De acordo com a ANVISA (1), há indicação de introduzir gel lubrificante estéril, de uso único, com ou sem anestésico, na uretra masculina, durante a técnica de inserção do cateter vesical (Grau da evidência A-III). Segundo Homenko (2), a recomendação é a utilização de substâncias hidrossolúveis, como a lidocaína geleia a 2%, na introdução do cateter.
Nos pacientes do sexo masculino, sugere-se a instilação uretral de 15 a 20 ml, enquanto que, nas pacientes do sexo feminino, esta lubrificação pode ser realizada diretamente no cateter urinário. A lubrificação do cateter é realizada com o intuito de evitar as complicações passíveis de ocorrer no ato da cateterização vesical: traumatismo uretral, dor e o falso trajeto (3-5). Deve ser feita em todos os casos, sobretudo nos homens, cuja uretra chega a ter um comprimento médio cinco vezes maior que a uretra feminina. Não foram encontradas menções a respeito de contra-indicações para seu uso.
Complementação – O cateterismo vesical é um procedimento clínico amplamente praticado e de grande valor para o diagnóstico e tratamento de vários processos patológicos. Tem como principais indicações a drenagem vesical por obstrução crônica, disfunção vesical (bexiga neurogênica), drenagem vesical após cirurgias urológicas e pélvicas, medida de diurese em pacientes graves, controle da higienização perineal e conforto de pacientes incontinentes de urina e comatosos (3).
Durante muito tempo acreditou-se que a melhor forma de tratar pacientes com bexiga neurogênica ou pacientes que apresentavam incontinência urinária, seria a utilização de cateteres urinários de demora (2). Sabemos hoje que o cateterismo vesical intermitente beneficia uma série de pacientes com bexiga neurogênica, e é considerado como a melhor solução para o esvaziamento da bexiga nos pacientes com disfunção vesicoesfincteriana que apresentam grande capacidade funcional da bexiga e alta resistência uretral (2,6). Este método está indicado para eliminar a urina residual, ajudar a prevenir a infecção urinária, evitar a incontinência urinária e mesmo as lesões do trato urinário superior, além de diminuir a incidência de formação de cálculos vesicais e mimetizar o processo normal de micção (2).
O cateterismo vesical constitui um meio importante de transporte da flora bacteriana uretral, para o interior da bexiga, sendo seu tempo de permanência um fator crucial para a colonização e infecção (bacteriana e fúngica) da via urinária (1,3). Sabe-se que o crescimento bacteriano inicia-se após a instalação do cateter, numa proporção de 5-10% ao dia, e estará presente em todos os pacientes ao final de quatro semanas (1). Portanto, tendo em vista a redução dos índices de infeccão do trato urinário nestes pacientes, imediatamente depois de cessados os motivos que indicaram o uso do dispositivo, a sonda deverá obrigatoriamente ser retirada (1,7).
Quanto à técnica de inserção do cateter, seguem as recomendações da ANVISA (1):
Reunir o material para higiene íntima, luvas de procedimento e luvas de procedimento estéril, campo estéril, sonda vesical de calibre adequado, gel lubrificante*, antisséptico, bolsa coletora de urina**, seringa**, agulha** e água destilada**;
Higienizar as mãos com água e sabonete líquido ou preparação alcoólica para as mãos;
Realizar a higiene íntima do paciente com água e sabonete líquido;
Retirar luvas de procedimento, realizar higiene das mãos com água e sabonete líquido ou preparação alcoólica para as mãos.
Montar campo estéril;
Organizar material estéril no campo (seringa, agulha, sonda, coletor urinário, gaze estéril);
Calçar luva de procedimento estéril;
Conectar sonda ao coletor de urina, testando o balonete** (sistema fechado com sistema de drenagem com válvula anti-refluxo);
Lubrificar a sonda com gel; lubrificante estéril (antes de iniciar a antissepsia);
Realizar a antissepsia da região perineal com solução padronizada;
Introduzir gel lubrificante na uretra em homens;
Lubrificar a ponta da sonda com gel lubrificante em mulheres;
Seguir técnica asséptica de inserção;
Observar drenagem de urina pelo cateter e/ou sistema coletor, que deverá ficar abaixo do nível da bexiga, sem contato com o chão; observar para manter o fluxo desobstruído;
Fixar corretamente o cateter no hipogástrio no sexo masculino e na raiz da coxa em mulheres (evitando traumas)**; e
Assegurar o registro em prontuário e no dispositivo para monitoramento de tempo de permanência e complicações.
*Gel lubrificante de uso único, com ou sem anestésico
**Uso para cateter permanente
Homenko, AS; Lelis, MAS; Cury, J. Verdades e mitos no seguimento de pacientes com cateteres vesicais de demora. Sinopse de urologia, v. 7, n. 2, p. 35-40, 2003. Acesso em 29/julho/2015. Disponível em: http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=2297
Lenz, LL. Cateterismo vesical: cuidados, complicações e medidas preventivas. Arquivos Catarinenses de Medicina, v. 35, n. 1, p. 82-91, 2006. Acesso em 29/julho/2015. Disponível em: http://www.acm.org.br/revista/pdf/artigos/361.pdf