No primeiro momento é necessário avaliar a confirmação deste diagnóstico visto que a existência de sorologias prévias e o resultado pormenorizado das sorologias do terceiro trimestre são fundamentais para esse raciocínio clínico. Considerando que essa gestante foi submetida a sorologias subsequentes durante o pré-natal e que inicialmente possuía IgG e IgM negativos, podemos considerar as seguintes situações.
IgG positiva e IgM negativa: Esse resultado indica possibilidade de falso negativo da IgG na amostra anterior, por método inadequado. Provável imunidade remota. Exceção deve ocorrer se houver primeira sorologia (negativa) no início da gestação e exame subsequente no final da gestação ou no momento do parto com IgG muito alta: o que indica possibilidade de infecção durante a gestação com IgM muito fugaz. É importante analisar também a possibilidade de IgM falso negativo. Se houver possibilidade de infecção adquirida na gestação é preciso iniciar o esquema tríplice materno (Pirimetamina; Sulfadiazina e Ácido folínico). Esses medicamentos atravessam a barreira placentária tratando diretamente o feto via intra-uterina, prevenindo ou diminuindo sequelas. Não há recomendação especial de novas sorologias ou seguimento com Ecografia- isso ficará a cargo da equipe médica da Atenção Primária e na necessidade nos serviços especializados. Após o parto, uma investigação completa do recém-nascido deverá ser feita.
IgG positiva e IgM positiva: Esse resultado indica certeza de infecção durante a gestação. A consulta com o médico da Equipe de Saúde da Família deve ser feita o mais breve possível, para não retardar a conduta. Nesse caso, com a gestação superando as 37semanas, o mais indicado seria iniciar diretamente o esquema tríplice materno (Pirimetamina; Sulfadiazina e Ácido folínico). Como a Ecografia nessa idade gestacional não indica mais mudança de conduta terapêutica, não há recomendação específica de sua periodicidade nesse caso. Após o parto, uma investigação completa do recém-nascido deverá ser feita.
IgG negativa e IgM positiva: Nesse caso há indicação de infecção muito recente ou IgM falso positivo. Como a gestação dessa paciente está com mais de 37semanas, o mais indicado seria iniciar diretamente com esquema tríplice materno (Pirimetamina; Sulfadiazina e Ácido folínico). A Ecografia nessa idade gestacional não indica mais mudança de conduta terapêutica, dessa forma, não há recomendação específica de sua periodicidade nesse caso. Após o parto, uma investigação completa do recém-nascido deverá ser feita.
Diagnóstico de infecção fetal: o objetivo do diagnóstico pré-natal da toxoplasmose congênita é a identificação de fetos acometidos e a prevenção das sequelas no período intrauterino, sendo confirmado utilizando-se a reação de cadeia de polimerase (PCR) em líquido amniótico, obtido do exame de amniocentese. A técnica de PCR possui alta especificidade e sensibilidade (97,4%), porém, devido a seu custo e ao fato de ainda ser limitada aos grandes centros, deve ser empregada somente na certeza de infecção aguda materna (4,5). No caso dessa paciente, a indicação ou não dessa conduta deverá ser avaliada pelos médicos assistentes.
Leitura Complementar:
A taxa de transmissão materno-fetal da toxoplasmose varia principalmente de acordo com a idade gestacional no momento da infecção materna. Quando esta ocorre antes da 15ª. semana de gestação, pode resultar em transmissão transplacentária menor que 5%, podendo atingir 80%, se próxima do termo. Entretanto, as taxas de comprometimento fetal são menores se a transmissão ocorre nos últimos trimestres e extremamente graves quando a transmissão vertical ocorre no primeiro trimestre gestacional (6). É importante atentar que casos de diagnóstico de toxoplasmose na gestação tem indicação de referenciamento ao pré-natal de alto risco para seguimento concomitante.
Notificação: A Toxoplasmose gestacional e congênita são patologias, de acordo com Portaria nº 204, de 17 de fevereiro de 2016 do Ministério da Saúde (que define a Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional ), de notificação compulsória semanal.
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