A transmissão da hanseníase ainda não é totalmente conhecida. A principal via de transmissão é a respiratória, por inalação de gotículas contendo o agente causador, Mycobacterium leprae (M. leprae). Uma pessoa doente que apresenta a forma infectante da doença (multibacilar – MB), estando sem tratamento, elimina o bacilo pelas vias respiratórias (secreções nasais, tosses, espirros), podendo assim transmiti-lo para outras pessoas suscetíveis. A transmissão via contato com a pele ou outros meios não pode ser totalmente excluída. O bacilo tem capacidade de infectar grande número de pessoas, mas poucas pessoas adoecem porque a maioria tem capacidade de se defender contra o bacilo. Assim que a pessoa doente começa o tratamento deixa de transmitir a doença. O contato direto e prolongado com a pessoa doente aumenta a chance de se infectar.
A prevalência global da Hanseníase em 2018 apresentou uma taxa de 0,24 caso por 100.000 habitantes, perfazendo 184.212 casos em tratamento. Do total de casos novos detectados, 62,4% (130.169) foram classificados como multibacilares (MB), 7,7% (16.013) ocorreram em menores de 15 anos e 5,4% (11.323) apresentaram grau 2 de incapacidade física. Nesse mesmo ano, mundialmente, foram reportados 350 casos novos em menores de 15 anos com grau 2 de incapacidade física.
A distribuição heterogênea da hanseníase no Brasil pode estar relacionada à influência dos determinantes sociais da doença em cada localidade, assim como as rotas de migração interna em algumas áreas. A doença é negligenciada e acomete com mais frequência populações desprivilegiadas, imersas em contextos de extrema vulnerabilidade socioeconômica. Pessoas inseridas em situações desfavoráveis, com condições de habitação e alimentação precárias, estão mais susceptíveis a adoecerem por hanseníase.
A hanseníase é encontrada como reservatório na natureza em tatus e alguns outros animais. Até 95% dos pacientes expostos ao M. leprae não desenvolverão a doença, sugerindo que a imunidade do hospedeiro desempenha um papel importante na progressão e controle da doença. O tempo de incubação é variável, variando de 2 a 20 anos ou mais.
A hanseníase é uma doença que afeta predominantemente a pele e os nervos periféricos, resultando em neuropatia e consequências associadas em longo prazo, incluindo deformidades e incapacidades. A doença está associada ao estigma, especialmente quando estão presentes deformidades.
As equipes de Atenção Primária à Saúde (APS) têm um papel essencial nas ações de cuidado/assistência às pessoas acometidas pela hanseníase e na identificação de riscos e vulnerabilidades no território, a fim de planejar ações de busca ativa e prevenção, bem como de acolhimento, diagnóstico, tratamento e cura, prevenindo ou minimizando a instalação das incapacidades.
A investigação dos contatos das pessoas acometidas pela hanseníase, os quais possuem o maior risco de adoecimento, é estratégia efetiva para que o diagnóstico seja realizado na fase inicial da doença, assim como a busca de faltosos ao tratamento é um meio de evitar o abandono e a resistência medicamentosa. É imprescindível que as equipes de APS e as referências especializadas realizem acompanhamento qualificado e integral às pessoas acometidas pela hanseníase desde o diagnóstico, durante o tratamento, e após a alta.
1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Estratégia Nacional para o enfrentamento da Hanseníase 2019-2022. Brasília – DF. 2021:120p. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estrategia_nacional_enfrentamento_hanseniase_2019.pdf [Acesso em 17/07/2022]
2. OMS – Organização Mundial da Saúde. Diretrizes para o diagnóstico, tratamento e prevenção da hanseníase. Genebra: OMS, 2019:110p. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/274127/9789290227076-por.pdf [Acesso: 17/07/2022]
3. OMS – Organização Mundial da Saúde. Estratégia Global para a Hanseníase 2016-2020: Aceleração rumo a um mundo sem hanseníase. Nova Deli. 2016:36p. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/208824/9789290225201-pt.pdf?sequence=17&isAllowed=y [Acesso: 17/07/2022]
4. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Portaria nº 71, de 11 de dezembro de 2018. Torna pública a decisão de ampliar o uso da clofazimina para hanseníase paucibacilar conforme estabelecido pelo Ministério da Saúde, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS. Diário Oficial da União, Brasília, Seção 1, 12 dez. 2018. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/sctie/2018/prt0071_12_12_2018.html [Acesso: 17/07/2022]
5. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia para o Controle da hanseníase. Brasília – DF. (Série A. Normas e Manuais Técnicos; n. 111). 2002:89p. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_de_hanseniase.pdf [Acesso: 17/07/2022]