O dissulfiram (DSF) é recomendado na gestão da dependência de álcool em pacientes selecionados, altamente motivados e que estejam com apoio psicoterapêutico¹,2. O uso deste medicamento pode reduzir o consumo de álcool, mas não melhorar abstinência total ou possíveis recaídas (nível 2 de evidência)2,3. A dose habitual é 250mg/dia em dose única diária, preferencialmente de manhã, após um intervalo de, pelo menos 12 horas de abstinência. Os pacientes também podem beneficiar-se com doses de 500mg/dia. Se houver sonolência, recomenda-se o uso da medicação a noite4 e reduzir a dose para a faixa de 125-500 mg por dia1,4. A duração recomendada para o tratamento é de 1 ano.
Outra forma alternativa de administração poderia ser o uso de baixas doses de manutenção durante anos ou o uso intermitente diante de situações de alto risco4 até que paciente esteja totalmente recuperado e que tenha um autocontrole permanente estabelecido.
É importante orientar os pacientes a evitarem todas as fontes de álcool, pois a inibição da enzima ALDH pode durar até duas semanas após a suspensão do DSF. Deve-se explicar os efeitos tóxicos do DSF aos pacientes antes do seu uso, com vista a não ser utilizado sem o prévio consentimento dos mesmos. Não é adequado prescrever DSF sem o consentimento do paciente. Os pacientes devem se abster totalmente do álcool e possuir um completo entendimento acerca dos riscos e princípios do tratamento4.
Evitar o uso concomitante com álcool ou qualquer alimento (incluindo vinagre, xaropes, bombons com licor) ou produtos de uso tópico (loção para barba, perfumes, antissépticos orais) que contenham álcool na sua formulação. O DSF não deve ser administrado dentro de um prazo inferior a 12 horas após uso de qualquer produto contendo álcool¹,4.
O uso de dissulfiram é contraindicado, também, para pacientes com hipersensibilidade ao dissulfiram ou outros tiuranos, à pesticidas, à fungicidas ou látex (borracha), pacientes com diabetes mellitus, epilepsia, tirotoxicoses, nefrites agudas e crônicas, cirrose ou insuficiência hepática, moléstia miocárdica grave ou oclusão coronária além de psicoses exógenas, idosos e em paciente em estado de intoxicação alcoólica ou sem o conhecimento do mesmo. Na gravides existe o risco de anomalias congênitas4.
A interação álcool-dissulfiram provoca taquicardia; confusão mental; desmaio; dor de cabeça; dor no peito; fraqueza intensa; náusea; respiração difícil; suores; tontura; vermelhidão na face; visão borrada; vômito.
Pode ainda apresentar ataques cardíacos; convulsões; perda da consciência. Em casos extremos pode haver morte. As reações álcool-dissulfiram dependem da dose do medicamento e da quantidade ingerida de álcool; podem perdurar 30 minutos ou horas. As reações com álcool podem ocorrer até 2 semanas após a retirada do medicamento.
O DSF pode também provocar hepatite, insuficiência hepática, erupções na pele, sonolência, fadiga, disfunção eréctil, dor de cabeça, metálico ou sabor semelhante ao de alho, reações psicóticas.
A hepatite é um efeito adverso raro, que ocorre, principalmente, após 2 meses de tratamento com DSF. A detecção precoce desta condição clínica pode ser realizada através das provas de função hepática, inclusive as suas formas leves. Recomenda-se o monitorar a função hepática a cada 3 meses na fase de manutenção. No primeiro mês de tratamento, esses exames podem ser realizados a cada duas semanas4.
Recomenda-se ainda avaliar o risco x benefício nos casos de diabetes mellitus; doença convulsiva; diminuição da função renal; diminuição da função hepática; hipotireoidismo; dano cerebral; nefrite crônica ou aguda; dependência de outras drogas.
As principais interações medicamentosas são com isoniazida, metronidazol e fenitoína.
Para o êxito do tratamento com DSF é importante que os pacientes estejam engajados em algum programa de tratamento. O DSF oral supervisionado é eficaz quando incorporado a um tratamento que inclua uma abordagem de reforço comunitário; isto é, intervenções elaboradas com a finalidade de criar novas habilidades sociais, por meio de aconselhamento, além de atividades de ressocialização (por ex.: clubes sociais) e recreacionais, que estimulem a abstinência.É importante a adoção de estratégias que aumentem a aderência ao tratamento, tais como contratos sociais de contingência – que consistem em acordos terapêuticos entre o paciente e as pessoas envolvidas no seu tratamento, com o objetivo de determinar a supervisão da administração do medicamento por algum familiar; monitorização comportamental da abstinência; além de alguma forma de reforço positivo para a abstinência. A efetividade do tratamento aumenta com essas intervenções4.
O rastreamento de alcoolista é recomendado em todos os adultos, incluídas as gestantes. Recomenda-se que em todos os espaços de encontro com os pacientes, os profissionais de saúde perguntem a todos os adultos sobre o uso de álcool e o interesse de receber apoio para que deixem esse hábito. Nem todos os usuários estão no mesmo estágio ou abertos para a discussão do tema. Portanto, a classificação do grau de motivação é importante para identificar a fase de decisões que encontra-se o usuário, com vista a não ser utilizado o DSF sem o prévio conhecimento dos mesmos. Além disso, eles precisarão entender a necessidade da total abstinência do álcool, os riscos e princípios do tratamento. Recomenda-se, ainda, a adoção de um cartão de identificação a todos os pacientes sob tratamento com antietanol. Sugere-se que este cartão esteja sempre com o mesmo, identificando o uso de DSF e os sintomas mais frequentes na reação DSF /álcool, além de indicações sobre o médico ou instituição para atendimento de emergência5.
Categoria de Evidência: o uso deste medicamento pode reduzir o consumo de álcool, mas não melhora abstinência total ou possíveis recaídas (2).
O dissulfiram pode reduzir dias de beber, mas não melhora a abstinência em 1 ano (2).