O diagnóstico da doença do RGE é clínico, não existe exame padrão-ouro para diagnóstico¹. Os exames complementares, muitas vezes, não esclarecem se o RGE é fisiológico ou patológico, pois, para determinados métodos diagnósticos, ainda não existem padrões bem estabelecidos para o diagnóstico da doença do RGE¹.
O refluxo gastroesofágico (RGE) é considerado um processo fisiológico que ocorre várias vezes por dia em lactentes saudáveis, crianças e adultos². A diferenciação entre RGE fisiológico e doença do RGE é fundamental para decidir se existe ou não a necessidade de tratamento farmacológico². Assim, se o lactente está em bom estado geral, sem desconforto, boa aceitação alimentar, ausência de irritabilidade, de sintomas respiratórios ou otorrinolaringológicos, e adequado ganho pondero-estatural, trata-se de refluxo gastroesofágico (RGE) fisiológico, condição benigna e geralmente auto-limitada¹. Nesse caso deve-se apenas orientar os pais quanto ao quadro.
Em torno de 2/3 dos lactentes saudáveis apresentam refluxo gastroesofágico sem complicações². A regurgitação e o vômito isoladamente não implicam na presença de doença, não necessitando de tratamento farmacológico na maioria dos casos¹.
Os principais sintomas e sinais de alarme que indicam investigação e tratamento são2,3: déficit de ganho de peso, interrupção das mamadas, irritabilidade, distúrbio do sono, tosse, chiado, apnéia, vômitos biliares, hematêmese (vômitos com sangue) ou hematoquezia (sangue vivo nas fezes), febre, letargia, visceromegalias e distensão abdominal. Não há nenhum sintoma ou grupo de sintomas que diagnosticam a doença do RGE, ou que predizem a resposta ao tratamento nos lactentes, porque nesta idade os sintomas não são específicos¹.
A confirmação do diagnóstico poderá ser feita de diferentes maneiras conforme os sinais de alerta que a criança apresentar. Cada sinal de alerta pode necessitar de uma investigação específica³:
a) Vômitos biliares:
– Diagnóstico diferencial: obstrução intestinal, malformações, má rotação intestinal.
– Sugestão de investigação complementar: estudo radiológico contrastado do trato digestivo superior e enema contrastado.
b) Hemorragias digestivas, hematêmese e/ou hematoquezia:
– Diagnóstico diferencial: Esofagite e úlcera péptica.
– Sugestão de investigação complementar: Endoscopia Digestiva Alta.
c) Início dos vômitos após os seis meses de vida:
– Diagnóstico diferencial: Alergia alimentar.
– Sugestão de investigação complementar: retirada de proteínas do leite de vaca e hemograma, dosagem de IGE sérica, testes de sensibilidade cutânea.
d) Vômitos em jato/forçados continuamente:
– Diagnóstico diferencial: estenose de piloro.
– Sugestão de investigação complementar: ultrassonografia de abdome e estudo radiológico contrastado do trato digestivo superior.
e) Comprometimento do crescimento e/ou desenvolvimento:
– Diagnóstico diferencial: oferta insuficiente, infecções (principalmente urinárias), alergia alimentar, anormalidade anatômica, desordens neurológicas e negligência e abuso.
– Sugestões de investigação complementar: Anamnese alimentar e observação de sucção e pega de seio ou mamadeira; urocultura; retirada de proteína do leite de vaca; estudo radiológico contrastado; abordagem familiar e multidisciplinar na suspeita de negligência e/ou abuso.
Na abordagem do refluxo, é importante tranquilizar os pais quanto ao quadro, seja ele fisiológico ou patológico. Deve-se compreender o ambiente e as condições de vida da família, orientar quanto ao curso da doença, a evolução benigna na maioria das crianças e estar atendo a ouvir as crenças e temores familiares³. Pode-se orientar a elevação da cabeceira da cama dos bebes (C), lembrando que a posição prona e decúbito lateral são contraindicados pelo risco de morte súbita (A)³. Em lactentes com mais de 4 meses que não amamentam no peito pode-se orientar espessamento da dieta utilizando 1 a 2 colheres de sopa de cereal de arroz ou milho em cada mamadeira³.
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