Qual a relação entre os sintomas de dispareunia, dor pélvica e doença inflamatória pélvica?

| 9 novembro 2017 | ID: sofs-37102
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: , ,
Graus da Evidência:

A dispareunia e a dor pélvica são sintomas bastante comuns e desafiadores do ponto de vista clínico  devido às inúmeras possibilidades de etiologias. Assim, a anamnese e o exame físico são  as principais ferramentas para elucidação diagnóstica (1). As questões fisiológicas, diminuição de estrogênio, posição no ato sexual e outras patologias, dentre as quais situações infecciosas potencialmente graves, como a doença inflamatória pélvica (DIP), são algumas das tantas possibilidades diagnósticas (1).


Baseado na prevalência das bactérias mais comumente envolvidas na DIP, recomenda-se que os esquemas terapêuticos sejam eficazes contra Neisseria gonorrhoeae, Chlamydia trachomatis e os anaeróbios, em especial o Bacteroides fragilis (que podem causar lesão tubária), mesmo que esses não tenham sido confirmados nos exames laboratoriais.
Além disso, também devem contemplar a vaginose bacteriana, frequentemente associada à DIP, bactérias gram negativas, bactérias facultativas e estreptococos (2).

Entre os principais sintomas do climatério está a secura, coceira ou mesmo desconforto vaginal. Como resultado, a mulher pode ter dispareunia. Estima-se que 80% das mulheres terão sintomas relacionados ao período pré-menopáusico e que 45% terão dificuldades em lidar com estes sintomas (3,4). A influência de inúmeros fatores de ordem biológica (ligados à queda dos níveis de estrógenos ou em decorrência da senilidade), aspectos psicológicos (envolvendo a autopercepção da mulher, ou seja, como essa mulher enfrenta esse momento da sua vida) e aspectos sociais (relacionados à interação da mulher com os familiares, amigos e comunidade). Este último tem uma forte relação com os aspectos socioculturais, tais como os mitos, crenças e preconceitos que a sociedade constitui, dissemina e vivencia em cada época (5).
Um estudo de base populacional com 365 mulheres entre 35 e 65 anos de idade, também identificou um menor percentual dos sintomas intensos do climatério (8,0%) quando as mulheres eram ativas fisicamente. Estudo do tipo caso-controle revelou que 63,6% das mulheres sedentárias, apresentaram sintomas de intensidade moderada a severa no climatério e que há melhores escores no nível de qualidade de vida entre mulheres que realizavam atividade física regular. Por isso, a fase do climatério merece atenção especial, pois a orientação sobre adoção de hábitos de vida saudáveis (prática regular de atividade física e alimentação adequada) pode representar uma mudança significativa na redução da intensidade dos sintomas, conferindo às mulheres, melhor qualidade de vida (5).
A queixa de dispareunia e dor pélvica deve ser sempre valorizada, pois além de causas clínicas presentes e objetivamente identificáveis, a mesma pode ser indicativa de outras situações a qual a mulher pode estar exposta, mas de difícil identificação imediata, como as de cunho psicossocial: história de violência sexual e doméstica, traumas, insatisfação sexual, dentre outras (1).
No entanto é importante no exame clínico, perguntar para a usuária se a dor ocorre no início da relação sexual por falta de lubrificação/climatério e também sobre os sintomas inespecíficos, dispareunia, atrofia geniturinária, ressecamento vaginal e possível disfunção sexual (6) , comprometimento/lesão, relacionado à DIP e infecções sexualmente transmissíveis (7).

Atributos
Acesso/Integralidade: Diante das diversas possibilidades é necessário que as mulheres tenham acessibilidade à informação sobre limites, riscos e vantagens de cada uma e acesso a atendimento humanizado e de qualidade que garanta seus direitos de cidadania (8). A equipe da Atenção Primária à Saúde podem auxiliar as usuárias no climatério, esclarecendo que a atividade sexual frequente ajuda a manter a elasticidade da vagina; orientando quanto ao uso de lubrificantes diminuindo o desconforto, evitando a dispareunia (relação sexual dolorosa); informando quanto ao tono diminuído da musculatura perineal, encorajando a praticar exercícios perineais como parar a micção: manter por 5-10 segundos e soltar: repetir com frequência durante o dia (9).

Bibliografia Selecionada:

1. Prefeitura de Florianópolis-SC. Protocolo de Enfermagem. V.3. Saúde da Mulher na APS. Acolhimento às demandas da mulher nos diferentes ciclos de vida. Disponível em: http://www.pmf.sc.gov.br/arquivos/arquivos/pdf/28_11_2016_22.36.14.03084a93d0f0eec988fa25f3095b594a.pdf.
2. Núcleo de Telessaúde do Rio Grande do Sul. Qual o esquema antimicrobiano para doença inflamatória pélvica leve/moderada em ambiente de APS? Segunda Opinião Formativa, 22 jul 2010. Disponível em: http://aps.bvs.br/aps/qual-o-esquema-antimicrobiano-de-escolha-para-doenca-inflamatoria-pelvica-levemoderada-em-ambiente-de-atencao-primaria-a-saude/.
3. Menopause [Internet]. England: NHS Choices. 2008 [ updated 2008 Jan 16; cited 2009 Dec 21]. Disponível em: http://www.nhs.uk/Conditions/Menopause/Pages/Introduction.aspx
4. Núcleo de Telessaúde do Rio Grande do Sul. Quais os sintomas de uma mulher que esta entrando na menopausa? Segunda Opinião Formativa, 18 jan 2010. Disponível em: http://aps.bvs.br/aps/quais-os-sintomas-de-uma-mulher-que-esta-entrando-na-menopausa/?post_type=aps&l=pt_BR.
5. Alves ERP, Costa AM, Bezerra SMMS, Nakano AMS, Cavalcanti AMTS, Dias MD. Climatério: A intensidade dos sintomas e o desempenho sexual. Texto Contexto Enferm, [Internet]. 2015 Mar [cited 2017 Nov 07]; 24(1): 64-71. Disponível em:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072015000100064&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. http://dx.doi.org/10.1590/0104-07072015000590014.
6. Climatério e menopausa In: Gusso G, Lopes JMC. Tratado de Medicina de família e comunidade: princípios, formação e prática. 2 v Porto Alegre: Artmed, 2012. cap. 121, p. 1046-1054.
7. Dekker JH, Veehof LJG, Hinloopen RJ, Van Kessel T, Boukes FS. Doença inflamatória pélvica. Resumo de diretriz NHG M50 (primeira revisão, setembro 2005)  traduzido do original em holandês por Luiz F.G. Comazzetto, 2014 . Disponível em: http://sbmfc.org.br/media/NHG%2050%20Doen%C3%A7a%20inflamat%C3%B3ria%20p%C3%A9lvica.pdf.
8. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Manual de Atenção à Mulher no Climatério/Menopausa Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2008.192 p. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Série Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos – Caderno, n.9) ISBN 978-85-334-1486-0. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_atencao_mulher_climaterio.pdf.
9. Núcleo de Telessaúde do Rio Grande do Sul. Como uma equipe de ESF pode auxiliar pacientes no climatério? Segunda Opinião Formativa, 04 ago 2008. Disponível em: http://aps.bvs.br/aps/como-uma-equipe-de-esf-pode-auxiliar-pacientes-no-climaterio/.