Sim. Carbamazepina e oxcarbazepina são drogas de primeira escolha no tratamento da neuralgia do trigêmeo e oferecem controle inicial significativo da dor em quase 90% dos pacientes. Possuem o mesmo mecanismo de ação, o bloqueio do canal de sódio voltagem-dependente de forma dependente da frequência, resultando na estabilização de membranas neurais hiperexcitadas e na inibição de disparos repetitivos. |
A neuralgia do trigêmeo (NT) é uma dor súbita, unilateral, breve, lancinante e recorrente na distribuição de um ou mais ramos do quinto nervo craniano. O diagnóstico é feito apenas com anamnese baseada nas características da dor. A dor ocorre em paroxismos, que podem durar de alguns segundos a vários minutos. A frequência dos paroxismos varia de alguns a centenas de ataques por dia. Estudos em países, como Estados Unidos e Holanda, relataram taxas de incidência, variando entre 5,9 e 12,6 por 100.000. A hipótese fisiopatológica atual para a NT clássica sugere que os mecanismos de dor são precipitados por uma compressão proximal da raiz sensorial do trigêmeo próximo ao tronco encefálico (zona de entrada da raiz) por um vaso sanguíneo (artéria ou veia). A zona de entrada da raiz é considerada uma área vulnerável à desmielinização. De acordo com a nova classificação e gradação diagnóstica da neuralgia do trigêmeo emitida pela International Association for the Study of Pain (IASP), a NT é distinguida em três categorias diagnósticas – clássica, causada por compressão vascular produzindo alterações anatômicas na raiz do nervo trigêmeo; secundária, devido a uma doença neurológica subjacente identificável e idiopática, quando mesmo após Ressonância Magnética ou outra investigação, a etiologia da NT permanece incerta.
A base do manejo são os tratamentos farmacológicos preventivos, embora tratamentos agudos que funcionam rapidamente devem ser usados para exacerbações graves. A monoterapia é preferida como tratamento preventivo, porém até um terço dos pacientes requer politerapia. A carbamazepina é conhecida por sua interação metabólica com outros medicamentos, o que pode ser problemático em idosos com comorbidades. A oxcarbazepina causa menos efeitos colaterais e tem menor potencial de interações medicamentosas do que a carbamazepina, embora possa causar depressão excessiva do sistema nervoso central ou hiponatremia relacionada à dose. A tolerabilidade de ambas as drogas está relacionada ao gênero; as mulheres são significativamente menos tolerantes. A resposta individual a ambas as drogas varia consideravelmente, portanto, se uma não for eficaz, a outra pode ser tentada.
Outras drogas como lamotrigina, gabapentina, pregabalina e baclofen, além de aplicação de toxina botulínica tipo A, podem ser usados sozinhos ou como terapia complementar.
Os tratamentos abortivos da dor não são úteis no manejo da neuralgia do trigêmeo devido à brevidade dos ataques
O tratamento cirúrgico deve ser considerado se a dor é mal controlada ou se os tratamentos médicos são mal tolerados. A descompressão microvascular trigeminal é a cirurgia de primeira linha em pacientes com conflito neurovascular trigêmeo, enquanto tratamentos cirúrgicos neuroablativos podem ser oferecidos se a imagem de ressonância magnética não mostrar qualquer contato neurovascular ou quando os pacientes são considerados muito frágeis para descompressão microvascular ou não desejam correr o risco.
Estudos recentes identificaram uma nova classe de bloqueadores dos canais de sódio, levando à descoberta da vixotrigina. Os dados pré-clínicos e clínicos suportam um perfil de segurança adequado para uso potencial em dor neuropática e outras condições. Demonstrou eficácia em um estudo de Fase II para dor associada à neuralgia do trigêmeo.
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