A orientação aos cuidadores de pacientes acamados na prevenção de úlceras decúbitas (UD) deve envolver a descrição dessas úlceras, sua formação e formas de prevenir, para que o cuidador entenda a racionalidade de cada ação preventiva e possa então adaptar à sua realidade, conforme as necessidades do indivíduo em risco(1-3). Os pilares para prevenção de UD envolvem(1-3):
· Avaliação frequente: identificar e avaliar diariamente indivíduos de risco para programar medidas de prevenção; avaliar diariamente a integridade da pele da cabeça aos pés (cor, textura, humidade), principalmente as áreas do corpo com maior risco de UD, como as proeminências ósseas (cotovelo, cóccix, etc.);
· Higiene otimizada: prover e garantir a integridade da pele, evitando os fatores irritantes, especialmente as incontinências (trocar fraldas cada vez que urinar e evacuar) – manter a pele limpa, seca e hidratada; banho diário com água morna e sabonete neutro; lavar e secar a pele sem esfregar; aplicar creme hidratante por toda superfície corporal; não usar soluções alcoólicas ou colônias;
· Alimentação adequada: estimular a ingestão de alimentos e líquidos de acordo com as recomendações nutricionais para cada indivíduo, evitando desnutrição e obesidade; oferecer e disponibilizar alimentos naturais e frescos; garantir a ingestão de proteínas; oferecer de 1,5 a 2 litros de líquidos ao dia incluindo água, sucos e chás;
· Proteção da pele contra os efeitos da pressão, fricção e cisalhamento: estar atento ao correto posicionamento do corpo, nas diferentes posições e decúbitos; mudar a posição de 2 em 2 horas e colocar sobre superfície (cama ou cadeira) suportes específicos como travesseiros, almofadas que redistribuam a pressão do corpo sobre as áreas de maior risco, como as proeminências ósseas; não arrastar a pessoa sem levar em conta a tensão do movimento, a fricção e o cisalhamento; observar as alterações da umidade e temperatura entre a pele e o colchão; evitar exposição à umidade, fricção ou deslizamento; usar roupas de cama sem rugas e preferencialmente de algodão; não arrastar o idoso para baixo ou para cima sem as medidas protetivas; evitar elevar a cabeceira mais de 30º; providenciar colchões especiais ou colchonetes para pacientes de risco, tipo caixa de ovos para os de baixo risco e dinâmicos que insuflam e desinsuflam ar para os de maior risco; providenciar almofadas e apoios como suporte nos decúbitos laterais; não usar almofadas com furos centrais pois predispõem à isquemia ou falta de circulação de sangue.
A UD é causada pela falta de circulação de sangue devido ao peso do próprio corpo do paciente, exercendo pressão na pele e causando lesões nos tecidos. Além da pressão, a fricção e o cisalhamento podem causar a UD. A fricção resultante do atrito da pele com a superfície sobre a qual ela está exposta pode causar abrasão ou lesão na superfície da pele como também danos aos tecidos internos da pele. O cisalhamento acontece quando duas camadas de células são puxadas em sentidos contrários, causando ruptura das conexões entre elas, lesionando os tecidos. O cisalhamento é comum nas trocas de leito e nas cabeceiras elevadas em demasia, pois nestas ocasiões acontece atrito da pele com o tecido da cama(2).
Importante saber que algumas áreas do corpo são mais propensas à UD, como as proeminências ósseas que ficam diretamente abaixo da pele, sem a proteção de camadas de tecido muscular e de gordura, merecendo cuidados específicos(1).
O conhecimento dos riscos UD, em adição à imobilidade, ajudam o cuidador realizar um plano de ação diante do quadro clínico do seu paciente: a pele frágil dos idosos; alteração de consciência em indivíduos com certas doenças degenerativas e então a inabilidade de cuidarem de si mesmos; doenças que interferem na circulação sanguínea atrapalhando o fluxo do sangue na nutrição e oxigenação dos tecidos como diabetes, doenças pulmonares ou infecções generalizadas; deficiência nutricional; sudorese aumentada ou diminuída, pois o suor excessivo aumenta a umidade da pele, tirando sua proteção natural e a falta de hidratação leva ao ressecamento da pele; doenças dos nervos, como diabetes e deficiências de vitaminas, que diminuem a sensibilidade de sentir a dor, a pressão sobre a pele, a sensação de umidade e as pregas das roupas, acarretando em lesões graves, principalmente nas saliências ósseas; higiene inadequada; desnutrição e sobrepeso que afetam diretamente na lesão e a cicatrização dos tecidos cutâneos; incontinência urinária que, além de provocar humidade, irrita e/ou agride a pele devido as substancias químicas da urina, expondo macerações e predispondo o aparecimento de UD; e incontinência fecal, prejudicando a higiene e predispondo a infecções, além de irritar a pele e facilitar a ocorrência de feridas que levam à formação de UD(1,3).
1. Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – SBGG. [internet]. Prevenção de Úlcera por Pressão em ILPIs: Guia para Cuidadores de Idosos. [acesso em 14 jan 2022]:14p. Disponível em: https://sbgg.org.br/wp-content/uploads/2015/11/1449493143_Guia-UP-Web.pdf
2. European Pressure Ulcer Advisory Panel, National Pressure Injury Advisory Panel and Pan Pacific Pressure Injury Alliance. Prevenção e tratamento de úlceras/lesões por pressão: guia de consulta rápida. (edição em português brasileiro). EmilyHaesler(Ed.). EPUAP/NPIAP/PPPIA. [acesso em 14 jan 2022]. 2019:46p. Disponível em: https://www.epuap.org/wp-content/uploads/2020/11/qrg-2020-brazilian-portuguese.pdf
3. Universidade de São Paulo – USP. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto. Feridas Crônicas [internet]. Diretrizes para Tratamento. Prática Clínica do Tratamento de Úlceras de Pressão (lesão por pressão). [acesso em 14 jan 2022]. Disponível em: http://eerp.usp.br/feridascronicas/diretriz_tratamento.html