Qual a segurança no uso de corticoides inalatórios na pediatria?

| 21 setembro 2015 | ID: sofs-21710
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,
Graus da Evidência:

Os corticoides inalatórios (CI) são a primeira escolha para o tratamento de prevenção e controle da asma persistente na infância1(grau de evidência A). Em estudo de coorte histórica incluindo 30.569 asmáticos, o uso regular de corticoide foi associado à redução de 31% na taxa de hospitalização por asma e 39% nas readmissões1.

Os CI podem ser usados em lactentes, pré-escolares e escolares. Contudo deve-se estar atento no tratamento de lactentes pois na situação clínica diária muitas vezes é difícil a diferenciação entre crianças com sibilância recorrente que têm asma e aquelas sofrendo de sibilância recorrente induzida por vírus2.

 


Embora os CI tenham melhorado significativamente o controle da asma, com menos efeitos colaterais, o uso contínuo dessas drogas deve ser acompanhado para a detecção de possíveis efeitos adversos sistêmicos2. Algumas estratégias para equilibrar segurança e eficácia do uso de CI2,3:

– Usar a dose mínima efetiva;

– Quando usar dose única diária administrar pela manhã;

– Se não houver controle dos sintomas tentar outra droga associada antes de dobrar a dose do corticoide inalatório;

– Reduzir fatores alergenos e fumaça;

– Vacinação;

– Usar espaçador;

– Revisar técnica de uso da medicação com paciente/familiares;

– Monitorar crescimento em todas crianças que usam CI;

– Monitorar olhos(catarata, glaucoma) e densidade mineral óssea quando usar doses ≥ a 1.600μg/dia.

Com relação aos CI disponíveis muitos estudos referenciam a beclometasona e indicam o uso desta medicação como corticóide de escolha, na prevenção de crises em pacientes de países em desenvolvimento, por ser uma medicação barata e efetiva. Revisão sistemática do Cochrane que compara uso de fluticasona, beclometasona e budesonida em adultos e crianças asmáticas concluiu que o grupo que recebeu metade da dose de fluticasona comparado ao grupo que recebeu budesonida ou beclometasona em dose plena teve uma pequena melhora na medida do calibre das vias aéreas. Entretanto, parece ter um risco aumentado de dor de garganta e quando recebeu dose plena de fluticasona, houve um aumento nas taxas de rouquidão4.

A Anvisa selecionou a beclometasona como medicamento de referência para profilaxia da asma moderada, pois demonstra eficácia similar à dos demais corticoides inalatórios, tem menor custo e apresenta o mesmo perfil de efeitos adversos5.

A educação e treinamento dos pacientes na aquisição da técnica correta de utilização dos dispositivos inalatórios é fundamental. A utilização incorreta pode resultar em uma terapêutica inadequada5. O envolvimento de outros profissionais como enfermeiro, farmacêutico e agentes comunitários de saúde na educação, treinamento e supervisão do uso dos dispositivos inalatórios é importante para o sucesso do tratamento. Uma das sugestões são grupos ou interconsultas com envolvimento destes profissionais para educação e supervisão dos usuários de medicações inalatórias.

O medo dos efeitos adversos dos CI resulta na privação de tratamento apropriado e efetivo para algumas crianças e, além disso, na exposição a um risco maior pelo uso frequente de corticoides orais. Os CI são efetivos, como seus benefícios superam os riscos potenciais, podem ser usados com segurança em crianças com asma persistente2.

Bibliografia Selecionada:

  1. Sociedade Brasileira de Pediatria, Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia, Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. Asma na Infância: Tratamento Medicamentoso. Diretrizes Clínicas na Saúde Suplementar. Associação Médica Brasileira e Agência Nacional de Saúde Suplementar, 2011. 18 pp. Disponível em: http://www.projetodiretrizes.org.br/ans/diretrizes/asma_na_infancia-tratamento_medicamentoso.pdf [Acesso em 01 de julho 2015}
  2. Mocelin H, Sant ́Anna, CC. Corticoterapia na asma infantil – mitos e fatos. Sociedade Brasileira de Pediatria. 2000; Vol.1, 25 pp. Disponível em: http://www.sbp.com.br/img/cursos/asma/asma_pediatrica02.pdf [Acesso 01 de julho de 2015]
  3. Arend EE, Fischer GB, Mocelin H, Medeiros L. Corticóide inalatório: efeitos no crescimento e na supressão adrenal. J Bras Pneumol.2005;31(4):341-9. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jbpneu/v31n4/26335.pdf [Acesso em 01 de julho de 2015]
  4. Adams NP, Lasserson TJ, Cates CJ, Jones P. Fluticasone versus beclomethasone or budesonide for chronic asthma in adults and children. Cochrane Database of Systematic Reviews 2007, Issue 4. http://www.bibliotecacochrane.com/pdf/CD002310.pdf [Acesso 01 de julho de 2015]
  5. Ferreira, MBA, Amaral R et cols. Fármacos que atuam no sistema respiratório. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. ANVISA. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/divulga/public/livro_eletronico/Respiratorio.html. [Acesso em 23/06/15}
  6. Souza Maria Luiza de Moraes, Meneghini Andrea Cristina, Vianna Elcio Oliveira, Borges Marcos Carvalho. Técnica e compreensão do uso dos dispositivos inalatórios em pacientes com asma ou DPOC. J. bras. pneumol.  [Internet]. 2009  Sep [cited  2015  July  08] ;  35( 9 ): 824-831. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-37132009000900002&lng=enhttp://dx.doi.org/10.1590/S1806-37132009000900002. [Acesso em 08/07/15]