A investigação da lombalgia crônica deve ser dirigida para determinar a causa da doença e o profissional de saúde deve estar atento para os sinais de alerta na investigação clínica pois são importantes fatores de prognóstico. Existem os alertas que apontam para possíveis causas de maior morbidade, como por exemplo malignidade; fratura; infecção; síndrome da cauda equina. Estão apresentados na Tabela 1. Outros alertas sugerem risco de recorrência do problema ou de pior prognóstico de resposta ao tratamento, mesmo em se tratando de dor lombar de origem mecânica, decorrente: as crenças de que a dor e a atividade são prejudiciais; preferências de tratamento que não se encaixam nas melhores práticas, por exemplo, tratamentos passivos sobre ativos e falta de apoio social. |
Dor lombar é um dos problemas de saúde mais comuns em adultos. É definida como dor e desconforto localizados abaixo do rebordo costal e acima da linha glútea superior, com ou sem dor referida no membro inferior, sendo crônica se persistir por mais de 12 semanas. A prevalência pontual estimada de lombalgia é de 18%. É um problema que afeta 80% dos adultos em algum momento da vida.
Diversos fatores têm sido associados à lombalgia crônica, como a idade maior que 30 anos, sexo masculino, tabagismo, alcoolismo, sedentarismo, obesidade, postura inadequada, transtorno de humor, baixo nível social e de escolaridade e atividades laborais que exijam esforços com excesso de flexão, rotação, vibração do tronco e carregamento de peso. Os principais músculos acometidos são os abdominais, os glúteos, o piriforme, o quadrado lombar e o iliopsoas.
A lombalgia inespecífica, definida como dor lombar não atribuível a uma causa conhecida, na maioria dos casos é de origem mecânica e representa 90-95% dos casos de lombalgia e outro grupo classificado como específico ou radiculopatia/ciática
A lombalgia de origem mecânica pode ser causada por distúrbios em músculos, tendões e ligamentos. Geralmente pode ser atribuída a atividades como levantar pesos e permanecer na posição sentada ou em pé por tempo prolongado. A dor é referida como em peso e piora no final do dia devido às atividades e aos esforços físicos. Não há sinais neurológicos associados, e a tosse ou os espirros não exacerbam os sintomas. O início é insidioso, e o paciente normalmente é sedentário, obeso, com fraqueza da musculatura posterior da coluna lombar e da abdominal, dos glúteos, havendo encurtamento dos músculos isquiotibiais
A dor pode ser decorrente de processo degenerativo das pequenas articulações posteriores, provocando irritação nas raízes lombares; da acentuação da lordose por aumento da curvatura da coluna; da fraqueza na musculatura abdominal que acarreta maior pressão nas articulações facetarias ou de assimetria das facetas articulares lombares. A manifestação clínica consiste em dor na região lombar, de instalação súbita ou lenta que bloqueia os movimentos, determinando atitude de rigidez da coluna lombar.
Observa- se que no atendimento primário, apenas em cerca de 15% das dores lombares está relacionada a uma causa específica, como trauma, infecção, inflamação, artrite reumatoide, tumor, hérnia discal, doença vascular.
A dor lombar crônica pode conter um componente neuropático, quando está associada à lesão ou doença do sistema nervoso somatossensitivo. O componente neuropático da lombalgia crônica pode ser causado por estímulos nociceptivos relacionados a: 1) brotamentos nervosos dentro do disco vertebral degenerado; 2) compressão mecânica de uma raiz nervosa; e 3) liberação de mediadores inflamatórios pelo disco lesionado, porém sem comprometimento mecânico.
Sof relacionada: Como deve ser o manejo da dor lombar em ambiente de APS?
1. Oliveira CB, Maher CG, Pinto RZ, Traeger AC, Lin CC, Chenot JF, van Tulder M, Koes BW. Clinical practice guidelines for the management of non-specific low back pain in primary care: an updated overview. Eur Spine J. 2018 Nov;27(11):2791-2803. Disponível em: https://www.europeanspinejournal.org/article/101007s00586-018-5673-2
2. Chou R, Côté P, Randhawa K, Torres P, Yu H, Nordin M, Hurwitz EL, Haldeman S, Cedraschi C. The Global Spine Care Initiative: applying evidence-based guidelines on the non-invasive management of back and neck pain to low- and middle-income communities. Eur Spine J. 2018 Sep;27(Suppl 6):851-860. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29460009/
3. Almeida DC, Kraychete DC. Dor lombar – uma abordagem diagnóstica. Rev Dor. (Internet). 2017 abr-jun;18(2):173-7. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rdor/a/9JxZrqLhB7r5y8rKWtXDYXt/?format=pdf