Na realização de um grupo de culinária direcionado aos portadores de hipertensão e diabetes é importante considerar o formato da atividade educativa e o local a ser desenvolvido o grupo.
Na definição do formato, indica-se que as oficinas de preparação dos alimentos sejam aliadas a rodas de conversa que promovam discussão sobre fatores que podem contribuir para a adesão dos usuários às orientações alimentares e nutricionais realizadas, tais como: a) relação dos usuários com os alimentos; b) significado dos diferentes alimentos em sua vida; c) condições para aquisição dos alimentos recomendados para consumo; d) alimentos/preparações preferidas; e) alimentos/preparações “proibidas” e “indicadas”, buscando a compreensão sobre diferentes orientações já recebidas em relação ao consumo de alimentos em consequência à condição clínica atual; f) dificuldades em seguir as orientações e estratégias desenvolvidas; g) experiências pessoais com a alimentação e as indicações recebidas; h) outros temas importantes para compreender as necessidades singulares desse grupo. A organização do grupo de culinária pode se dar com a discussão de um tema ou blocos de temas por um período de cerca de 40 minutos através de rodas de conversa e elaboração de uma receita ou mais receitas para degustação durante ou após a discussão.
Em relação às receitas a serem desenvolvidas, é importante que em sua seleção se considere a condição clínica dos usuários, evitando a oferta de alimentos e preparações que contenham alto teor de sódio, gordura saturada e trans, adição de açúcar e incentivando-se a utilização de temperos naturais1. Outras sugestões são discutir com os usuários possíveis benefícios dos alimentos/nutrientes contidos nas receitas preparadas e a construção de um livro de receitas contendo aquelas testadas no grupo de culinária, a ser disponibilizado posteriormente aos usuários participantes2.
No grupo, os profissionais de saúde, precisam ter uma escuta atenta para identificar as diferentes dificuldades para a adesão às orientações alimentares que poderão ser levantadas. Os profissionais podem incentivar a discussão sobre a importância de aliar as mudanças necessárias a uma alimentação saborosa e prazerosa, identificando com o próprio grupo as receitas que poderão ser desenvolvidas na culinária, considerando as necessidades desses usuários, além de poder expandir a ação do grupo para outras atividades, tais como articular uma feira de horti-fruti local ou desenvolvimento de hortas suspensas na comunidade3.
Outra questão importante é a identificação de um espaço adequado para a realização do grupo de culinária, sendo necessário um local que contenha, minimamente, equipamentos e utensílios de cozinha e condições higiênico-sanitárias adequadas. Além disso, é importante que seja realizada articulação com a Secretaria Municipal de Saúde para suporte ao grupo, disponibilizando os materiais necessários, tais como os ingredientes das receitas a serem testadas. Esse fator é relevante para buscar a garantia da continuidade do grupo proposto.
Vale reforçar a necessidade de que a proposta da atividade educativa seja apresentada aos usuários no início do grupo de culinária, estabelecendo-se os acordos do grupo (envolvendo responsabilidades dos usuários e dos profissionais de saúde envolvidos). Além disso, sugerimos articulação entre a equipe de SF e os profissionais do NASF para o seu desenvolvimento, especialmente do nutricionista, caso essa equipe e esse profissional estejam incluídos na Atenção Básica em seu município.
Por fim, é importante que seja estabelecida uma relação educativa que priorize a troca de conhecimentos, de maneira a permitir que todos os participantes tenham voz para suas opiniões e dúvidas, construindo relações cooperativas a partir da atividade grupal. Os grupos direcionados aos portadores de hipertensão e diabetes, comumente denominados de Hiperdia, são um espaço privilegiado para a realização de ações de promoção e prevenção em saúde, buscando melhorar a adesão desses usuários aos cuidados recomendados e, consequentemente, os resultados alcançados para a melhoria de sua saúde.
1. Fonsati MI. Comunidade de Práticas. Saúde e qualidade de vida. Relato 1253. Disponível em: https://novo.atencaobasica.org.br/
2. Ferreira AP; Gerlach A; Lima LA. Oficina Culinária Saudável em Grupo de Convivência. In: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. II Mostra de Alimentação e Nutrição do SUS, I Seminário Internacional de Nutrição na Atenção Primária: trabalhos selecionados para apresentação oral. Brasília: Ministério da Saúde; (Série F. Comunicação e Educação em Saúde). 2009:122p. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/trabalhos_apresentacao_oral_2_mostra_alimentacao_nutricao.pdf
3. Mabjabosco RD; Lima RAR; Neto GR; et. al. Comunidade de Práticas. Plantando mudinhas, colhendo saúde. Relato 971. Disponível em: https://novo.atencaobasica.org.br/