O ASLO (Anticorpo antiestreptolisina O) é um anticorpo que o nosso organismo produz para combater o estreptococo durante ou logo após uma infecção de garganta. Portanto, ela serve apenas para dizer se a criança teve infecção por esta bactéria. Na ausência das manifestações típicas da Febre Reumática (FR), a ASLO não tem nenhum valor para o diagnóstico desta doença. Oitenta por cento das crianças com infecção de garganta pelo estreptococo apresentam elevação da ASLO, porém somente 3% delas poderão apresentar Febre Reumática.
Os títulos de ASLO podem variar com a idade, estações climáticas e áreas geográficas. Títulos de 200 a 300 unidades Todd/ml são comuns em crianças sadias na idade escolar; após uma faringite estreptocócica, o pico de resposta imune é alcançado em quatro a seis semanas (geralmente entre a segunda e terceira semana da FR). O teste pode manter níveis elevados por meses, mesmo após infecções estreptocócicas não complicadas. Os títulos do anticorpo diminuem rapidamente nos primeiros meses e, após o sexto mês, passam a cair lentamente.
Atualmente, para diagnosticar o primeiro surto de FR utilizam-se os critérios de Jones modificados. Esses critérios foram revistos para incluir o uso do ecocardiograma e definidos pela:
– American Heart Association (AHA) em 2015
– New Zealand Heart Foundation guideline em 2014
– Australian Acute Rheumatic Fever (ARF) guideline em 2012
Existem variações entre as diretrizes, mas em qualquer uma destas, para diagnosticarmos um surto inicial de febre reumática o paciente precisa apresentar, além de evidências laboratoriais de infecção pelo estreptococo do grupo A prévia (cultura de secreção de orofaringe ou aumento de ASLO/outros anticorpos estreptococicos),2 critérios maiores ou 1 maior e 2 menores.
Critérios de diagnóstico:
MANIFESTAÇÃO | CRITÉRIOS DE JONES PARA POPULAÇÕES DE BAIXO RISCO | CRITÉRIOS DE JONES PARA POPULAÇÕES DE ALTO RISCO | GUIDELINE AUSTRALIANO | GUIDELINE NEOZELANDÊS |
Cardite clínica | maior | maior | maior | maior |
Cardite subclínica (pelo ECO) | maior | maior | maior | maior |
Poliartrite | maior | maior | maior | maior |
Monoartrite | Não aplicado | maior | maior | maior |
Poliartralgia | menor | maior | maior | menor |
Monoartralgia | Não aplicado | menor | menor | Não aplicado |
Coréia | maior | maior | maior | maior |
Eritema marginado | maior | maior | maior | maior |
Nódulos subcutâneos | maior | maior | maior | maior |
Intervalo PR prolongado | menor | menor | menor | menor |
Elevação de VHS ou PCR | menor | menor | menor | menor |
Febre | menor | menor | menor | menor |
*Critérios de Jones estratifica por grupo de risco locais onde dados epidemiológicos fiáveis estão disponíveis:
-baixo risco: incidência <2 por 100.000 crianças com idades entre 5-14 anos por ano ou a prevalência de doença reumática cardíaca ≤ 1 por 1.000 habitantes por ano (AHA Classe IIa, Nível C)
-moderado/alto risco: crianças não pertencentes de modo claro à população de baixo risco (AHA Classe I Nível C)
LEITURA COMPLEMENTAR:
A Febre Reumática é uma doença inflamatória que ocorre após um episódio de amigdalite bacteriana tratada inadequadamente – pode atingir as articulações, o coração e o cérebro, deixando seqüelas cardíacas graves, com conseqüências por toda a vida e podendo levar à morte. A doença ocorre em surtos, se não for prevenida, e a cada surto aumenta a chance de ocorrerem lesões cardíacas graves.
A incidência de FR tem apresentado redução progressiva em todo o mundo, principalmente em países com melhores índices de desenvolvimento humano, onde tem chegado a níveis de controle quase pleno. Essa tendência foi observada mesmo antes da existência da penicilina e de certos agentes quimioterápicos, que mais tarde passaram a ser usados para controle das infecções estreptocócicas.
É possível que o controle da doença em países desenvolvidos esteja mais relacionado à melhoria das condições socioeconômicas do que tão somente à introdução de esquemas terapêuticos profiláticos.
No entanto, nos países em desenvolvimento, enquanto não se conseguir um melhor nível de desenvolvimento humano para a população, com menos desigualdade social, as profilaxias (primária e secundária) na atenção à saúde individual precisam ser adequadamente ministradas.
O uso sistemático de penicilina, adotado oficialmente desde 1954 pela OMS para a profilaxia da FR, é um exemplo de eficácia de intervenção preventiva, em razão dos excelentes resultados observados. Sabe-se que o tratamento precoce e adequado das faringoamigdalites estreptocócicas do grupo A com penicilina até o nono dia de sua instalação pode erradicar a infecção e evitar um primeiro surto de FR em um indivíduo suscetível – profilaxia primária- ou um novo surto em quem já teve a doença anteriormente – profilaxia secundária.