Algumas abordagens recomendadas para a prevenção e tratamento da saúde mental dos adolescentes, incluindo a depressão são: intervenções psicossociais como aprendizagem social e emocional, estratégias de regulação emocional e resolução de problemas; habilidades interpessoais para lidar adequadamente com dificuldades e situações de vida estressantes; técnicas de atenção plena e assertividade. Essas intervenções causam menos estigmatização em comparação com intervenções que requerem triagem, como o tratamento psicológico ou psiquiátrico, e podem ser implementadas nas escolas, onde podem atingir um número maior de adolescentes, e abordar os fatores de risco. A abordagem multissetorial envolvendo a saúde, educação e proteção de forma conjunta e coordenada à juventude é a mais promissora(1).
A atenção às causas de depressão em adolescente é importante para desenvolver estratégias que o auxiliem: (1) relação mal sucedida com os pares, como perda de parceiro(a), exclusão do grupo de pares, ausência de apoio dos amigos e colegas, e dificuldades pessoais de fazer amigos; (2) dificuldades com a família como falta de independência, comunicação precária e pouca atenção dos pais; (3) experiências escolares como baixo rendimento escolar, conflito com os professores e colegas, expectativas muito elevadas dos pais com relação aos filhos; (4) autoimagem negativa como insatisfação com a própria aparência física, falta de segurança com relação a si próprio e visão de futuro sem projetos ou esperanças(2).
Os profissionais de saúde podem auxiliar a saúde mental do adolescente acolhendo-os com cordialidade e fortalecendo sua autoestima, para que se sintam valorizados e participativos. Lidar com seus anseios e frustrações, sem julgamentos de valores, de forma empática, assertiva e sincera, pode estabelecer uma relação de confiança. Utilização de estratégias que estimulem a criação de fortalecimento de vínculos com adultos da família, professores, profissionais de saúde e amigos; expressem seus próprios sentimentos; estimulam atividades físicas e exposição ao sol, que tem uma relação direta com os efeitos antidepressivos na depressão sazonal com sintomas típicos; e/ou encaminhamento para o profissional da área da saúde mental podem ajudar no tratamento da depressão do adolescente(2,3).
Há consenso de que os adolescentes não são capazes de dar um consentimento completo para tratamento de saúde mental sem consentimento de um responsável, seja da família ou do domínio público. No entanto, os adolescentes têm condições e devem ser envolvidos no processo de tomada de decisão. Quanto à confidencialidade, os adolescentes e pais devem ser informados de que ameaças de danos a si próprios ou a terceiros não serão mantidas em sigilo, mas obrigatoriamente relatados aos órgãos de proteção à criança e adolescente(3,4). No início do primeiro encontro com o adolescente, profissional de saúde deve deixar claro os seus direitos ao sigilo e privacidade. Porém, deve alertá-los quanto aos limites das questões éticas: nada será tratado com os pais ou responsáveis sem que ele seja informado previamente, mesmo quando for necessário romper o sigilo – caso de riscos à saúde ou integridade de sua vida ou de terceiros(3,4).
1. WHO (World Health Organization) [internet]. Guidelines on mental health promotive and preventive interventions for adolescents: helping adolescents thrive. Geneva: World Health Organization. [acesso em 21 jan 2022]. 2020:120p. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/336864/9789240011854-eng.pdf
2. Brasil. Ministério da Saúde [internet]. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Proteger e cuidar da saúde de adolescentes na atenção básica. Brasília-DF. [acesso em 21 jan 2022]. 2017:234p. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/proteger_cuidar_adolescentes_atencao_basica.pdf
3. Bermudez BEBV, Fernandes EC, Oliveira HF, Hagel LD, Guimarães PR, Goldberg TBL. Consulta do adolescente: abordagem clínica, orientações éticas e legais como instrumentos ao pediatra – Manual de Orientação. Departamento Científico de Adolescência .Sociedade Brasileira de Pediatria. Nº 10, Janeiro de 2019:1-14. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/21512c-MO_-_ConsultaAdolescente_-_abordClinica_orientEticas.pdf
4. American Academy of Child and Adolescent Psiquiatry [internet]. Ethical Issues in Clinical Practice. Washington, DC, AACP. [acesso em 21 jan 2022]. Disponível em: https://www.aacap.org/AACAP/Member_Resources/Ethics/Ethics_Committee/Ethical_Issues_in_Clinical_Practice.aspx