Ensaios clínicos de alta qualidade mostram que rastreamento com tomografia computadorizada de baixa dose reduz mortalidade por câncer de pulmão em fumantes.
Essa meta-análise foi feita com vistas a manejar fragilidades e atualizar as análises de revisões anteriores que mostraram redução de mortalidade especifica por câncer de pulmão, mas sem impacto na mortalidade geral, com o rastreamento dessa neoplasia com tomografia computadorizada de baixa dose. Selecionando apenas ensaios clínicos randomizados com baixo risco de viés (com base na ferramenta Cochrane Risk of Bias), foram incluídos na análise os dados de 8 ensaios com 90.475 participantes de 45 a 75 anos de idade que fumavam 20 ou mais maços-ano e com tempo de acompanhamento médio que variou de 5,2 a 10 anos. A mortalidade por câncer de pulmão variou de 1,6% a 4,6% (0,4% na análise condensada), e as pessoas rastreadas tiveram menor mortalidade específica (RR=0,81; IC 95% 0,74 – 0,89; NNT=251; IC 95% 173 – 454). A mortalidade geral foi ligeiramente menor no grupo rastreado, mas isso não foi estatisticamente significativo (RR=0,96; IC 95% 0,92 – 1,01). Houve homogeneidade entre os estudos quanto aos dados de mortalidade. Por outro lado, identificou-se uma taxa de sobrediagnóstico de aproximadamente 20%, e a meta-análise não traz os dados de danos do rastreamento.
Ebell MH, Bentivegna M, Hulme C. Cancer-specific mortality, all-cause mortality, and overdiagnosis in lung cancer screening trials: a meta-analysis. Ann Fam Med 2020;18(6):545-552. Disponível em: https://www.annfammed.org/content/18/6/545.long
Essa meta-análise, apesar de se justificar frente as limitações dos estudos anteriores, não muda o dilema na qual os médicos de família se veem com o rastreamento de câncer de pulmão com tomografia em fumantes: reduz mortalidade específica, mas não geral, com sobrediagnóstico não desprezível e sem sistematização do risco de danos. Além disso, a tradução do NNT em outros termos não ajuda a reduzir a angústia em ter que decidir prescrever ou não esse rastreamento: 250 pacientes teriam que ser rastreados por um período de 5,2 a 10 anos para evitar 1 morte por câncer de pulmão, sendo similar ao rastreamento de câncer de mama. Contudo, a redução de mortalidade geral (sem significância estatística) e a falta de poder estatístico dos ensaios para a sua adequada análise deve nos alertar para talvez evitarmos emitir pareceres radicais contrários ao rastreamento, não abrindo qualquer espaço para uma decisão compartilhada. Tanto que algumas importantes agências internacionais (p. ex. a US Preventive Services Task Force e o American College of Chest Physicians) recomendam o rastreamento para pessoas que fumam 20 ou mais maços-ano ou que pararam de fumar há menos de 15 anos e tem idade entre 50 e 80 anos, embora no Brasil não esteja recomendado este rastreamento.