Uma cabeleireira profissional que está grávida continua utilizando selagem e pintura em suas clientes. Há risco para o bebê ?

| 10 outubro 2019 | ID: sofs-42778
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: , ,

Sim, há risco aumentado de ocorrer problemas com o feto e também efeitos reprodutivos (infertilidade) ao se comparar cabeleireiros e cosmetologistas com a população em geral. A composição de produtos para selagem e pintura industrializadas são variadas e o médico precisa analisar a bula para uma orientação adequada. As fórmulas caseiras destes produtos devem ser evitadas pois não garantem a qualidade e segurança dos mesmos.


De um modo geral deve-se eliminar o contato com produtos químicos na gestação, sobretudo no primeiro trimestre, mas cada caso deve-se avaliar risco e benefício. Se for possível, suspender todos os produtos. Uma sugestão é a leitura da bula, que todo produto industrializado deve obrigatoriamente ter disponível com a embalagem, além de um telefone  da empresa para contato com o consumidor (SAC -Serviço de atendimento ao consumidor), que pode dar orientações sobre uso e formas de proteção.

Em revisão com meta-análise publicada em 2016, os autores chegaram à conclusão que “cabeleireiros e cosmetologistas apresentam maior risco de distúrbios reprodutivos, em comparação com a população em geral. Esta meta-análise revelou um risco significativamente aumentado de infertilidade (OR 1,15, IC 95% 1,03-1,28).(1)

Os mesmos autores citam artigo que indica que a exposição durante a gravidez a compostos orgânicos voláteis (VOCs), como o tolueno (inalado de redutores e diluidores de tinta de cabelo), tem efeitos adversos no recém-nascido, incluindo retardo de crescimento intra-uterino, parto prematuro, malformações congênitas e retardo de desenvolvimento pós-natal.(1)

O profissional de saúde deve solicitar a embalagem e verificar se o produto é devidamente registrado e analisar sua composição, podendo solicitar Teleconsultoria em caso de dúvida, ou suporte do Centro de Atendimento Toxicológico (TOXCEN) da sua região. No site da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária),  também há informações sobre produtos proibidos e retirados do mercado.(2)

Para se evitar maior absorção das “tinturas para cabelo” pela pele, o Food and Drug Administration (FDA) faz as seguintes recomendações:(3)

○ Não deixe a tintura no cabelo mais tempo que o necessário

○ Enxagüe com bastante água o couro cabeludo após o uso da tintura

○ Use luvas ao aplicar a tintura.

Atributos da APS

Longitudinalidade: A equipe deve garantir a continuidade do cuidado à mulher e à família ao longo do tempo. Tudo se inicia com o primeiro contato com o serviço de saúde, que neste caso vai se fortalecer no pré natal e se consolida com um novo papel como mãe. Em todas as etapas do ciclo de vida deve-se atentar aos riscos ocupacionais e ambientais que as pessoas são expostas, especialmente as mulheres pelas repercussões numa eventual gestação.

Bibliografia Selecionada:

1. Kim D, Kang MY, Choi S, Park J, Lee HJ, Kim EA. Reproductive disorders among cosmetologists and hairdressers: a meta-analysis. Int Arch Occup Environ Health. 2016; 89(5):739-753. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4871926/

2. Núcleo de Telessaúde Rio Grande do Sul. Biblioteca Virtual em Saúde. Atenção Primária à Saúde (BVS APS). O uso de tinturas para cabelo em gestantes é prejudicial ao feto?  SOF id:195. Publicado em 04 ago 2008. Disponível em: http://aps.bvs.br/aps/o-uso-de-tinturas-para-cabelo-em-gestantes-e-prejudicial-ao-feto/

3. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Consulta a cosméticos Regularizados. Disponível em:  http://portal.anvisa.gov.br/cosmeticos/consultas