Não existem evidências suficientes para afirmar que a realização de radiografia de tórax melhora o prognóstico de crianças de 2 meses a 5 anos de idade com pneumonia atendidas no ambulatório. O potencial benefício deveria ser melhor avaliado, considerando os prejuízos e custos de sua realização.
A preocupação em definir a necessidade de se realizar exames complementares diante de quadros clínicos, com o objetivo de oferecer o melhor tratamento e prognóstico ao paciente é um desafio diário para APS. Nos Estados Unidos, aproximadamente 60% das crianças com idade inferior a cinco anos atendidas em APS possui, no mínimo, um Raio-X de tórax. As Diretrizes Brasileiras de Pneumonias em Crianças, publicadas esse ano, destacam a importância da realização conjunta da análise clínica e radiológica diante de uma suspeita de crianças com pneumonia. Isso, porque a radiografia confirma o diagnóstico, avalia a extensão do processo e identifica as complicações (grau de evidência A). Esta revisão sistemática que avaliou a realização de radiografias de tórax em crianças com menos de cinco anos, atendidas ambulatorialmente, em sua maioria, por médicos generalistas, com duração de sintomas inferior a 14 dias (contexto muito semelhante à APS) mostrou não ter modificado o prognóstico e o tratamento. Todas essas considerações são fundamentais, já que a realização de um exame complementar envolve disponibilidade de recursos e custos. No Brasil, em várias Unidades Básicas de Saúde, a realização imediata de radiografias de tórax para crianças com pneumonia comunitária nem sempre é possível. E a espera pelo exame pode atrasar o início do tratamento e agravar a evolução.
Os desfechos avaliados nesta revisão são de interesse para o médico, paciente, familiares e para a saúde pública. Na mais otimista previsão, considerando um intervalo de confiança de 95% para algum potencial benefício da radiografia de tórax, seriam necessárias 6, 9 e 8 radiografias para a recuperação adicional de uma criança em 4, 7 e 14 dias, respectivamente. Similarmente, 13 radiografias seriam necessárias para evitar uma consulta hospitalar e 32 para evitar uma admissão. Considerando essas estimativas, os custos, a escassez de recursos e de evidências sobre os reais benefícios da solicitação de radiografias de tórax, não se justifica a realização rotineira desse exame. No entanto, há necessidade de novos estudos com maior número de crianças e, se possível, definindo de forma mais precisa os riscos da exposição ao exame e os custos implicados nessa solicitação.