Música pode melhorar a qualidade do sono em idosos, mas as evidências ainda são frágeis

| 04 out 2021 | ID: poems-44327

Área Temática:

Questão Clinica:

A música melhora a qualidade do sono em idosos?
Resposta Baseada em Evidência:

Este estudo sugere que ouvir música, especialmente música sedativa (andamento lento, com volume e melodia suaves), pode melhorar a qualidade do sono em idosos. Mas as evidências ainda são limitadas.

Alertas:

Contexto:

Já se sabe que musicoterapia tem efeitos positivos na qualidade do sono em adultos, mas resta dúvidas sobre sua efetividade em idosos. Esta é uma meta-análise de cinco ensaios clínicos randomizados que analisaram o efeito da musicoterapia, comparada a tratamento padrão ou não tratamento, na melhoria da qualidade do sono em idosos de 60 anos ou mais sem disfunção cognitiva ou auditiva. O risco de viés dos estudos foi avaliado pela Cochrane Risk of Bias (procedimento padrão), que mostrou que os cinco ensaios possuem problemas metodológicos diversos e tem qualidade global heterogênea. Esses cinco pequenos ensaios clínicos incluíram 288 pacientes no total (142 no grupo intervenção e 146 no grupo controle), todos em ambientes comunitários. As intervenções musicais foram diversificadas (incluindo músicas rítmicas, clássicas ocidentais ou chinesas, sedativas, jazz etc.), ao vivo ou gravadas, com duração de 30 a 60 minutos e aplicadas por 2 dias a 3 meses. O desfecho primário foi a melhoria na qualidade do sono medida pelo Pittsburgh Sleep Quality Index (variação: 0 a 21; pontuações superiores a 5 indicam qualidade do sono ruim; outros estudos sugerem que a diferença clinicamente importante mínima é de 3). No geral, ouvir música melhorou modestamente a qualidade do sono em comparação com não ouvir música (diferença média [MD] -1,96; IC 95% -3,23 a -0,69). Música sedativa (MD –2,35; –3,59 a –1,10) foi mais eficaz do que a música rítmica (MD −0,25; −2,23 a 1,73). Finalmente, intervenções que duraram mais de 4 semanas (MD −2,61; −4,72 a −0,50) encontraram resultados melhores do que aquelas com menor duração (MD −2,00; −3,99 a −0,00). Em outras palavras, nenhum tipo de musicoterapia demonstrou ter um efeito clinicamente importante, mas as estimativas ainda são pouco precisas, de forma que ainda há uma possibilidade de estudos futuros documentarem a importância clínica do efeito, especialmente no caso da música sedativa. Os autores não relatam eventos adversos da musicoterapia.

Referencia

Chen CT, Tung HH, Fang CJ, et al. Effect of music therapy on improving sleep quality in older adults: A systematic review and meta-analysis. J Am Geriatr Soc 2021;69(7):1925-1932. Disponível em: https://agsjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jgs.17149

Comentários:

Umas das críticas que a adoção das Práticas Integrativas e Complementares no SUS recebe é a falta de evidências científicas (conforme o paradigma ocidental) sobre efetividade e eficiência. Assim, se apropriar das evidências que surgem e melhorar a qualidade dos ensaios produzidos com essas práticas é fundamental. Um ponto forte dessa meta-análise é incluir intencionalmente o mandarim na perspectiva de abarcar os estudos chineses. Mesmo não tendo sido analisado os eventos adversos da musicoterapia em idosos com fins de melhoria da qualidade do sono, é razoável supor que esses sejam, caso existentes, mínimos. Portanto, não seria absurdo profissionais de saúde indicarem música sedativa por pelo menos 1 mês para essa população, o que pode ser de fácil implementação pelos pacientes num momento em que os smartphones possibilitaram a existência de aplicativos de música de fácil utilização. Mas isso deve ser feito com a devida orientação de que os efeitos esperados são pequenos, sendo uma prática de bem-estar global que deve vir acompanhada de outras estratégias.

Data de acesso:

Endereço:

https://agsjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jgs.17149

Número, Data e Autoria:

Thiago Dias Sarti, setembro 2021