A maioria dos acidentes, seja por uma serpente venenosa ou não, leva a algum tipo de efeito local. Uma vez que a identificação da serpente causadora do acidente nem sempre é possível de ser feita, o diagnóstico do tipo de envenenamento é baseado em critérios clínicos (sinais e sintomas) e epidemiológicos.
Nos acidentes por serpente não peçonhenta o paciente irá apresentar a lesão puntiforme da presa da serpente e leve dor local, mas não terá sinais e sintomas flogísticos (dor intensa, calor, rubor, edema) imediatamente.
Os acidentes por serpentes peçonhentas irá apresentar lesões extremamente dolorosas e severamente edemaciadas dentro de cinco minutos após o evento. O local acometido pode apresentar sangramento e bolhas, eventualmente levando à necrose do tecido. Outros sintomas iniciais comuns incluem letargia, sangramento, fraqueza, náuseas e vômitos e que indicam reação sistêmica e maior gravidade do envenenamento. Dependendo do gênero da serpente, os sintomas podem tornar-se mais graves ao longo do tempo, com sinais de hipotensão, taquipneia, taquicardia grave, hemorragia interna grave, sensibilidade alterada, insuficiência renal e falência respiratória1,2.
A conduta inicial do atendimento deve ser lavar o local com água e sabão e elevar o membro até a chegada no serviço de saúde para avaliar se teve ou não envenenamento e se necessário administrar o soro antiofídico. O uso de torniquete, sucção do veneno, sangria NÃO é recomendado.
Os acidentes por serpentes não peçonhentas devem ser realizados por tratamento sintomático (analgésicos e antinflamatórios) e observação por pelo menos 6 (seis) horas. Os acidentes por serpentes peçonhentas devem seguir o manual do Ministério da Saúde para aplicação de soroterapia, com antiveneno específico, conforme o gênero da serpente e/ou sinais e sintomas clínicos do paciente.
O uso de corticoide e anti-histamínico são utilizados 30 minutos antes da administração do soro antiofídico para diminuir o risco de reação adversa ao produto. Entretanto, o paciente ainda pode apresentar reação e o profissional deve ficar próximo durante e pelo menos 2 horas após a infusão para detecção precoce das reações adversas agudas (prurido, estridor larígeo, edema de glote, aumento de temperatura, vômito, rebaixamento do nível de consciência, entre outros).
1.Brasil. Caderno 14 Acidentes por Animais Peçonhentos. In: Saude M da, editor. Guia de vigilância epidemiológica. 7th ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2009. p 23. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vigilancia_epidemiologica_7ed.pdf
2.Gold BS, Dart RC, Barish RA. Bites of venomous snakes. N Engl J Med. 2002 Aug1;347(5):347-56. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra013477?url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori%3Arid%3Acrossref.org&rfr_dat=cr_pub%3Dpubmed