A Pressão Arterial Sistólica (PAS) mais baixa por tratamento anti-hipertensivo associa-se à maior mortalidade e ao declínio cognitivo acelerado em idosos acima de 85 anos

| 28 maio 2021 | ID: poems-43823

Área Temática:

Questão Clinica:

A Pressão Arterial Sistólica (PAS) mais baixa está associada a melhores desfechos em idosos em uso de antihipertensivos?
Resposta Baseada em Evidência:

Uma menor PAS para idosos acima de 85 anos em uso de anti-hipertensivos foi associada a uma maior mortalidade e declínio mais rápido na função cognitiva.

Alertas:

Trata-se de uma coorte –estudo observacional, não de intervenção; portanto, com maior probabilidade de vieses – de 570 moradores de Leiden (Holanda), que atingiram 85 anos de idade entre 1997 e 1999.

Os autores excluíram quem faleceu dentro de três meses após o início da análise e quem não tinha registro de aferição da pressão arterial no início do estudo, o que pode contribuir para vieses na análise. As análises se restringiram aos participantes sem história de doença cardiovascular. O acompanhamento foi de cinco anos

Contexto:

A adequação da redução da Pressão Arterial Sistólica (PAS) permanece controversa em idosos longevos, com resultados conflitantes. (Warwick et al, 2015; Mancia et al. 2014; Benetos et al, 2015)

Idosos acima de 85 anos são definidos como frágeis pelo Ministério da Saúde brasileiro (Brasil, 2018), e há evidências de que valores de PAS abaixo de 130 mmHg estão relacionados a maior morbimortalidade nesta população.  (Odden et al, 2015, Mancia et al. 2014; Benetos et al, 2015).

Streit et al (2018) testaram se a PAS estaria associada com a mortalidade (todas as causas), com mudança na função cognitiva, mudança na fragilidade clínica, comparando idosos com tratamento anti-hipertensivo prescrito e aqueles sem tratamento.

Referencia

Streit S, Poortvliet RKE, Gussekloo J. Lower blood pressure during antihypertensive treatment is associated with higher all-cause mortality and accelerated cognitive decline in the oldest-old data from the Leiden 85-plus Study. Age Ageing 2018;47(4):545-550. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29741555/

Outros estudos:

Warwick J, Falaschetti E, Rockwood K, et al. No evidence that frailty modifies the positive impact of antihypertensive treatment in very elderly people: an investigation of the impact of frailty upon treatment effect in the hypertension in the very elderly trial (HYVET) study, a double-blind, placebo controlled study of antihypertensives in people with hypertension aged 80 and over. BMC Med. 2015;13:78. Disponível em: https://bmcmedicine.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12916-015-0328-1

Ministério da Saúde [BR] Orientações técnicas para a implementação de Linha de Cuidado para Atenção Integral à Saúde da Pessoa Idosa no Sistema Único de Saúde – SUS [recurso eletrônico]. 1. ed. Brasília-DF: Editora MS, 2018. v. 1. 91p . Disponível em https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/Brasil_Amigo_Pesso_Idosa/Orientacoes_Implementacao_Linha_Cuidado_AtencaoIntegral_Saude_Pessoa_Idosa_SUS.pdf

Mancia G, Grassi G. Aggressive blood pressure lowering is dangerous: the J-curve: pro side of the argument. Hypertension. 2014; 63:29-36. Disponível em: https://www.ahajournals.org/doi/full/10.1161/hypertensionaha.113.01922

Benetos A, Labat C, Rossignol P, et al. Treatment with multiple blood pressure medications, achieved blood pressure, and mortality in older nursing home residents: the PARTAGE study. JAMA Intern Med. 2015;175:989-95. Disponível em: https://jamanetwork.com/journals/jamainternalmedicine/fullarticle/2110995

Odden M, Beilby P, Peralta C. Blood pressure in older adults: the importance of frailty. Curr Hypertens Rep. 2015;17(55). Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5639920/

Comentários:

Foram estudados os participantes da coorte baseado na população de Leiden com 85 anos ou mais. Os preditores analisados foram: pressão arterial sistólica basal e uso de tratamento anti-hipertensivo. Os desfechos avaliados foram: a mortalidade por todas as causas; mudança na função cognitiva medida pelo Mini-Exame do Estado Mental; mudança na força de preensão como representante da fragilidade física. O estudo utilizou a regressão linear como modelos de riscos proporcionais e efeitos mistos de Cox para analisar a relação entre PAS e tempo até a morte, mudança na função cognitiva e fragilidade.

De 570 participantes, para 249 (44%) a terapia anti-hipertensiva estava prescrita. A mortalidade por todas as causas foi maior nos participantes com tratamento anti-hipertensivo, e com pressão arterial mais baixa (Risco de Danos [HR]=1,29 para cada 10 mmHg menor de  PAS, IC95%=1,15 a 1,46, p<0,001). Os participantes que tomaram anti-hipertensivos mostraram uma associação entre o declínio cognitivo acelerado e pressão arterial mais baixa (variação média anual -0,35 pontos por 10 mmHg menor pressão arterial sistólica, IC95%= -0,60, a -0,11, p=0,004); o declínio na cognição foi mais rápido naqueles com menor força de preensão manual.

Nos participantes não prescritos com tratamento anti-hipertensivo, não foram observadas associações significativas entre pressão arterial e mortalidade ou declínio cognitivo.

Data de acesso:

28/05/2021

Endereço:

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29741555/

Número, Data e Autoria:

Leonardo C M Savassi, maio de 2019