Acredita-se que pessoas com maior probabilidade de aderir às orientações para mudanças de hábitos saudáveis são as que se percebem a si próprias como sendo vulneráveis a uma determinada doença e acreditam que esta tem potenciais consequências graves para a saúde ou para desenvolver suas atividades diárias1. Destaca-se que essa questão pode ser considerada na definição de estratégias que busquem promover as mudanças de hábitos necessárias, sem, entretanto, resultar no estabelecimento de relações de culpabilização ou amedrontamento dos usuários sobre sua condição de saúde. Como uma possibilidade positiva de atuação, o fortalecimento do apoio social deve ser incentivado, uma vez que parece ser um dos fatores psicossociais com maior potencial predicativo da adesão1. Verifica-se que as pessoas com uma rede mais vasta de relações interpessoais tendem a apresentar uma maior probabilidade de seguir as recomendações, particularmente quando estas envolvem mudanças no estilo de vida1.
Em relação às mudanças de hábitos, a adesão ao tratamento é fundamental para o sucesso da terapia instituída pela equipe de saúde2. Entretanto, por envolver outros comportamentos inerentes à saúde que vão além do seguimento da prescrição e englobar aspectos referentes ao sistema de saúde, a fatores socioeconômicos, além de questões relacionadas ao tratamento, ao usuário e à própria condição clínica, promove-la é um desafio nos serviços de saúde2. É importante que esses aspectos sejam discutidos com os usuários e compreendidos pela equipe de saúde a fim de definir as intervenções mais adequadas em situações complexas, difíceis ou que apresentem maior grau de vulnerabilidade3.
Para auxiliar nesse processo, recomenda-se a construção de Projetos Terapêuticos Singulares (PTS) envolvendo os profissionais da equipe de Saúde da Família e do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF)3. O PTS pode contribuir para lidar com essas questões, promovendo a compreensão sobre as relações dos usuários, sua percepção sobre a situação clínica e sua possibilidade de interação para o tratamento1. Da mesma forma, utilizar estratégias baseadas na Abordagem Centrada na Pessoa ou na Medicina Centrada na Pessoa (MCP) pode possibilitar o desenvolvimento de atitudes de consideração positiva incondicional, empatia e autenticidade que facilitem a adesão às orientações, promovendo relações interpessoais autônomas e humanizadas e buscando alcançar um mínimo de acordos entre profissional e usuário para efetividade terapêutica4,5. A literatura demonstra evidência acumulada de que a MCP, por exemplo, promove benefícios sobre a satisfação do usuário, as características da consulta, a utilização dos serviços de saúde, o empoderamento, a melhora dos sintomas ou do desconforto, o alívio de preocupações e sobre a adesão ao tratamento6.
Para estimular a adesão às mudanças de hábitos, é preciso, portanto, o desenvolvimento de interações profissionais-usuários mais abertas e cooperativas onde os profissionais reconheçam e não subestimem a capacidade de tomada de decisão dos usuários, tentem compreender suas crenças e se disponham a colaborar no desenvolvimento de terapêuticas apropriadas às suas características, promovendo, assim, a integralidade da atenção1