≥ 5mm, a quimioprofilaxia deve ser mantida por mais três a seis meses, caso contrário interrompe-se o uso da medicação e vacina-se com BCG (1). A quimioprofilaxia secundária ou tratamento da Infecção Latente pelo Mycobacterium tuberculosis (ILTB) reduz em 60 a 90% o risco de adoecimento. O fármaco utilizado é também aisoniazida – na dose de 5mg/kg a 10 mg/kg de peso até a dose máxima de 300mg/dia. O tempo de tratamento deve ser de, no mínimo, seis meses. Como seguimento, os pacientes devem ser examinados em intervalos regulares de 30 dias, monitorando efeitos adversos. Após o término do tratamento, os pacientes devem ser orientados a procurar a unidade de saúde em caso de sintomas sugestivos de tuberculose (1).

Os grupos com indicação de tratamento da ILTB são (1):

1. Crianças contatos de casos bacilíferos:
– PT igual ou superior a 5mm – em crianças não vacinadas com BCG, crianças vacinadas há mais de dois anos ou qualquer condição imunossupressora.
– PT igual ou superior a 10mm em crianças vacinadas com BCG há menos de dois anos.

2. Em adultos e adolescentes (> 10 anos) com ILTB – a relação risco-benefício do tratamento com isoniazida deve ser avaliada, de acordo com a idade, o resultado da PT e o risco de adoecimento.

EDUCAÇÃO PERMANENTE

Controle da infecção tuberculosa na Atenção Básica (1):

Considera-se que a Atenção Básica – AB, em particular a Estratégia de Saúde da Família, seja hoje, no Brasil, a grande porta de entrada do paciente com tuberculose. Parceria com a AB no sentido de integrar as ações de vigilância em saúde deve ser estimulada e priorizada pelos Programas de Controle da Tuberculose locais. Barreiras que se referem à biossegurança são apontadas, algumas vezes, como limitadoras dessa integração. Sobre esse aspecto cabe ressaltar que:

Medidas de controle no domicílio e outros ambientes (1)

A recomendação para a necessidade de ventilação adequada dos ambientes de moradia e de trabalho, considerando os riscos de aglomeração de pessoas em locais pouco ventilados, deve fazer parte das orientações gerais de saúde e se aplica tanto na prevenção de tuberculose quanto de outras doenças de transmissão respiratória e por gotículas.

Na visita domiciliar realizada por agente comunitário de saúde ou outro profissional de saúde, algumas recomendações devem ser observadas:

Em casos excepcionais, como na impossibilidade de atendimento do paciente em ambiente externo por dificuldade de deambulação ou situações de moradia que não propiciem a atuação do profissional em local com ventilação em nenhuma hipótese, após avaliação criteriosa da equipe da Unidade Básica de Saúde, o agente comunitário ou qualquer outro profissional de saúde que proceda à visita domiciliar pode usar máscaras PFF2 ou N95  (o que não deverá ser um procedimento de rotina). Nessas situações, o uso de máscara se dará na entrada do profissional no ambiente, que deverá com ela permanecer até sua saída. Atentar sempre para a adequada informação do paciente e de seus familiares quanto à necessidade desse procedimento, evitando constrangimentos e estigmatização.

 

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Bibliografia Selecionada:

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual de recomendações para o controle da tuberculose no Brasil. Brasília : Ministério da Saúde, 2011. (Série A. Normas e Manuais Técnicos). Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_recomendacoes_controle_tuberculose_brasil.pdf>. Acesso em: 16 jun 2016.
  2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Técnicas de aplicação e leitura da prova tuberculínica. Brasília : Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/tecnicas_aplicacao_leitura_prova_tuberculinica.pdf>. Acesso em: 16 jun 2016.
  3. Sant’Anna, Clemax Couto. Quimioprofilaxia da tuberculose. Pulmão RJ, 2007; 16(2-4) : p. 82-85. Disponível em: <http://www.sopterj.com.br/profissionais/_revista/2007/n_02-04/06.pdf>. Acesso em: 16 jun 2016.