As Medicinas Alternativas e Complementares (MAC) podem ser utilizadas de forma integrada com a medicina convencional no tratamento de câncer?

| 6 janeiro 2016 | ID: sofs-21898
Solicitante:
CIAP2: ,
DeCS/MeSH: ,
Graus da Evidência:

As Medicinas Alternativas e Complementares (MAC) podem ser utilizadas no tratamento do câncer de forma integrada à medicina convencional – cirurgia, quimioterapia, radioterapia e terapia molecular, visto que podem estimular a sua efetividade, assim como reduzir ou prevenir sintomas adversos do tratamento.

As MAC são classificadas em 5 grupos:

1) Práticas baseadas na biologia: fitoterapia, vitaminas, outros suplementos dietéticos;

2) Técnicas mente-corpo: yoga, meditação, visualização; artes expressivas (musicoterapia, arteterapia, dança);

3) Práticas de manipulação corporal: massagem, reflexologia, exercício;

4) Terapias energéticas: terapia do campo magnético, reiki, toque terapêutico, Qi-gong;

5) Sistemas médicos tradicionais: medicina tradicional chinesa (MTC) e medicina ayurvédica1.


Acupuntura

A acupuntura pode aliviar os incômodos da xerostomia, da náusea tardia2 (um dos piores efeitos colaterais da quimioterapia, o qual pode durar por horas ou dias e é muito mais difícil de tratar do que a náusea inicial), da dor (Recomendação 1A) e da cessação do tabagismo (Recomendação 2C). Dois acupontos podem ser estimulados para combater a náusea: o PC6, E362,3, como mostra a figura a seguir.

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Fitoterapia

As plantas medicinais podem ser indicadas em casos de constipação, diarreia, náusea, vômito e provenientes do tratamento convencional. Por exemplo:

– Zingiber officinale (gengibre)4,5

Indicação: Digestiva, antisséptico, para os incômodos da náusea e vômito.
Precauções: Não tomar doses diárias de extratos do pó superiores a 2g. Doses superiores a 6g diárias podem produzir úlceras ou gastrites.
Uso em crianças: Evitar o uso em menores de 6 anos.
Interação medicamentosas: Evitar uso concomitante com hipoglicemiante e anticoagulante, pois pode aumentar o risco de sangramento. O uso concomitante de gengibre com guaco, agrião e hortelã potencializa o efeito expectorante.
Efeitos colaterais: Evitar em quadros de obstrução das vias biliares e em pacientes com sudorese excessivas, pois pode aumentar a transpiração. Dose elevadas podem causar arritimia, cólicas intestinais, hipotensão arterial, tonturas e depressão do sistema nervoso central. Algumas pessoas podem ser mais sensíveis ao sabor picante forte, enquanto que outros podem sentir alguma azia, diarreia e desconforto no estômago geral, embora estes casos sejam muito raros. Alguns casos sugerem ainda que o consumo excessivo de gengibre na parte final do dia podem estimular os níveis de atenção do organismo, e por esse facto adormecer pode tornar-se mais difícil.
Contraindicações: Infuso: contraindicado para pessoas com cálculos biliares, irritação gástrica e hipertensão arterial. Tintura: Não usar em gestantes, lactantes, crianças menores de dois anos, alcoolistas e diabéticos. O uso é contra-indicado para pessoas com cálculos biliares, gastrite e hipertensão arterial.

Mesmo que os profissionais não se sintam adepto a orientar e/ou prescrição de plantas medicinais (por não conhecer e/ou não acreditar) como tratamento complementar aos pacientes com câncer é muito importante que o profissional pergunte se o usuário faz uso ou tem alguma planta no seu quintal que usa como medicinal, pelo motivo que as plantas têm princípios-ativos, podem interagir, causar reações adversas, interações medicamentosas e contraindicações6. Por exemplo, há plantas medicinais que são contraindicadas aos pacientes com câncer, como Echinacea purpurea (equinácea) ou Hypericum perforatum (, podendo gerar interferências no tratamento convencional quimioterápico2.

A planta medicinal é uma ferramenta mediadora para educação popular, educação permanente na perspectiva da promoção de saúde, tratamento e prevenção de doenças. Uma simples conversa sobre o uso de plantas medicinais pode favorecer a interação com o usuário, pois a ação terapêutica já se inicia. Nas conversas com o usuário, nos grupos terapêuticos há estímulo por parte do usuário ao se expressar, tirar dúvidas, relatar sobre o uso, simultaneamente com outros recursos terapêuticos, pois, o usuário ainda tem medo de dizer para o profissional que usa planta. Este clima de valorização e diálogo sobre os recursos e práticas autônomas e populares locais sobre plantas é um fator favorável no uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos6.

