É recomendável que o acolhimento e assistência aos usuários de drogas pela equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF) seja pautada na redução de danos para minimizar as consequências adversas do consumo de drogas do ponto de vista da saúde e dos seus aspectos sociais. Assim, essa abordagem precisa seguir os preceitos éticos baseados na autonomia e no diálogo para facilitar o acesso desses usuários a Unidade Básica de Saúde (UBS).(1,2,3)
Para que o acolhimento aconteça de maneira efetiva, é fundamental que o usuário de álcool e outras drogas se sinta bem acolhido pelo Agente Comunitário de Saúde (ACS) e pelos demais profissionais da ESF, pois o primeiro contato com a pessoa é de extrema importância, já que repercutirá no vínculo e na adesão ao processo de tratamento desses usuários. Esse acolhimento precisa envolver alguns aspectos fundamentais, como “tratar os usuários e familiares com respeito; e promover uma relação de proximidade entre equipe e a pessoa assistida, evitando, contudo, um envolvimento íntimo”.(2,4)
Para que o acolhimento seja satisfatório é necessário que toda a equipe de saúde, especialmente os ACS, por residirem na comunidade e geralmente possuírem um vínculo maior com a população, saibam lidar com questões cruciais, como sigilo e confiança, e ao mesmo tempo sem preconceitos, sem fazer julgamentos e nem advertências morais.(1,2,5)
É importante reconhecer as singularidades de cada pessoa para a construção da estratégia, não objetivando apenas alcançar a abstinência, mas a defesa de sua vida(1). Dentre as ofertas de cuidado na APS destacam-se: a identificação de usuários com necessidades relacionadas à ruptura dos laços sociais; a articulação com os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do município, ou mais próximo do município, para ajudar no desenvolvimento de projetos terapêuticos ampliados; e realização do mapeamento de usuários disfuncionais para uma intervenção adequada da equipe.(5,6,7)
Algumas orientações que podem ser usadas no acolhimento e assistência aos usuários de drogas na APS:(1,2,4)
• Sigilo: o que for relatado pelos pacientes não deve ser comentado com pessoas da comunidade, nem com seus amigos ou familiares. A discussão dos casos deve ser feita em local apropriado, com as pessoas da equipe;
• Promover um clima acolhedor, tentando ouvir o que a pessoa está vivenciando e convidando-a a falar. A fala é muito importante no processo de elaboração/integração das experiências traumáticas. Não esqueça que essa conversa pode ser a primeira em que o paciente está se dispondo a compartilhar o assunto. Mas não demonstre ansiedade em saber sobre o ocorrido. Cada um tem seu tempo e o respeito aos limites do outro é regra fundamental!;
• Fazer todo o esforço possível, verbal e não verbal, para fazer com que o outro sinta que você o está entendendo. A outra pessoa deve perceber que você está interessado em ouvi-la;
• Criar uma atmosfera tolerante, evite julgamentos. O objetivo não é definir quem está certo ou errado e sim auxiliar o sujeito neste momento de grande sofrimento;
• Ser empático, ou seja, busque entender as necessidades e a situação da outra pessoa, colocando-se no lugar dela;
• Ser flexível, centrando o cuidado na pessoa, o que é diferente de encaixar a pessoa no trabalho;
• Não exigir decisões rápidas. Tenha paciência com a caminhada da pessoa e respeite o que é saúde para ela: dar tempo para querer coisas e fazer combinações diferentes consigo mesma;
• Exercer a função de “espelho”, devolvendo uma imagem, lembrando dos sonhos e projetos construídos e divididos no dia a dia, dos quais nem sempre a pessoa está decidida quanto à sua relevância atual;
• Reconhecer seus esforços de enfrentamento e superação, mesmo quando tudo o que se pretendia não fora alcançado.
1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva, Coordenação Nacional de DST e Aids. A Política do Ministério da Saúde para atenção integral a usuários de álcool e outras drogas. Brasília. (Série B. Textos Básicos de Saúde). 2003:60p. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_atencao_alcool_drogas.pdf
2. Brasil. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD).Drogas: cartilha sobre maconha, cocaína e inalantes. Brasília: Ministério da Justiça. 2011:48p. Disponível em: http://www.justica.gov.br/central-de-conteudo/politicas-sobre-drogas/cartilhas-politicas-sobre-drogas/cartilhasobremaconhacocainainalantes.pdf
3. Brasil. Ministério da Saúde. Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (PROAD). Niel, M & Silveira, DX (orgs). Drogas e redução de danos: uma cartilha para profissionais de saúde. São Paulo, 2008:96p. Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/direitos_humanos/Cartilha%20para%20profissionais%20da%20saude.pdf
4. Fernandes RC, França PF (sup. geral). Cartilha de Redução de Danos para Agentes Comunitários de Saúde. Diminuir para somar. Rio de Janeiro: Viva comunidade. 2010:52p. Disponível em: http://www.vivacomunidade.org.br/wp-content/arquivos/cartilha_ACS_red_danos.pdf
5. Núcleo de Telessaúde Santa Catarina. Segunda Opinião Formativa-SOF. BVS APS. Como abordar pacientes usuários de drogas no contexto da atenção primária à saúde? | 24 mar. 2017 | ID: sof-36375. Disponível em: http://aps.bvs.br/aps/como-abordar-pacientes-usuarios-de-drogas-no-contexto-da-atencao-primaria-a-saude/
6. Paula ML, Jorge MSB, Vasconcelos MGF, Albuquerque RA. Assistência ao usuário de drogas na atenção primária à saúde. Psicologia em Estudo. 2014 abr./jun.;19(2):223-233. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pe/v19n2/06.pdf
7. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas. Abordagens terapêuticas à usuários de cocaína/crack no Sistema Único de Saúde. Coordenação Nacional da Saúde Mental. Brasília. 2010:18p. Disponível em: http://www.sgc.goias.gov.br/upload/links/arq_320_abordagemsuscrack.pdf