A prática de instilação de lidocaína gel no canal uretral masculino para inserção de cateter vesical é cientificamente provada?

| 29 julho 2015 | ID: sofs-21587
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: , ,
Graus da Evidência:

De acordo com a ANVISA (1), há indicação de introduzir gel lubrificante estéril, de uso único, com ou sem anestésico, na uretra masculina, durante a técnica de inserção do cateter vesical (Grau da evidência A-III). Segundo Homenko (2), a recomendação é a utilização de substâncias hidrossolúveis, como a lidocaína geleia a 2%, na introdução do cateter.

Nos pacientes do sexo masculino, sugere-se a instilação uretral de 15 a 20 ml, enquanto que, nas pacientes do sexo feminino, esta lubrificação pode ser realizada diretamente no cateter urinário. A lubrificação do cateter é realizada com o intuito de evitar as complicações passíveis de ocorrer no ato da cateterização vesical: traumatismo uretral, dor e o falso trajeto (3-5). Deve ser feita em todos os casos, sobretudo nos homens, cuja uretra chega a ter um comprimento médio cinco vezes maior que a uretra feminina. Não foram encontradas menções a respeito de contra-indicações para seu uso.


Complementação – O cateterismo vesical é um procedimento clínico amplamente praticado e de grande valor para o diagnóstico e tratamento de vários processos patológicos. Tem como principais indicações a drenagem vesical por obstrução crônica, disfunção vesical (bexiga neurogênica), drenagem vesical após cirurgias urológicas e pélvicas, medida de diurese em pacientes graves, controle da higienização perineal e conforto de pacientes incontinentes de urina e comatosos (3).

Durante muito tempo acreditou-se que a melhor forma de tratar pacientes com bexiga neurogênica ou pacientes que apresentavam incontinência urinária, seria a utilização de cateteres urinários de demora (2). Sabemos hoje que o cateterismo vesical intermitente beneficia uma série de pacientes com bexiga neurogênica, e é considerado como a melhor solução para o esvaziamento da bexiga nos pacientes com disfunção vesicoesfincteriana que apresentam grande capacidade funcional da bexiga e alta resistência uretral (2,6). Este método está indicado para eliminar a urina residual, ajudar a prevenir a infecção urinária, evitar a incontinência urinária e mesmo as lesões do trato urinário superior, além de diminuir a incidência de formação de cálculos vesicais e mimetizar o processo normal de micção (2).

O cateterismo vesical constitui um meio importante de transporte da flora bacteriana uretral, para o interior da bexiga, sendo seu tempo de permanência um fator crucial para a colonização e infecção (bacteriana e fúngica) da via urinária (1,3). Sabe-se que o crescimento bacteriano inicia-se após a instalação do cateter, numa proporção de 5-10% ao dia, e estará presente em todos os pacientes ao final de quatro semanas (1). Portanto, tendo em vista a redução dos índices de infeccão do trato urinário nestes pacientes, imediatamente depois de cessados os motivos que indicaram o uso do dispositivo, a sonda deverá obrigatoriamente ser retirada (1,7).

Quanto à técnica de inserção do cateter, seguem as recomendações da ANVISA (1):

*Gel lubrificante de uso único, com ou sem anestésico
**Uso para cateter permanente

Bibliografia Selecionada:

  1. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Medidas de prevenção de infecção relacionada à assistência à saúde. Brasília, ANVISA. 2013. Acesso em 29/julho/2015. Disponível em: http://www20.anvisa.gov.br/segurancadopaciente/images/documentos/livros/Livro4-MedidasPrevencaoIRASaude.pdf
  2. Homenko, AS; Lelis, MAS; Cury, J. Verdades e mitos no seguimento de pacientes com cateteres vesicais de demora. Sinopse de urologia, v. 7, n. 2, p. 35-40, 2003. Acesso em 29/julho/2015. Disponível em: http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=2297
  3. Lenz, LL. Cateterismo vesical: cuidados, complicações e medidas preventivas. Arquivos Catarinenses de Medicina, v. 35, n. 1, p. 82-91, 2006. Acesso em 29/julho/2015. Disponível em: http://www.acm.org.br/revista/pdf/artigos/361.pdf
  4. Wyndaele JJ. Complications of intermittent catheterization: their prevention and treatment. Spinal Cord (2002)  40 (10): 536-541. Acesso em 29/julho/2015. Disponível em: http://www.nature.com/sc/journal/v40/n10/pdf/3101348a.pdf
  5. Igawa Y; Wyndaele JJ; Nishizawa O. Catheterization: Possible complications and their prevention and treatment. International Journal of Urology, 2008, 15: 481–485. Acesso em 29/julho/2015. Disponível em: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1442-2042.2008.02075.x/full
  6. Sociedade Brasileira de Urologia. Bexiga urinária: cateterismo intermitente. (Projeto Diretrizes) AMB/CFM; 2008. Acesso em 29/julho/2015. Disponível em: http://www.projetodiretrizes.org.br/8_volume/12-Bexiga.pdf
  7. Hooton TM et al. Diagnosis, prevention, and treatment of catheter-associated urinary tract infection in adults. Clin Infect Dis. 2010, 50 (5): 625-663. Acesso em 29/julho/2015. Disponível em: http://cid.oxfordjournals.org/content/50/5/625.full.pdf+html