A toxoplasmose materna não contraindica a amamentação, em nenhuma das duas situações, uma vez que não há nenhuma evidência de que a toxoplasmose possa ser transmitida através do leite materno.
A transmissão da doença pode ocorrer de três formas, primeiro pela ingestão de tecidos de animais infectados, contendo cistos de Toxoplasma, através de carne crua ou mal cozida, fonte de infecção comum para hospedeiros definitivos e intermediários, ou presas caçadas, fonte de infecção primária nos gatos; segundo pela ingestão de oocistos eliminados nas fezes de gatos, fonte de infecção comum para hospedeiros intermediários, os oocistos podem ser transportados por baratas, moscas e minhocas e; terceiro a infecção congênita, transplacentária, esta fonte de infecção é incomum nos cães e gatos, mas pode ser causa de aborto, natimortos ou mortalidade neonatal 1,2.
A Toxoplasmose é uma zoonose causada pelo protozoário Toxoplasma gondii (T. gondii), um parasita celular obrigatório. A infecção possui distribuição geográfica mundial e alta prevalência sorológica1. O principal mecanismo de transmissão é a ingestão de oocistos infectantes provenientes de fezes de gatos ou a ingestão de carne crua ou mal cozida contendo cistos teciduais 3.
Embora a infecção pelo T. gondii seja geralmente assintomática nos indivíduos imunocompetentes, costuma apresentar quadros clínicos de alta gravidade em indivíduos imunocomprometidos (transplantados, submetidos a quimioterápicos ou portadores de HIV), podendo até levar à morte. Em gestantes, pode ocasionar aborto espontâneo, nascimento prematuro, morte neonatal, ou sequelas severas no feto (por exemplo, a clássica Tríade de Sabin: retinocoroidite, calcificações cerebrais e hidrocefalia ou microcefalia), caso a infecção seja adquirida durante a gestação, principalmente durante os primeiros dois trimestres 3.
O diagnóstico de infecção aguda na gravidez é crucial, pois é geralmente nesse período que a gestante corre risco de transmitir a doença para o feto. Como a maioria das infecções nas grávidas e nos recém-nascidos é assintomática, devem-se realizar exames complementares para diagnosticar e tratar os casos de toxoplasmose aguda na gestação e de toxoplasmose congênita 4.
As gestantes que apresentarem suspeita de infecção por T. gondii adquirida durante a gestação devem ser imediatamente tratadas com espiramicina, que é ministrada para prevenir a transmissão do T. gondii da mãe para o feto. Se a infecção toxoplásmica fetal for confirmada, ou nas infecções adquiridas nas fases mais tardias da gestação (quando a taxa de transmissão materno-fetal é mais alta), o tratamento específico da mãe com pirimetamina, sulfadiazina e ácido folínico deverá ser considerado5.
Todas as drogas apresentam uma categoria de risco quando usadas durante a lactação, e com as medicações usadas no tratamento da toxoplasmose não é diferente. A Espiramicina e o ácido fólico são compatíveis com a amamentação, já a Pirimetamina é classificada como uso criterioso durante a amamentação, pois é excretada no leite materno em quantidades significativas. Deve-se evitar em lactentes que estejam fazendo uso de outro antagonista de folatos. A Sulfadiazina também se apresenta como uso criterioso durante a amamentação, pois não há dados sobre segurança para uso durante o período da lactação. Por isso, o médico deve escolher a forma de tratamento que seja a melhor para mãe e bebê6.
Atributos da APS
O aleitamento materno, pelas inúmeras vantagens que traz, tanto para a mãe como para o recém-nascido, é reconhecido mundialmente como a melhor forma de alimentação da criança. Entretanto algumas doenças envolvendo tanto a mãe quanto o recém-nascido podem constituir obstáculos para a amamentação. Nessas circunstâncias, é importante que o profissional tenha habilidade, conhecimento técnico e atitude acolhedora para avaliar e orientar adequadamente a viabilidade do aleitamento materno. Desta forma, o acesso facilitado ao serviço de saúde promove oportunidade de discussão e esclarecimentos a respeito de questões que poderiam se tornar empecilho para a amamentação de forma desnecessária.
1. MITSUKA-BREGANÓ, R., LOPES-MORI, FMR., and NAVARRO, IT., orgs. Toxoplasmose adquirida na gestação e congênita: vigilância em saúde, diagnóstico, tratamento e condutas [online]. Londrina: EDUEL, 2010. Toxoplasmose. pp. 1-5. ISBN 978-85-7216-676-8. Available from SciELO Books. Disponível em: http://books.scielo.org/id/cdtqr/pdf/mitsuka-9788572166768-03.pdf
2. BIRCHARD, S. J.; SHERDING, R. G.; Manual Saunder: Clínica de Pequenos Animais. 2ª ed. São Paulo: Roca, 2003
3. Amendoeira MRR, Camillo-Coura LF. Uma breve revisão sobre toxoplasmose na gestação. Scientia Medica (Porto Alegre) 2010; volume 20, número 1, p. 113-119. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/scientiamedica/article/view/5917/4953
4. Pessanha T M, Carvalho M, et al. Abordagem diagnóstica e terapêutica da toxoplasmose em gestantes e as repercussões no recém-nascido. Scielo: Rev. paul. pediatr. vol.29 no.3 São Paulo Sept. 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-05822011000300006
5. Amendoeira MRR, Camillo-Coura LF. Uma breve revisão sobre toxoplasmose na gestação. Scientia Medica (Porto Alegre) 2010; volume 20, número 1, p. 113-119. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/scientiamedica/article/view/5917/4953
6. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria da Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Amamentação e uso de medicamentos e outras substâncias / Ministério da Saúde, Secretaria da Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. – 2. ed. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2010. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/amamentacao_uso_medicamentos_2ed.pdf