Em pré-escolares com diarreia aguda moderada/grave, o Lacobacillus rhamnosus GG NÃO promove melhora mais rápida dos sintomas, nem diminui a frequência e intensidade dos episódios diarreicos.
Gastroenterite aguda em crianças é motivo comum de consulta nos serviços de atenção primária à saúde. No Brasil, é a segunda causa de morte em menores de 5 anos. O tratamento com probióticos é comum; no entanto, várias revisões sistemáticas demonstraram uma discreta redução da diarreia, embora haja heterogeneidade entre os estudos. Os, estudos mostrando benefício geralmente foram pequenos, patrocinados pela indústria ou tinham falhas metodológicas.
Trata-se de um estudo randomizado, duplo-cego, envolvendo crianças de 3 meses a 4 anos de idade atendidas nos departamentos de emergência pediátrica dos EUA com pelo menos três episódios de fezes amolecidas ou aquosas por dia num período de menos de 7 dias. Foram excluídas as crianças imunodeprimidas, nascidas prematuras, com doença gastrointestinal crônica, com doença das vias biliares, com hematoquezia ou que apresentassem alergia ao probiótico usado no estudo ou a quaisquer antibióticos usados no tratamento de infecção invasiva por L. rhamnosus. Os participantes foram randomizados para receber o probiótico (Lactobacillus rhamnosus GG na dose de 1×1010 UFC) ou placebo duas vezes por dia durante 5 dias. Entre os 971 participantes, 943 (97,1%) completaram o estudo. A mediana da idade foi de 1,4 anos (IIQ 0,9-2,3) e 52,9% participantes eram do sexo masculino. Após 14 dias, a intensidade dos sintomas (estimada pela escala de Vesikari modificada) foi semelhante entre os grupos (11,8% no grupo probiótico vs 12,6% no grupo placebo; RR 0,96; IC95% 0,68-1,35; p=0,83). Também não houve diferença significativa entre os grupos quanto aos desfechos secundários, como a duração ou a frequência da diarreia e dos vômitos, a duração do absenteísmo em creches e a taxa de transmissão domiciliar. Nenhum participante teve infecção sistêmica por L. rhamnosus. Como evento adverso, houve mais sibilância no grupo probiótico (5 vs 0; p=0,03).
O uso de probióticos em crianças pré-escolares com gastroenterite aguda não modifica o curso da doença. Assim, não se recomenda seu uso rotineiro. No manejo dessa patologia, deve-se atentar para a avaliação do estado de hidratação do paciente e implementar terapia de reposição hídrica o mais precocemente possível.