Como diagnosticar doença do refluxo gastroesofágico em lactentes?

| 15 setembro 2015 | ID: sofs-21808
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,
Graus da Evidência:

O diagnóstico da doença do RGE é clínico, não existe exame padrão-ouro para diagnóstico¹. Os exames complementares, muitas vezes, não esclarecem se o RGE é fisiológico ou patológico, pois, para determinados métodos diagnósticos, ainda não existem padrões bem estabelecidos para o diagnóstico da doença do RGE¹.

O refluxo gastroesofágico (RGE) é considerado um processo fisiológico que ocorre várias vezes por dia em lactentes saudáveis, crianças e adultos². A diferenciação entre RGE fisiológico e doença do RGE é fundamental para decidir se existe ou não a necessidade de tratamento farmacológico². Assim, se o lactente está em bom estado geral, sem desconforto, boa aceitação alimentar, ausência de irritabilidade, de sintomas respiratórios ou otorrinolaringológicos, e adequado ganho pondero-estatural, trata-se de refluxo gastroesofágico (RGE) fisiológico, condição benigna e geralmente auto-limitada¹. Nesse caso deve-se apenas orientar os pais quanto ao quadro.

Em torno de 2/3 dos lactentes saudáveis apresentam refluxo gastroesofágico sem complicações². A regurgitação e o vômito isoladamente não implicam na presença de doença, não necessitando de tratamento farmacológico na maioria dos casos¹.


Os principais sintomas e sinais de alarme que indicam investigação e tratamento são2,3: déficit de ganho de peso, interrupção das mamadas, irritabilidade, distúrbio do sono, tosse, chiado, apnéia, vômitos biliares, hematêmese (vômitos com sangue) ou hematoquezia (sangue vivo nas fezes), febre, letargia, visceromegalias e distensão abdominal. Não há nenhum sintoma ou grupo de sintomas que diagnosticam a doença do RGE, ou que predizem a resposta ao tratamento nos lactentes, porque nesta idade os sintomas não são específicos¹.

A confirmação do diagnóstico poderá ser feita de diferentes maneiras conforme os sinais de alerta que a criança apresentar. Cada sinal de alerta pode necessitar de uma investigação específica³:

a) Vômitos biliares:

– Diagnóstico diferencial: obstrução intestinal, malformações, má rotação intestinal.

– Sugestão de investigação complementar: estudo radiológico contrastado do trato digestivo superior e enema contrastado.

b) Hemorragias digestivas, hematêmese e/ou hematoquezia:

– Diagnóstico diferencial: Esofagite e úlcera péptica.

– Sugestão de investigação complementar: Endoscopia Digestiva Alta.

c) Início dos vômitos após os seis meses de vida:

– Diagnóstico diferencial: Alergia alimentar.

– Sugestão de investigação complementar: retirada de proteínas do leite de vaca e hemograma, dosagem de IGE sérica, testes de sensibilidade cutânea.

d) Vômitos em jato/forçados continuamente:

– Diagnóstico diferencial: estenose de piloro.

– Sugestão de investigação complementar: ultrassonografia de abdome e estudo radiológico contrastado do trato digestivo superior.

e) Comprometimento do crescimento e/ou desenvolvimento:

– Diagnóstico diferencial: oferta insuficiente, infecções (principalmente urinárias), alergia alimentar, anormalidade anatômica, desordens neurológicas e negligência e abuso.

– Sugestões de investigação complementar: Anamnese alimentar e observação de sucção e pega de seio ou mamadeira; urocultura; retirada de proteína do leite de vaca; estudo radiológico contrastado; abordagem familiar e multidisciplinar na suspeita de negligência e/ou abuso.

Na abordagem do refluxo, é importante tranquilizar os pais quanto ao quadro, seja ele fisiológico ou patológico. Deve-se compreender o ambiente e as condições de vida da família, orientar quanto ao curso da doença, a evolução benigna na maioria das crianças e estar atendo a ouvir as crenças e temores familiares³. Pode-se orientar a elevação da cabeceira da cama dos bebes (C), lembrando que a posição prona e decúbito lateral são contraindicados pelo risco de morte súbita (A)³. Em lactentes com mais de 4 meses que não amamentam no peito pode-se orientar espessamento da dieta utilizando 1 a 2 colheres de sopa de cereal de arroz ou milho em cada mamadeira³.

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Bibliografia Selecionada:

  1. Ferreira, C T et al. Doença do refluxo gastroesofágico: exageros, evidências e a prática clínica. J. Pediatr. (Rio J.). 2014, vol.90, n.2, pp. 105-117.
  2. American Academy of Pediatrics. Gastroesophageal Reflux: Management Guidance for the Pediatrician. PEDIATRICS. v. 131, n. 5, 2013: 1684-95.
  3. Bruning GE, Scherer JI. Refluxo gastroesofágico na criança. In Tratado de medicina de família e comunidade. Orgs GUSSO G. e LOPES J. M. C. São Paulo: ARTMED. V.2. 2012. p909-16.