Em pacientes com xerostomia deve-se realizar a estimulação do fluxo salivar e a substituição de secreções salivares com estimulantes tópicos, saliva artificial e sialogogos1. Ademais, o paciente deve ter o acompanhamento odontológico de pelo menos seis em seis meses para o controle de placa bacteriana e estímulo à higiene bucal (escovação e uso do fio dental), para minimizar, assim, o risco de desenvolvimento de cárie dentária1.
Os estimulantes tópicos consistem em chupar balas, pastilhas e gomas de mascar sem adição de açúcar e consumir frutas secas que estimulem o fluxo salivar1,2. A saliva artificial tenta imitar as propriedades protetoras da saliva humana natural e é indicada para pacientes que com a estimulação tópica e ingestão contínua de água não apresentem melhoras na secura bucal1,2. A medicação é encontrada nas formas de pulverização, géis, líquidos para bochecho e pastilhas disponíveis sem a necessidade de receitas médicas. É aconselhável que o paciente utilize agentes distintos ao longo do dia para lubrificar a mucosa, principalmente em momentos de conversação, antes da alimentação e antes de dormir. O produto deve ser aplicado em toda mucosa bucal, incluindo o palato duro2. Os sialogogos são medicações que estimulam a salivação através do sistema nervoso parassimpático2 como a pilocarpina ou cevimelina que são indicados para pacientes que não apresentam melhoras no quadro utilizando estimulantes tópicos e saliva artificial2,3. A pilocarpina é uma droga utilizada para o tratamento sistemático de xerostomia em pacientes que realizam tratamento de radioterapia em região de cabeça e pescoço (Salagen® dosagem: 5mg – 3x/dia) e em pacientes com Síndrome de Sjӧgren (Salagen® dosagem: 5mg – 4x/dia)4. Já a cevimelina é mais indicada para pacientes com a Síndrome de Sjӧgren (Evoxac dosagem: 30mg – 3x/dia)5.
Complementação:
A sensação de boca seca é comum, porém, quando essa condição passa a ser diária, pode levar a problemas sérios de saúde ou indicar a existência de uma doença mais grave6. A xerostomia é a sensação crônica e subjetiva de boca seca que ocorre principalmente em pacientes com hipofunção da glândula salivar reduzindo o fluxo salivar ou alterações bioquímicas salivares que podem ser provocadas por medicação induzida, radioterapia de cabeça e pescoço e algumas condições sistêmicas que causam complicações como cárie dentária, doenças periodontais, halitose, cálculos da glândula salivar, candidíase oral, sensação de queimação oral, disgeusia, disfagia, desconforto na mastigação e fala1,2,3,6.
Pacientes que utilizam medicações como antidepressivos, inibidores seletivos de recaptação (SSRIs) especialmente combinados com benzodiazepinas, diuréticos, anti-hipertensivos, inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA), hipoglicemiantes orais, ácido acetilsalicílico (AAS) e suplementos férricos estão associados à xerostomia6.
Dentre os fatores etiológicos associados à xerostomia, se destacam o envelhecimento, pois, pacientes idosos fazem uso de inúmeras medicações que podem levar a hipofunção glandular e já possuem uma redução salivar característica da idade; pacientes em tratamento quimioterápico ou radioterápico podem danificar as glândulas salivares e alterar a composição salivar; efeitos colaterais de certas doenças e infecções como a Síndrome de Sjӧgren, o HIV / SIDA, doença de Alzheimer, diabetes, anemia, artrite reumatoide e hipertensão6.
A avaliação do fluxo salivar, sialometria, é um teste de rastreamento no diagnóstico de uma doença, o profissional pode escolher uma técnica envolvendo a coleta da saliva total ou de uma glândula específica, além da amostra poder ser obtida com ou sem estímulo. Quando da amostra obtida sem estímulo, pode-se realizar a drenagem ativa, onde o paciente acumula na boca a saliva e periodicamente expele em um recipiente por um período de cinco minutos. As taxas de fluxo de saliva total (ml/min) sem estímulo são consideradas muito baixa (<0,1), baixa (0,1-0,25) e normal (>0,25), já nos casos de coleta com estímulo as taxas são consideradas muito baixa (<0,7), baixa (0,7-1,0) e normal (>1,0)7.
A Síndrome de Sjӧgren possui como característica clínica a presença de xerostomia e secura nos olhos, é uma doença autoimune que promove inflamação nas glândulas lacrimais e salivares6,8. Todo paciente portador da Síndrome de Sjӧgren deve, independente de sua gravidade e sintomas, realizar a prevenção de secura, a estimulação tópica de secreções e profilaxia dentária1.
Atributos da APS
A xerostomia geralmente está associada a condições sistêmicas e ao uso de certos medicamentos, assim, deve-se garantir ao paciente um tratamento integral e a continuidade da atenção nos distintos níveis de complexidade do sistema de serviços de saúde.