O primeiro passo para organizar um grupo é o planejamento, que tem como diretriz principal o processo de territorialização, ou seja, as práticas devem ser orientadas a partir do entendimento do território. O processo de territorialização contribui para o reconhecimento do contexto comunitário que as equipes atuam e, a partir daí, é possível dar voz às necessidades comunitárias (1). Assim, as intervenções em saúde mental são concebidas na realidade do “dia a dia” do território, com as singularidades dos pacientes e de suas comunidades, buscando promover novas possibilidades de modificar e qualificar as condições e modos de vida. Para tanto, é primordial olhar o sujeito em suas múltiplas dimensões, com seus desejos, anseios, valores e escolhas.
Não se deve enclausurar o sofrimento ao diagnóstico, mas ampliar as condições de sujeito e de saúde. Ao invés de fazermos o grupo de saúde mental para esquizofrênicos ou deprimidos, podemos falar em Grupo de Saúde, ou Grupo em busca do Bem Estar, como proposta de driblar os sofrimentos do cotidiano. Para que determinado grupo possa, de fato, ter esse alcance positivo, em que se ampliam as condições e possibilidades de vivenciar as diferentes/ diversas subjetividades, deve-se prestar atenção para algumas de suas características e dinâmica. A proposta do grupo deve ser aquela que permite que seus integrantes tenham voz, espaço e corpos presentes, que seja capaz de fazer com que os usuários sintam-se ativos, ouvidos em suas demandas, para então poder ouvir e colaborar com a demanda alheia (2).
Ao entender o sofrimento para além da doença há possibilidades de se produzir novos suportes no território, acionando dispositivos que articulem trabalho, cultura e renda, envolvendo e produzindo no real social, processos de subjetivação solidária e alianças de cidadania (2).
Nesta perspectiva, é importante que a equipe trabalhe em conjunto com o profissional de Saúde Mental no levantamento de informações importantes para o planejamento em Saúde Mental, pois isso definirá as prioridades e os tipos de ação mais adequados ao contexto (3).
O grupo deve ser pensado, a priori, quanto à sua: finalidade – qual o objetivo do grupo, se tem viés educativo, terapêutico, operativo ou de acompanhamento, e sua estrutura – grupo aberto ou fechado, com um número de encontros previstos ou a depender da dinâmica de seus participantes, grupo misto ou delimitado por alguma característica específica (2).
A classificação de grupos proposta por Zimernan e Osório (1997), fundamenta no critério de finalidade de grupo, divide-os em grupos operativos e grupos psicoterápicos. Os grupos operativos têm uma ampla conceituação e uma extensa gama de aplicações. A proposta principal dessa técnica é a de grupos centrados na tarefa, ou seja, os integrantes mantêm relação direta com a tarefa, seja ela de cura, aprendizagem, entre outros. São quatro os campos de atuação para os grupos operativos: Ensino-aprendizagem; Institucionais; Comunitários; Terapêuticos. Já os grupos psicoterápicos têm por objetivo o desenvolvimento de um processo grupal que visa trabalhar com questões psicológicas e está centrado na busca do insight dos aspectos comportamentais, relacionais, comunicacionais e/ou inconscientes dos indivíduos e da totalidade grupal (4).
Neste sentido, haverá maneiras de organizar o grupo que necessitará da presença de um profissional psicólogo ou psiquiatra, como nos grupos psicoterapêuticos; e outros momentos, que não haverá necessidade da presença destes, a depender do tipo e da finalidade do grupo.
Os grupos educativos, comuns na APS, muitas vezes são pensados como solução para diversas situações identificadas no território, mas é preciso avaliar de forma crítica se, de fato, é a melhor estratégia, considerando aspectos biológicos, sociais e subjetivos (5). Por exemplo, em uma comunidade são identificados diversos casos de depressão. Diante disto, a equipe decide criar um grupo educativo sem levar em consideração que a maioria das pessoas tem relação de parentesco e/ou a existência de conflitos familiares. Neste caso, a formação de um grupo não seria a estratégia mais indicada, considerando que por estes motivos sociais não haveria adesão, apesar de existirem razões epidemiológicas para tal.
Nos casos em que os grupos são de fato uma estratégia que potencializa a promoção da Saúde Mental ou a prevenção de doenças na APS, estes permitem uma poderosa e rica troca de experiências e transformações subjetivas, pela pluralidade de seus integrantes, diversidade de trocas de conhecimentos e possíveis identificações que apenas um grupo torna possível (3).
O manejo do grupo precisa propiciar condições de integrar os participantes em torno de determinada(s) tarefa(s) específica(s), sem comprometer a heterogeneidade de seus integrantes. Deve-se privilegiar a participação ativa dos integrantes do grupo, incitando-os a contribuírem com a tarefa grupal, de modo a comprometê-los subjetivamente com aquilo que está sendo tratado pelo grupo (2).
A perspectiva de grupos deve estar pautada em uma flutuação entre o normativo e o criativo, permitindo que o mesmo seja, não só uma oferta do serviço, mas também um ponto da rede social de cuidado aos usuários de referência. Assim, sugerimos evitar a formação de grupos por tipologia de agravos ou sofrimento psíquico, buscando a diversidade grupal, reconhecendo e fazendo-se reconhecer os sujeitos como pertencentes a um território comum; e enfatizar o grupo como lugar de encontro entre sujeitos, e as pessoas como singularidades em permanente produção de si e do mundo (2).
O que desejamos é que o grupo adote a diferença como requisito de cura, evitando totalizações e universalizações dos sujeitos, grupos, práticas de cuidado.
Indicamos a busca e leitura de relatos de experiências no desenvolvimento de grupos de saúde mental na Atenção Básica como apoio para o planejamento de grupos em sua UBS: