Como podemos trabalhar a prevenção do uso de drogas em jovens?

| 17 julho 2009 | ID: sofs-1167
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH:
Graus da Evidência: ,
Recorte Temático:

Cada profissional deve encontrar o momento e maneira mais adequada de abordar o consumo de drogas. Deve-se ter o cuidado de não colocar a questão de uma forma preconceituosa. Uma sugestão é introduzir o assunto no contexto de perguntas sobre hábitos alimentares. De qualquer forma deve-se conhecer o padrão de consumo de drogas de qualquer individuo para o qual se assuma a responsabilidade de cuidados continuados. É importante estabelecer um bom vínculo com o paciente, julgamentos morais impedem o estabelecimento de uma boa relação equipe-paciente, essencial nestes casos. Os profissionais da saúde devem encarar a dependência como doença e não como “falta de caráter”.
A estratégia básica para alcançar bons resultados é utilizar intervenções breves antes que o paciente tenha desenvolvido sintomas maiores na dependência das drogas e, provavelmente uma variedade de problemas associados. Identificando um usuário excessivo de drogas o profissional deve iniciar a abordagem informando o paciente sobre o fator de risco identificado: “Essa quantidade de álcool/droga que o senhor tem feito uso, mesmo que aparentemente não esteja lhe trazendo qualquer tipo de problema neste momento, deixa-o em risco aumentado para uma série de complicações.”
Para conhecimento do profissional que irá abordar este paciente vale lembrar que o uso contínuo de álcool/drogas acarreta diversas alterações metabólicas e lesões orgânicas. Destacamos aqui as alterações do sistema digestivo (gastrite, esteatose, pancreatite, hepatite alcoólica, cirrose,etc.), cardiovascular (arritmia, hipertensão arterial sistêmica, miocardiopatia alcóolica,etc.), sistemas hematopoético, muscular, imunológico, etc. Estudos mostram a coexistência do uso de drogas e a comorbidades psiquiátricas (depressão, personalidade antissocial, mania, etc.). Em relação às alterações no âmbito da vida social, são de elevado impacto e custo social os problemas no emprego, com os amigos, problemas legais, policiais, familiares, financeiros, casos de violência, previdenciários entre outros.
Existem três níveis de prevenção, cada um com os seus objetivos próprios:
A prevenção primária quer evitar ou retardar a experimentação do uso de drogas. Portanto, refere-se ao trabalho que é feito junto aos alunos que ainda não experimentaram, ou jovens que estão na idade em que costumeiramente se inicia o uso.
A prevenção secundária tem como objetivo atingir as pessoas que já experimentaram e que fazem um uso ocasional de drogas, com intuito de evitar que o uso se torne nocivo, com possível evolução para dependeria. Na prevenção secundária o acompanhamento conjunto com especialistas focais muitas vezes é indicado como uma forma preventiva de evitar danos maiores à saúde.
A prevenção terciária corresponde ao tratamento do uso nocivo ou da dependência. Portanto, este tipo de atenção devem ser feita por um profissional de saúde, cabendo a escola identificar e encaminhar tais casos.
Estudos com Grau de Evidência B sinalizam que a internação hospitalar para usuários deste tipo de drogas (crack) não é a melhor opção, o estudo aponta para o trabalho preventivo, social e familiar com estes pacientes.
As diversas formas de tratamento não são excludentes e podem ser empregadas concomitantemente (farmacologia, psicoterapia, abordagem familiar, grupos de auto-ajuda, Alcoólatras Anônimos, grupos religiosos, entre outros).
Estudo de Grau de Evidência A examinou quinze modalidades de tratamentos com usuários de drogas e revelou que os mais eficazes são as terapias cognitivas comportamentais que incluem treinamento de habilidades sociais, reforço comunitário e terapia familiar.

 


Bibliografia Selecionada:

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Coordenação Nacional de DST/Aids. A Política do Ministério da Saúde para atenção integral a usuários de álcool e outras drogas. Brasília: Ministério da Saúde; 2003. (Série B. Textos Básicos de Saúde). Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pns_alcool_drogas.pdf. Acesso em: 06 maio 2015
  2. Duncan BB, Schmidt MI, Giugliani ERJ. Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências. 3a ed. Porto Alegre: Artmed; 2004.
  3. Gallotti RMD. Como abordar pacientes com problemas relacionados ao etanol? Rev Assoc Med Bras. 2002 Jul-Sept;48(3):189-90. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ramb/v48n3/11798.pdf. Acesso em: 06 maio 2015
  4. Meyer M. Guia prático para programas de prevenção de drogas [Internet]. São Paulo: Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein; 2003 [citado 2008 Jul 2]. Disponível em: http://aed.one2one.com.br/alcooledrogas/imagens/Guia_Prevencao_Albert_Einstein.pdf. Acesso em: 06 maio 2015
  5. Ramos SP, Bertolote JM. Alcoolismo Hoje. 3a ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1997.