Os corticoides inalatórios (CI) são a primeira escolha para o tratamento de prevenção e controle da asma persistente na infância1(grau de evidência A). Em estudo de coorte histórica incluindo 30.569 asmáticos, o uso regular de corticoide foi associado à redução de 31% na taxa de hospitalização por asma e 39% nas readmissões1.
Os CI podem ser usados em lactentes, pré-escolares e escolares. Contudo deve-se estar atento no tratamento de lactentes pois na situação clínica diária muitas vezes é difícil a diferenciação entre crianças com sibilância recorrente que têm asma e aquelas sofrendo de sibilância recorrente induzida por vírus2.
Embora os CI tenham melhorado significativamente o controle da asma, com menos efeitos colaterais, o uso contínuo dessas drogas deve ser acompanhado para a detecção de possíveis efeitos adversos sistêmicos2. Algumas estratégias para equilibrar segurança e eficácia do uso de CI2,3:
– Usar a dose mínima efetiva;
– Quando usar dose única diária administrar pela manhã;
– Se não houver controle dos sintomas tentar outra droga associada antes de dobrar a dose do corticoide inalatório;
– Reduzir fatores alergenos e fumaça;
– Vacinação;
– Usar espaçador;
– Revisar técnica de uso da medicação com paciente/familiares;
– Monitorar crescimento em todas crianças que usam CI;
– Monitorar olhos(catarata, glaucoma) e densidade mineral óssea quando usar doses ≥ a 1.600μg/dia.
Com relação aos CI disponíveis muitos estudos referenciam a beclometasona e indicam o uso desta medicação como corticóide de escolha, na prevenção de crises em pacientes de países em desenvolvimento, por ser uma medicação barata e efetiva. Revisão sistemática do Cochrane que compara uso de fluticasona, beclometasona e budesonida em adultos e crianças asmáticas concluiu que o grupo que recebeu metade da dose de fluticasona comparado ao grupo que recebeu budesonida ou beclometasona em dose plena teve uma pequena melhora na medida do calibre das vias aéreas. Entretanto, parece ter um risco aumentado de dor de garganta e quando recebeu dose plena de fluticasona, houve um aumento nas taxas de rouquidão4.
A Anvisa selecionou a beclometasona como medicamento de referência para profilaxia da asma moderada, pois demonstra eficácia similar à dos demais corticoides inalatórios, tem menor custo e apresenta o mesmo perfil de efeitos adversos5.
A educação e treinamento dos pacientes na aquisição da técnica correta de utilização dos dispositivos inalatórios é fundamental. A utilização incorreta pode resultar em uma terapêutica inadequada5. O envolvimento de outros profissionais como enfermeiro, farmacêutico e agentes comunitários de saúde na educação, treinamento e supervisão do uso dos dispositivos inalatórios é importante para o sucesso do tratamento. Uma das sugestões são grupos ou interconsultas com envolvimento destes profissionais para educação e supervisão dos usuários de medicações inalatórias.
O medo dos efeitos adversos dos CI resulta na privação de tratamento apropriado e efetivo para algumas crianças e, além disso, na exposição a um risco maior pelo uso frequente de corticoides orais. Os CI são efetivos, como seus benefícios superam os riscos potenciais, podem ser usados com segurança em crianças com asma persistente2.