Práticas de manipulação corporal e atividade física

A massagem para auxiliar na drenagem linfática. Os exercícios físicos praticados por 30 a 60 minutos diariamente podem ajudar a prevenir o câncer de cólon2.

Técnicas mente-corpo e energéticas

O yoga para reduzir estresse, insônia e promover alongamento. A musicoterapia não têm um efeito sobre as células cancerosas, mas pode criar um estado bem-estar à vida dos pacientes oncológicos após um determinado tratamento. O toque terapêutico e o reiki também têm sido usados com bons resultados nos pacientes oncológicos2.

Para ampliar o estudo nesta temática, recomenda-se consultar fontes sobre as terapias complementares baseadas em evidências e em questões legais pertinentes a sua aplicação ilustradas no artigo de Siegel e Barros7. Outra fonte que pode ser consultada é a resenha do livo Integrative Strategies for Cancer Patients. O livro enfatiza a importância do papel das MAC no tratamento do câncer e da comunicação do paciente com a sua equipe médica, incluindo o terapeuta complementar8.

É importante a sensibilização dos profissionais da atenção primária à saúde para questionarem sobre o uso das MAC, é necessário, pois muitos pacientes oncológicos usam várias práticas e produtos alternativos, sem o conhecimento de seus médicos e equipe de saúde. Desta forma, um diálogo horizontal entre profissional e o paciente oncológico pode evitar automedicação imprudente e disponibilizar informações importantes sobre os prós e contras entre associações entre MAC e tratamento convencional6.

Categoria da Evidência – A acupuntura é recomendada, também, como terapia complementar quando a dor é pouco controlada (Recomendação 1A)2. Ou, quando os pacientes de câncer não param de fumar, apesar do uso de outras op­ções, aplicações de acupuntura são recomendadas para assistir na cessação do tabagismo (Recomendação 2C)2

Bibliografia Selecionada:

  1. Siegel P, Barros NF de. O que é a Oncologia Integrativa? Cad. Saúde Colet. 2013; 21 (3): 348-54 Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cadsc/v21n3/v21n3a18.pdf [Acesso em 03 nov 2014]
  2. Siegel P, Barros NF. Por que as Pesquisas em Oncologia Integrativa são Importantes? Revista Brasileira de Cancerologia. 2013; 59(2): 249-253. Disponível em: http://www1.inca.gov.br/rbc/n_59/v02/pdf/12-por-que-as-pesquisas-em-oncologia-integrativa-sao-importantes.pdf [Acesso em 03 nov 2014]
  3. Maciocia G. Os Fundamentos da Medicina Chinesa – Giovanni Maciocia,  2ed. São Paulo: Roca, 2014.
  4. ANVISA. Formulário Nacional fitoterápicos. p.100, 2011. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/hotsite/farmacopeiabrasileira/conteudo/Formulario_de_Fitoterapicos_da_Farmacopeia_Brasileira.pdf [Acesso em: 11 ago 2014].
  5. Londrina. Programa Municipal de Fitoterapia, 2012. Disponível em: https://www.telemedicina.ufsc.br/rctm/public/modules/stt/dados/telessaude/3996/1399319428. pdf [Acesso em: 05 mai.2014]
  6. Antonio GD; Tesser CD;  Moretti-Pires RO. Contribuições das plantas medicinais para o cuidado e a promoção da saúde na atenção primária. Interface (Botucatu) [online]. 2013; 17 (46) : 615-633. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1414-32832013005000014 [Acesso em: 25 mai. 2014].
  7. Siegel P, Barros NF de. Oncologia integrativa, uma prática em construção. Cad. naturol. terap. complem. 2013; 2(2): 51-61. Disponível em: http://www.portaldeperiodicos.unisul.br/index.php/CNTC/article/view/1853[Acesso em 03 nov 2014]
  8. Siegel P, Barros NF de. Resenha do livro de Ladas EJ, Kelly KM. Integrative Strategies for Cancer Patients. Singapore: World Scientific Publishing Co. 2012. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2013; 18 (11) : 3443-3444.  http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232013001100033[Acesso em 03 nov 2014]