O dentista ao indicar um exame de imagem odontológica para auxiliar em seu diagnóstico e ou plano de tratamento, deve selecionar o tipo de exame de acordo com as necessidades individuais do paciente e não como rotina(1). A necessidade e os tipos de exames a serem realizados devem ser personalizados para cada paciente e com base na necessidade individual, de modo que, para cada exposição, os benefícios do diagnóstico ou do plano de tratamento (ou ambos) superem os pequenos riscos potenciais da dose de radiação, buscando o equilíbrio entre benefício e risco de radiação(1,2).
Os sistemas de Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico ou Cone Bean (TCFC) geralmente expõem a criança a doses maiores do que as imagens convencionais, por isso, o dentista deve solicitar a realização desse exame, somente se necessário, quando as técnicas de dose mais baixa, são incapazes de responder à questão clínica que leva à obtenção de imagens(1). Neste caso, deve-se considerar a redução do campo de visão (FOV), à região de interesse, para diminuir a quantidade da dose efetiva(1).
Considerar o princípio da otimização, antes de rejeitar uma imagem de baixa qualidade, pois o paciente será reexposto sem quaisquer benefícios adicionais. O conceito de qualidade de imagem envolve uma série de variáveis, especialmente para modalidades tridimensionais como a TCFC. Há uma diferença perceptível entre uma imagem de alta qualidade ou alta definição e uma imagem diagnosticamente aceitável para uma determinada indicação. Em geral, uma melhor qualidade é alcançada quando os parâmetros técnicos do equipamento são ajustados para um modo de alta resolução, o que muitas vezes está relacionado com valores de dose mais elevados(2).
Os exames de imagem radiológica são importantes para a odontologia, pois auxiliam o profissional no diagnóstico e no plano de tratamento.
A TCFC (Cone Bean), diferente dos exames radiográficos intra (periapical, inter proximal e oclusal) e extraorais (panorâmica), permite uma avaliação tridimensional de uma estrutura(4).
A TCFC para avaliação dentomaxilofacial pediátrica tem sido amplamente utilizada, apesar das incertezas quanto aos riscos das exposições a baixas doses de radiação, especialmente para crianças e adolescentes, que são mais radiossensíveis do que os adultos, devido às diferenças anatômicas e fisiológicas(2,3).
Além disso, as crianças possuem corpos menores e elas são menos protegidas pelos tecidos, com isso, as doses em seus órgãos internos serão maiores do que para adultos, para um mesmo nível de exposição externa e em relação a exposição interna, devido ao menor tamanho das crianças e porque seus órgãos são mais próximos(3).
O risco associado à radiação para crianças tem sido uma preocupação particular, pois elas são substancialmente mais suscetíveis aos efeitos da exposição à radiação para a maioria dos cânceres do que os adultos, devido à sua expectativa de vida mais longa e ao aumento da radiossensibilidade de alguns órgãos e tecidos em desenvolvimento(1).
A quantidade de radiação espalhada que atinge o abdômen de um paciente é insignificante(1). No entanto, a glândula tireoide, localizada na região anterior do pescoço e nas proximidades da exposição primária em todos os procedimentos radiográficos odontológicos, é sensível à radiação, principalmente em crianças(1). A figura 1 mostra quais os órgãos mais radiossensíveis em crianças.
Figura 1 – Órgãos mais radiossensíveis em crianças.
Fonte: Radiação: efeitos e fontes, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, 2016(3).
Existem diferenças no tamanho e na morfologia dos dentes e mandíbulas das crianças em comparação com os dos adultos, e menos radiação é necessária para fornecer a qualidade de imagem ideal do que seria necessária em um adulto(1). O uso inadvertido de configurações de adultos para imagens de TCFC pediátrica pode resultar em um aumento geral de até 29% na dose efetiva e um aumento de 17% a mais de 278% nas doses de órgãos específicos(1).
Apesar do conhecimento da radiossensibilidade maior em pacientes pediátricos, várias indicações foram descritas sobre como a TCFC pode impactar positivamente no diagnóstico e nos resultados do tratamento desses pacientes(2).
Em odontopediatria, a tomografia pode ser utilizada para observar alterações no desenvolvimento, erupção dentária, anormalidades e patologias, avaliar os seios da face, e diagnosticar e ou avaliar traumas(4).
Além de verificar a relação entre o germe dentário permanente e os elementos dentais decíduos, um dos principais usos da tomografia computadorizada em odontopediatria é para detectar a presença de impactação de elementos dentários, como os caninos, por exemplo, auxiliando no diagnóstico e no planejamento cirúrgico(4).
1. White SC, Scarfe WC, Schulze RK, Lurie AG, Douglass JM, Farman AG, Law CS, Levin MD, Sauer RA, Valachovic RW, Zeller GG, Goske MJ. The Image Gently in Dentistry campaign: promotion of responsible use of maxillofacial radiology in dentistry for children. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol. 2014 Sep;118(3):257-61. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25066244/
2. Oenning AC, Pauwels R, Stratis A, De Faria Vasconcelos K, Tijskens E, De Grauwe A; Dimitra research group, Jacobs R, Salmon B. Halve the dose while maintaining image quality in paediatric Cone Beam CT. Sci Rep. 2019 Apr 2;9(1):5521. Disponível em: https://doi.org/10.1038/s41598-019-41949-w
3. Brasil. Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Instituto de Radioproteção e Dosimetria da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Trad). Radiação: efeitos e fontes, 2016:68p. Disponível em: http://www.aben.com.br/Arquivos/544/544.pdf
4. Silva KF da, Carvalho MVSA de, Gromatzky PR. Indicação de tomografia computadorizada de feixe cônico para pacientes infantis. EACAD [Internet]. 12º de outubro de 2021 [citado 28º de dezembro de 2021];2(3):e072345. Disponível em: http://dx.doi.org/10.52076/eacad-v2i3.45