Após um ano, o automonitoramento e o telemonitoramento da Pressão Arterial (PA) resultam em pequenas melhorias nos valores de pressão arterial sistólica em relação aos cuidados habituais realizados no consultório. Mas não foram apresentadas evidências de desfechos clínicos significativos associados ao melhor controle da pressão.
Pelas características do estudo, participantes e investigadores não puderam ser cegados para os grupos. O desfecho primário foi a pressão arterial sistólica medida em 12 meses após a randomização e, a despeito de um melhor controle no valor da Pressão Arterial (PA), não foram encontradas evidências de melhoras clínicas significativas associadas ao melhor controle da pressão. A questão clínica relevante seria se há melhores desfechos, mas este estudo responde apenas pelo melhor controle da PA, o que não necessariamente é um desfecho clínico relevante.
A hipertensão segue sendo um fator de risco modificável para doenças cardiovasculares e cerebrovasculares. Seu controle depende de mudanças no estilo de vida, adesão ao tratamento e cuidado ao longo do tempo para detecção precoce de comorbidades. A adesão segue sendo um desafio, notadamente para a Atenção Primária, com muitos pacientes não atingindo um controle adequado (Ho et al, 2019).
O aumento do uso de medidas de PA fora do consultório, particularmente a monitorização ambulatorial da pressão arterial em 24 horas (MAPA), tem-se mostrado adequadas para obter medidas de PA mais confiáveis, melhor prognóstico e orientação de tratamento mais adequado. Estudos que avaliam as doses de medicação anti-hipertensiva usando o automonitoramento trazem resultados contraditórios, não havendo evidências claras de qual seriam o local, formato e indicação mais adequados de telemonitoramento ou automonitoramento da pressão arterial (Rietzschel & De Buyzere, 2018).
O estudo TASMINH4 teve como objetivo avaliar a eficácia da pressão arterial auto-monitorada, com ou sem telemonitoramento, para o ajuste de doses de medicação anti-hipertensiva na Atenção Primária a Saúde, em comparação com os cuidados habituais. O estudo traz evidências de benefício adicional para o monitoramento domiciliar da PA.
McManus RJ, Mant J, Franssen M, et al. Efficacy of self-monitored blood pressure, with or without telemonitoring, for titration of antihypertensive medication (TASMINH4): an unmasked randomised controlled trial. Lancet 2018;391(10124):949-959.
Outros estudos:
Rietzschel ER, De Buyzere ML. Hypertension: time for doctors to switch the driver’s seat? Lancet. 2018 Mar 10;391(10124):914-916. doi: 10.1016/S0140-6736(18)30317-9.
Ho JK, Carnagarin R, Matthews VB, Schlaich MP. Self-monitoring of blood pressure to guide titration of antihypertensive medication-a new era in hypertension management? Cardiovasc Diagn Ther. 2019 Feb;9(1):94-99. doi: 10.21037/cdt.2018.08.01.
Estudo paralelo, para fins de comparar as 3 intervenções ao longo do tempo, randomizado controlado, realizado em 142 Unidades de APS no Reino Unido com hipertensos acima de 35 anos, com pressão arterial superior a 140x90mmHg, e que se dispuseram a automonitorar sua pressão arterial.
Os pacientes foram aleatoriamente designados (1: 1: 1) para automonitoramento da pressão arterial (grupo automonitoramento, n = 395), para automonitoramento da pressão arterial via telemonitoramento (grupo telemonitoramento, n = 393), ou para o tratamento usual (pressão arterial clínica; grupo de cuidados habituais, n = 394). A randomização foi feita por um sistema seguro baseado na web. Dos 1182 participantes, 1003 (85%) foram inclusos na avaliação final.
Após 12 meses, a pressão arterial sistólica foi menor nos dois grupos de intervenção em comparação com os cuidados habituais: auto-monitorização, 137(DP=16,7) mmHg e telemonitoramento, 136 (DP=16,1) mmHg versus cuidado usual, 140,4 (DP=16,5).
Os valores das diferenças das média ajustadas versus cuidados habituais demonstraram: automonitoramento -3,5 mmHg (IC95%= -5,8 a -1,2), e telemonitoramento -4,7 mmHg (IC95%= -7,0 a -2,4). Não houve diferença dos grupos automonitorização versus telemonitorização, com diferença média ajustada de -1,2 mmHg [IC95%= -3,5 a +1,2).
Os eventos adversos foram semelhantes entre os três grupos.