É importante conceituarmos que a doença enurese noturna só pode ser diagnosticada a partir dos 5 anos de idade. Antes disso, pode-se aceitar como normal a perda urinária noturna em crianças que se encontram em fase de aquisição do completo controle miccional. Além disso, devido a uma melhora espontânea anual de cerca de 15% dos casos, o tratamento pode ser inapropriado (contra-indicado) em menores de 7 anos.
O primeiro passo para exclusão de que outras doenças, tanto orgânicas, como psicológicas estejam associadas é a anamnese detalhada em busca de possíveis causas (a obstrução das vias aéreas por grandes adenóides ou amígdalas; constipação; diabetes mellitus ou insipidus, devido a poliúria; hiperatividade e disfunção neurológica; assim como o abuso sexual em crianças).
Uma história detalhada e exame físico completo iniciam a investigação da enurese, incluindo-se a história familiar, duração e severidade do quadro.
O diário miccional é solicitado aos pais para certificarmo-nos da freqüência urinária diurna e dos eventos enuréticos por semana. A ingestão de líquidos e alimentos sólidos durante o dia deve ser anotada. Muitas crianças ingerem quantidades elevadas de líquidos antes de dormir levando à enurese noturna.
O exame físico afasta anormalidades gênito-urinárias e neurológicas. O exame qualitativo de urina afasta infecção urinária e investiga diabetes mellitus /insipidus.
Se a história clínica mostra uma enurese noturna monossintomática, não existe necessidade de ampliarmos a investigação com outros exames, tais como a avaliação do fluxo urinário ou realizando uma ultra-sonografia.
Então, o tratamento psicoterápico só estaria indicado em casos em que se identifique uma causa psicológica secundária para a enurese.
O tratamento da enurese noturna deve ser iniciado aos 7 anos de idade e se dá através de vários passos, sendo o primeiro um conjunto de medidas visando a regularização do hábito intestinal através de uma dieta rica em fibras com a meta de obtermos evacuações diárias; restrição de líquidos duas horas antes de deitar e determinação dos horários de micção durante o dia. (p. ex.: ao acordar, às 11 horas, às 14 hs, às 18 hs e ao deitar).
Os tratamentos para enurese noturna comprovadamente eficazes são os alarmes de enurese; o treinamento combinado com o alarme, e o uso de desmopressina (DDAVP). O uso de antidepressivos tricíclicos em baixas doses também é comprovadamente eficaz, no entanto devido aos potenciais riscos (ingestão de uma dose fatal e cardiomiotoxicidade), estes são reservados a casos especiais e em crianças acima de 8 anos.
As desvantagens do uso dos alarmes são os seus custos elevados.
A desmopressina pode ser iniciada na dose de 1 comprimido de 0,2 mg, 1 hora antes de deitar e não havendo melhora em 2 semanas, pode-se dobrar a dose. Tem como desvantagem não estar disponível no sistema único de saúde (SUS).
Alternativamente pode-se acordar a criança a cada três horas durante o sono para urinar e ao longo do tempo ir espaçando este intervalo. Já se observou que crianças com enurese têm dificuldade em acordar, não percebendo a sensação de bexiga repleta. Por sua disponibilidade no SUS, a imipramina pode ser iniciada na dose de ½ comprimido de 25 mg, 2 horas antes de deitar e em caso de não haver resposta, pode-se chegar a 50 mg, sempre monitorando possíveis efeitos adversos.
Brigas freqüentes entre os pais podem desencadear fatores psicológicos predisponentes à enurese noturna.