Tudo vai depender do número inicial de lesões, da gravidade da infecção, da classificação e tratamento definido para cada pessoa. A maioria das lesões cicatrizam sem deixar marcas, porém pode levar alguns anos para que as lesões cutâneas desapareçam completamente(1,2).
O envolvimento do sistema nervoso é encontrado em todas as formas de hanseníase e pode ocorrer na ausência de lesões cutâneas. Déficits motores e sensoriais podem ser permanentes de acordo com o grau de acometimento da lesão nervosa. Prevenir ou minimizar a lesão dos nervos periféricos é o principal objetivo do tratamento(2,3).
Por isso é importante manter a longitudinalidade do cuidado mesmo em pessoas que tenham recebido alta do tratamento. As equipes de Atenção Primária à Saúde (APS) que atuam em Unidade de Saúde da Família (ESF) conseguem mais facilmente realizar esse acompanhamento. Portanto, os profissionais da APS/ESF devem observar especialmente casos multibacilares (MB) que iniciam o tratamento com numerosas lesões ou extensas áreas de infiltração cutânea, pois podem ter um risco maior de desenvolver reações e dano neural após completar as 12 doses do tratamento. Essas pessoas poderão apresentar uma regressão mais lenta das lesões de pele. A maioria delas continuará a melhorar após a conclusão do tratamento com 12 doses; é possível, no entanto, que alguns deles não demonstrem qualquer melhora e, se isso acontecer, deverão ser avaliados em serviço de referência (municipal, regional, estadual ou nacional) quanto à necessidade de 12 doses adicionais de Poliquimioterapia para casos multibacilares (PQT/MB)(1).
Recomenda-se a avaliação dermatoneurológica pelo menos uma vez ao ano, por pelo menos 5 anos, de todos os contatos domiciliares e sociais que não foram identificados como casos de hanseníase na avaliação inicial independente da classificação operacional do caso notificado – Paucibacilar (PB) ou multibacilar (MB). Após esse período estes contatos deverão ser esclarecidos quanto à possibilidade de surgimento, no futuro, de sinais e sintomas sugestivos de hanseníase(1).
Todos os doentes devem ter o grau de incapacidade física avaliado, no mínimo, no diagnóstico e no momento da alta por cura. A determinação do grau de incapacidade física é realizada pelo teste de força muscular e de sensibilidade dos olhos, mãos e pés. Recomenda-se a utilização do conjunto de monofilamentos de Semmes-Weinstein (6 monofilamentos: 0,05g, 0,2g, 2g, 4g, 10g e 300g) nos pontos de avaliação de sensibilidade em mãos e pés e do fio dental (sem sabor) para os olhos, ao realizar o teste de sensibilidade. Nas situações em que não estiver disponível o estesiômetro, deve-se fazer o teste de sensibilidade de mãos e pés ao leve toque da ponta da caneta esferográfica. Para avaliar a força motora, preconiza-se o teste manual da exploração da força muscular, a partir da unidade músculo-tendinosa durante o movimento e da capacidade de oposição à força da gravidade e à resistência manual, em cada grupo muscular referente a um nervo específico. Os critérios de graduação da força muscular podem ser expressos como forte, diminuída e paralisada, ou de 0 a 5 ¹.
Atributos da APS
Longitudinalidade: O acompanhamento ao longo do tempo permite à equipe perceber a evolução de problemas de forma a intervir precocemente. Neste tipo de situação é importante se programar a avaliação dermatoneurológica uma vez ao ano como recomendado. Evidente sem criar uma relação de dependência, mas é importante que a equipe ajude as pessoas a lembrar de eventos como exames por exemplo, com periodicidade longa, pois há uma tendência natural ao esquecimento o que não significa negligência por parte da pessoa com sua própria saúde.
1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. Guia de Vigilância em Saúde : volume único [internet] – 3ª. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2019:740p. Disponível em: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2019/junho/25/guia-vigilancia-saude-volume-unico-3ed.pdf
2. Scollard D, Stryewska B, Dacso M. Leprosy: Epidemiology, microbiology, clinical manifestations, and diagnosis. UpToDate [internet]. 2020 Jul 27. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/leprosy-epidemiology-microbiology-clinical-manifestations-and-diagnosis?search=hansen%20disease§ionRank=1&usage_type=default&anchor=H15&source=machineLearning&selectedTitle=1~118&display_rank=1#H1708854
3. Fischer M. Leprosy – an overview of clinical features, diagnosis, and treatment. J Dtsch Dermatol Ges; 2017 Aug;15(8):801-827. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/ddg.13301