Como deve ser feita e qual o papel do Médico de Família e Comunidade na avaliação pré-operatória?

| 21 dezembro 2009 | ID: sofs-3545
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,
Graus da Evidência: , ,

Pacientes sem problemas de saúde importantes, especialmente abaixo dos 50 anos, estão sob risco muito baixo de complicações peri-operatórias. Sua avaliação pré-operatória consiste em uma anamnese completa e exame físico.
Um enfoque especial deve ser dado à capacidade funcional, tolerância ao exercício e sinais e sintomas cardiopulmonares, de forma a revelar alguma doença previamente não conhecida que possa necessitar de avaliação antes da cirurgia.
Uma história hematológica deve ser obtida para detectar coagulopatias que podem contribuir para um sangramento excessivo na cirurgia. Fatores que podem sugerir discrasia sanguínea incluem:

A avaliação pré-operatória mais estudada refere-se à abordagem do risco cardíaco em pacientes que se submeterão a cirurgias não cardiológicas.
A presença de condições cardíacas ativas, como angina instável ou classe III-IV, IAM recente, IC descompensada, arritmias significativas ou doença valvular grave, requer abordagem específica do problema.
Não havendo essas condições e se tratando de cirurgia de baixo risco (endoscopias, cirurgias ambulatoriais, da mama ou de catarata), o procedimento pode ser realizado sem nenhuma intervenção clínica.
Para a realização de cirurgias vasculares ou de risco intermediário (procedimento intratorácico, intraperitoneal, de cabeça e pescoço, ortopédico ou prostático), é importante avaliar a capacidade funcional do paciente. Se ele não realizou um teste de esforço recente, é possível estimá-la através da habilidade em realizar as atividades diárias.
Uma performance igual ou superior a 4 MET’s, como subir um lance de escadas, andar em subida ou caminhar no plano por volta de 6 km/h, na ausência de sintomas, indica que o paciente pode se submeter à cirurgia.
Para aqueles em que a capacidade funcional é menor que 4 MET’s ou não é possível avaliá-la, deve-se verificar a presença dos fatores de risco para complicação peri-operatória cardiovascular: doença cardíaca isquêmica, insuficiência cardíaca, AVC prévio, DM em uso de insulina e insuficiência renal com creatinina sérica maior que 2,0mg/dl. Na ausência desses fatores, a cirurgia pode ser realizada sem risco adicional.
Na presença de 1 ou 2 fatores, é recomendado o controle de frequência cardíaca com beta-bloqueador nos pacientes em que ele está indicado ou investigação não invasiva que possa mudar o manejo clínico. O mesmo vale na presença de 3 ou mais fatores e cirurgia de risco intermediário.
No caso de cirurgia vascular em paciente com mais de 2 fatores de risco, a avaliação da condição cardíaca deve ser considerada.
Pacientes portadores de doenças crônicas devem ter seu quadro compensado antes de se submeter a procedimento cirúrgico eletivo.
Quanto à competência do Médico de Família e Comunidade, ele deve estar habilitado para atender as demandas mais frequentes de sua comunidade, podendo encaminhar os casos em que não se sinta capaz de manejar para o especialista focal, mantendo sua responsabilidade pelo plano terapêutico do usuário.


Bibliografia Selecionada:

  1. ACC/AHA 2007 Perioperative Guidelines. Disponível em: https://circ.ahajournals.org/content/116/17/e418.full.pdf+html Acesso em21 dezembro 2009.
  2. Adler JS, Cheng HQ. Preoperative evaluation & perioperative management. In: McPhee SJ, Papadakis MA. Current medical diagnosis & treatment. 48rd ed. New York: McGraw-Hill; 2009. Chap 3.