O que fazer em surtos de pediculose?

| 4 agosto 2008 | ID: sofs-133
CIAP2:
DeCS/MeSH:

Em relação à pediculose, as infestações são mais comuns em escolares e os riscos aumentam conforme aumenta o número de irmãos, o comprimento dos cabelos e diminui o nível socioeconômico. Cabe ressaltar, que os estudos não evidenciaram que os piolhos “preferem” cabelos limpos a sujos.
Foram encontrados Ensaios Clínicos Randomizados que compararam diferentes tratamentos para pediculose e em suma o medicamento, disponível no Brasil, apontado como benéfico pelos autores foi a Permetrina 1%, com índices de cura superiores a 90%. Devido à maior concentração de inseticida a loção tem sido preferida quando comparada aos xampus como veículo. A loção pode ser aplicada no couro cabeludo e removida após 10 minutos com lavagem. Após 7 a 10 dias o tratamento deverá ser refeito.
A combinação de Permetrina a 1% em loção aplicada uma vez com a administração de Sulfametoxazol (400mg) e Trimetoprima (80mg) por via oral três vezes ao dia por três dias consecutivos é uma alternativa para casos que apresentem múltiplas falhas terapêuticas, porém devemos lembrar do aumento dos possíveis efeitos colaterais.
Quando comparada ao Lindane a Permetrina 1% mostrou-se mais efetiva na erradicação das lêndeas.
Ainda não se sabe se a combinação de inseticidas é benéfica comparada ao tratamento um agente farmacológico isolado.
Não foram encontrados estudos com adequado rigor metodológico que abordassem qual a melhor conduta perante surtos de pediculose, possivelmente porque esses surtos acontecem em realidades distintas e para cada uma delas é necessário avaliar as condições de higiene locais, disponibilidade de medicamentos, nível socioeconômico da população e grau de instrução dos cuidadores dos pacientes, na maioria dos casos crianças. Portanto, as orientações aqui descritas serão embasadas em opiniões de especialistas.
Logo após a identificação do surto de pediculose um membro da equipe de saúde deverá visitar e a escola e orientar os responsáveis pela mesma em relação ao acontecido.
Juntos equipe de saúde e escola devem trabalhar com os pais das crianças a fim de que se conscientizem de que o tratamento depende de TODOS e de que há necessidade de tratamento imediato da pediculose com Permetrina a 1%.
Para remoção das lêndeas vazias, os pais devem ser orientados a aplicar solução aquosa de ácido acético (diluição de vinagre branco em água, em partes iguais) no couro cabeludo, por cerca de 20 minutos, lavando após com xampu e usando pente fino. Caso se disponha de toalhas brancas essas são úteis para que ao pentear o cabelo se visualize melhor as lêndeas que caíram. O ideal em locais mais carentes é que o pente fino seja distribuído gratuitamente pela Unidade de Saúde.
Recomenda-se que as crianças, especialmente as que têm cabelos longos permaneçam com eles presos. Medidas como raspar os cabelos são desnecessárias. Cabe ressaltar que as lêndeas são muito sensíveis ao calor e por isso as roupas de cama e de corpo devem ser lavadas com água bem quente e passadas a ferro a altas temperaturas. Chapéus, roupas e outros objetos que não possam ser tratados pelo calor, devem ser selados num saco de plástico durante quatro semanas. Todos os membros do agregado familiar devem ser tratados ao mesmo tempo para erradicar a infestação.
Nos casos em que as crianças não estão tendo o cuidado adequado em casa pode-se considerar o uso de medicação por via oral (Ivermectina 200mcg/Kg).
Palestras sobre melhoria dos hábitos de higiene para evitar parasitose, prevenção e tratamento da pediculose devem ser realizadas. Em primeiro lugar nas palestras, é essencial não ter vergonha de falar neste assunto e acima de tudo saber que piolhos não são sinônimo de falta de higiene. O melhor aliado dos piolhos é o silêncio que se faz à sua volta por, ainda hoje, ser considerado por muitos um assunto tabu. Falar ainda que é muito importante avisar a escola se chegar à conclusão que o seu filho trouxe para casa uma série de novos “amiguinhos” pendurados no cabelo. Assim como os responsáveis pelo estabelecimento de ensino têm obrigação de comunicar aos pais se verificarem o aparecimento de um surto de pediculose. Só assim é possível cortar o mal pela raiz e pôr em prática o tratamento adequado.
Deve-se orientar que mesmo quando já não parecer existirem mais piolhos, é prudente examinar o cabelo uma vez por semana e os pais devem saber que a comichão pode durar semanas após um tratamento bem sucedido.

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  1. Qual material pode ser usado para a capacitação do Agente Comunitário de Saúde em relação a pediculose?
  2. Quais as complicações da pediculose não tratada, explicada de modo de fácil entendimento para crianças escolares?

Bibliografia Selecionada:

  1. Frankenburg WK, Dodds J, Archer P, Shapiro H, Bresnick B. The Denver II: a major revision and restandardization of the Denver Developmental Screening Test. Pediatrics [Internet]. 1992 Jan [cited 2008 Dez 11]; 89(1): 91-7. Disponível em: http://pediatrics.aappublications.org/cgi/content/abstract/89/1/91
  2. Glascoe FP, Byrne KE, Ashford LG, Johnson KL, Chang B, Strickland B. Accuracy of the Denver-II in developmental screening. Pediatrics[Internet]. 1992 Jun[cited 2008 Dez 11];89(6 Pt 2):1221-5. Disponível em: http://pediatrics.aappublications.org/cgi/content/abstract/89/6/1221
  3. Glascoe FP, Squires J. Issues with the new developmental screening and surveillance policy statement. Pediatrics [internet]. 2007 Apr [cited 2008 Dez 11];119(4):861-2; discussion 862-3. Disponível em: http://pediatrics.aappublications.org/cgi/reprint/119/4/861